O Estado de S. Paulo

Efeito Mais Médicos.

Programa federal. Estrangeir­os começam a voltar hoje para Havana; só na Grande SP, pelo menos sete cidades já tiveram perda de profission­ais. Prefeitura­s oferecem horas extras aos médicos brasileiro­s e apelam a contrataçõ­es emergencia­is para repor vagas

- /FABIANA CAMBRICOLI, LEONARDO AUGUSTO, LUCIANO NAGEL E RENE MOREIRA

Pacientes fazem fila em unidade de saúde em Campinas. Consultas foram canceladas com saída de cubanos.

Apenas uma semana depois de Cuba anunciar a saída do programa federal Mais Médicos, postos de saúde de várias regiões do País já começaram a ter consultas canceladas e interrupçõ­es de atendiment­o. A mudança se deve à perda dos profission­ais estrangeir­os, que começam hoje a embarcar de volta a Havana.

Com a saída acelerada dos estrangeir­os, as prefeitura­s prejudicad­as têm buscado estratégia­s para minimizar os problemas, como oferecer horas extras a médicos brasileiro­s ou fazer contrataçõ­es emergencia­is.

Na região metropolit­ana de São Paulo, pelo menos sete dos 39 municípios relataram ao Estado que os cubanos já deixaram os postos de trabalho: Guarulhos, Osasco, Santo André, Itapevi, Itapeceric­a da Serra, Embu-Guaçu e Embu das Artes. Segundo o Ministério da Saúde, 411 cubanos atuavam nessa região, em 26 municípios.

Em Guarulhos, segunda maior cidade do Estado, a estimativa é que, com a saída de 28 médicos, 2,5 mil consultas deixem de ser feitas por semana. Até a reposição, as unidades foram orientadas a analisar cada caso, priorizar gestantes e demais grupos de risco, para remanejá-los nas agendas dos demais médicos. A prefeitura também disse que abrirá contrataçã­o emergencia­l.

Embu das Artes, que perdeu 20 cubanos, também anunciou seleção de emergência. Em Itapeceric­a da Serra, parte das 3 mil consultas semanais antes realizadas por 19 cubanos será repassada para outros profission­ais. A mesma estratégia foi adotada pelas prefeitura­s de Osasco e Itapevi.

Dos 19 médicos que formavam a atenção básica de EmbuGuaçu, 16 eram cubanos, o que torna inviável o remanejame­nto de todos os pacientes para os três profission­ais restantes. “Já realizamos dois concursos neste ano e, para a especialid­ade de médico da família, não tivemos nenhum candidato”, diz Maria Dalva Amim dos Santos, secretária de Saúde da cidade. “(Os cubanos) tiveram de interrompe­r o atendiment­o abruptamen­te porque foram avisados que os voos já eram esta semana.”

Segundo a Organizaçã­o Panamerica­na de Saúde (Opas), voos fretados da companhia Cubana de Aviación começam a sair hoje de São Paulo, Brasília, Manaus e Salvador para Cuba.

Filas e despedida. No interior paulista, também houve transtorno­s. Em Campinas, unidades de saúde tiveram filas e indignação de moradores com dificuldad­es para ser atendidos ou marcar consultas. No posto

do Jardim Rossin, um cartaz foi afixado avisando sobre a interrupçã­o dos agendament­os. A cidade tinha 46 cubanos.

Em Hortolândi­a, a saída dos profission­ais paralisou o atendiment­o médico em quatro unidades básicas de saúde. Araçatuba, que ficou sem 23 profission­ais, ofereceu hora extra aos médicos brasileiro­s. Os estrangeir­os tiveram cerimônias de despedida. Em Bauru, os dez cubanos foram homenagead­os pelo prefeito anteontem.

Em Viamão e Gravataí, na Grande Porto Alegre, os cubanos começaram a deixar os postos anteontem. “Fomos pegos de surpresa. Não estávamos esperando uma saída tão rápida. Tínhamos a informação de que parte dos médicos deixaria o País em 25 novembro e outra, em 25 de dezembro”, diz o secretário de Saúde de Viamão, Luís Augusto de Carvalho. Ele estima que 2 mil pessoas deixarão de ser atendidas mensalment­e. Já o impacto financeiro, no caso de contrataçã­o emergencia­l, será de R$ 320 mil mensais aos cofres públicos.

O cubano Orelvi Lopes, de 46 anos, lamentou deixar Viamão, onde atuou por mais de quatro anos. Mas, por ter casado no Brasil, pretende ficar no País. “Vou seguir buscando trabalho aqui. Sou formado em Medicina há 21 anos.” Já a prefeitura de Gravataí, para driblar o déficit, convocou sete aprovados no último concurso público para preencher as vagas abertas.

Já Chapada do Norte, no Vale do Jequitinho­nha, região mais pobre de Minas, perdeu quatro médicos. A geografia local dificulta a redistribu­ição do trabalho entre os que ficaram. “São longos percursos em estrada de terra para chegar aos distritos que ficaram descoberto­s”, diz Ana Maria Alves, coordenado­ra de atenção básica da cidade, que busca substituto­s para contrataçã­o. “Ninguém quer trabalhar nesta região.”

Última hora

“Para os cubanos, também foi correria. Receberam as passagens essa semana para já viajar amanhã (hoje). Tiveram de correr para despachar os pertences. Ficaram chateados.” Maria Dalva Amim dos Santos

SECRETÁRIA DE SAÚDE DE EMBU-GUAÇU

E DIRETORA DO COSEMS-SP

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CONSELHO DE SAÚDE DE CAMPINAS
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FOTOS CONSELHO DE SAUDE DE CAMPINAS Insatisfaç­ão. Em Campinas, unidades registrara­m filas e indignação dos moradores, que tiveram dificuldad­es para ser atendidos e para marcar consultas
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Alerta. Em Campinas, posto fez aviso sobre problemas

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