O Estado de S. Paulo

Premiê britânica abre brecha para país ficar na UE.

Para pressionar Parlamento a aceitar seu plano de Brexit, premiê do Reino Unido falou pela 1ª vez sobre possibilid­ade de ficar no bloco

- LONDRES / AP,

A primeira-ministra britânica, Theresa May, pressionou ontem o Parlamento do Reino Unido a aceitar o rascunho de seu plano para o Brexit. De acordo com ela, se houver rejeição ao projeto, os britânicos poderiam permanecer na União Europeia.

A fala de May ontem, em uma sessão semanal de perguntas na Câmara dos Comuns, em Londres, foi uma forma de pressionar os parlamenta­res contrários à proposta. Foi a primeira vez em que ela falou da possibilid­ade de o país permanecer no bloco.

O acordo apresentad­o pela primeira-ministra levantou forte oposição de legislador­es do Reino Unido, especialme­nte de políticos em favor do Brexit, que querem fazer uma ruptura total com o bloco. Os opositores dizem que o acordo fará com que o Reino Unido se curve às regras de Bruxelas. Andrew Rosidenell, deputado do Partido Conservado­r, o mesmo de May, pressionou a primeira-ministra a cortar “os tentáculos” da UE que aprisionam o Reino Unido.

Durante a sessão na Câmara dos Comuns, May defendeu uma “relação comercial próxima com a UE” depois do Brexit e advertiu que a rejeição do Parlamento à proposta de acordo do governo poderia causar “incerteza, polarizaçã­o ou pôr em risco o Brexit”.

Depois do interrogat­ório parlamenta­r, May cruzou o Canal da Mancha para se reunir com o presidente da Comissão da UE, Jean-Claude Juncker. May esperava sair de Bruxelas com um acordo, mas não teve sucesso. Ela vai reencontra­r Juncker no sábado, antes de submeter o acordo à aprovação no Parlamento britânico. As preparaçõe­s finais são feitas a tempo de uma cúpula no domingo para assinar o plano final.

Nenhum dos dois lados tem espaço de manobra para polir o texto, mas May precisa mostrar que não deixou nada na mesa se quiser convencer os britânicos do Parlamento a ratificar o acordo.

May é pressionad­a pelos seus aliados da Irlanda do Norte, que são contra o acordo porque dizem que ele enfraquece a soberania da região, e da Espanha, que avisou que pode se opor ao plano apresentad­o em razão de uma questão com Gibraltar, um território britânico ultramarin­o localizado no extremo sul da Península Ibérica.

Dois dos principais ministros de May se demitiram na semana passada, incluindo o seu secretário responsáve­l pelo Brexit, e os membros do Parlamento de todos os partidos se pronunciar­am contra a proposta.

“A Câmara dos Comuns não bloqueará o acordo. Não há maioria para que isso aconteça”, diz o secretário do Trabalho e Aposentado­rias, Amber Rudd. Ele argumenta que os parlamenta­res deveriam apoiar o plano de May, mas outros legislador­es, tanto do partido de May quanto da oposição, estão fazendo lobby por um segundo referendo para tentar reverter o Brexit.

Os funcionári­os do governo agora estariam dispostos a concordar com o esboço da declaração sobre as futuras relações comerciais e de segurança para quando o Reino Unido deixar o mercado único e a união alfandegár­ia da UE, em março.

A oposição ao acordo, no entanto, crescia ontem no campo pró-Brexit. Na segunda-feira, parlamenta­res do Partido Unionista Democrátic­o (DUP), da Irlanda

Otimismo

“A Câmara dos Comuns não bloqueará o acordo. Não há maioria para que isso aconteça” Amber Rudd

SECRETÁRIO DO TRABALHO

DE THERESA MAY

do Norte, se abstiveram em três votações orçamentár­ias na Câmara dos Comuns e votaram contra uma quarta proposta em uma aparente ameaça ao acordo.

Oposição. Deputados conservado­res contra o Brexit também criticaram o divórcio entre Reino Unido e UE, que eles dizem manter o país muito próximo de Bruxelas. Rebeldes liderados pelo parlamenta­r Jacob Ress-Mogg falharam na tentativa de forçar um voto secreto contra a liderança de May, mas avisaram que continuarã­o tentando.

O plano de May para o Brexit projeta uma transição de 21 meses para o divórcio, no qual tanto o Reino Unido quanto a União Europeia querem manter relações comerciais próximas, incluindo uma união aduaneira na Irlanda do Norte.

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MATT DUNHAM/AP Encruzilha­da. May deixa residência oficial para responder a perguntas no Parlamento; legislador­es fazem lobby para segundo referendo
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A chanceler alemã, Angela Merkel, admitiu ontem que não sabe como será resolvido o problema de Gibraltar após o Brexit.

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