O Estado de S. Paulo

Após pressão da Europa, Polônia muda lei

- VARSÓVIA

O governo polonês enviou um projeto de lei para o Parlamento ontem para readmitir os ministros da Suprema Corte que tiveram a aposentado­ria forçada em julho. O partido de extrema direita Lei e Justiça (PiS) vinha tentando impor controle sobre o Judiciário, mas voltou atrás após pressão da União Europeia.

A lei foi introduzid­a em julho e, desde então, 20 juízes, cerca de um terço do total, foram obrigados a se aposentar. Após a emenda de quarta-feira, eles poderão retornar ao trabalho. Especialis­tas em direito dizem que a aposentado­ria forçada viola a Constituiç­ão da Polônia. Isso, junto com a reformulaç­ão do sistema judicial, despertou temores de que o governo polonês estivesse tentando controlar a Justiça.

A decisã ofoi uma vitória pessoa de Malgorzata Gersdorf, presidente do tribunal, que havia se recusado a renunciar, argumentan­do que a Constituiç­ão lhe garante o direito de cumprir um mandato de seis anos.

A iniciativa de ontem é um aceno da Polônia a Bruxelas. Nos últimos meses, a União Europeia pressionou o governo polonês a reverter a decisão. A Comissão Europeia – o braço executivo da UE – argumentou que as reformas prejudicar­iam o Estado de direito, porque dariam ao partido governista o controle político do Judiciário.

A UE remeteu a questão para o Tribunal de Justiça da União Europeia (ECJ, na sigla em inglês), com sede em Luxemburgo, que em outubro ordenou que a Polônia “suspendess­e imediatame­nte” a aplicação da lei, que baixou a idade de aposentado­ria de 70 para 65 anos dos ministros da Suprema Corte.

Na ocasião, o líder do PiS, Jaroslaw Kaczynski, disse que o governo cumpriria a decisão. “Somos membros da União Europeia e vamos respeitar a lei”, afirmou. Analistas, no entanto, disseram que, apesar da vitória da UE, o governo de extrema direita não saiu derrotado.

Nos últimos três anos, o PiS fez importante­s alterações nos tribunais da Polônia: conseguiu nomear a maioria dos juízes para o Tribunal Constituci­onal, que tem o poder de vetar a legislação, e controla o Conselho Nacional do Judiciário (CNJ), órgão que nomeia todos os magistrado­s do país. Além disso, o ministro da Justiça é procurador­geral e tem o poder de nomear e demitir procurador­es.

 ?? ZURAB KURTSIKIDZ­E/EFE ?? Polônia. Jaroslaw Kaczynsk: recuo estratégic­o
ZURAB KURTSIKIDZ­E/EFE Polônia. Jaroslaw Kaczynsk: recuo estratégic­o

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil