Americano é morto a flechada em ilha da Índia
John Allen Chau tinha planos de converter ao cristianismo moradores de ilha isolada; governo proíbe contato com tribo
O americano John Allen Chau, de 27 anos, tinha sonhado com seu retorno às Ilhas Andaman. Ele sabia que o que estava prestes a fazer era perigoso. Mesmo assim, em um pequeno caiaque, seguiu para a ilha remota de Sentinela do Norte. O local, uma das partes mais isoladas da Índia, é habitado por uma pequena e altamente enigmática tribo cujos membros atacam pessoas simplesmente por pisarem em suas praias.
Pescadores locais tentaram convencer Chau a desistir. Até hoje, pouquíssimos conseguiram ir e voltar com vida de Sentinela do Norte, habitada pela tribo frequentemente descrita como a mais isolada do planeta, que rejeita qualquer contato com o mundo exterior. Além disso, uma regulamentação do governo indiano proíbe qualquer interação com os moradores da ilha.
No entanto, Chau não ouviu ninguém. Ele seguiu em seu caiaque com uma Bíblia. O que aconteceu depois ainda não está totalmente claro, mas a polícia indiana diz ter uma certeza: Chau foi morto.
Autoridades indianas disseram ontem que o americano foi atingido por flechas disparadas pelos nativos assim que chegou em terra firme e seu corpo ainda estava na ilha.
Pescadores que o ajudaram no caminho até Sentinela do Norte disseram à polícia que tinham visto membros da tribo arrastando o corpo na praia. “Foi uma aventura no lugar errado”, disse Dependra Pathak, chefe de polícia das Ilhas Andaman e Nicobar. “Ele certamente sabia que entrava em área proibida.”
Pathak diz que Chau era do Estado de Washington e, possivelmente, tentaria converter a tribo ao cristianismo. Pouco antes de partir em seu caiaque, Chau deu aos pescadores uma longa carta. Nela, segundo a polícia, ele escreveu que Jesus havia lhe dado força para ir aos lugares mais restritos da Terra.
As Ilhas de Andaman e Nicobar, no Oceano Índico, são cheias de palmeiras e cercadas por corais. O governo controla o acesso com muito cuidado: muitas das mais de 500 ilhas que formam o complexo têm o acesso proibido.
No dia 14, Chau contratou um barco de pesca em Port Blair, a principal cidade de Andaman, para levá-lo até Sentinela do Norte. Ele esperou escurecer para não ser detectado pelas autoridades.
T.N. Pandit, um antropólogo que visitou Sentinela do Norte várias vezes, entre 1967 e 1991, disse que o povo local – cerca de 50 pessoas que caçam com lanças e flechas feitas de pedaços de metal levados pela maré até suas praias – era mais hostil aos desconhecidos do que outras comunidades indígenas que vivem em Andaman.
Histórico. De acordo com os pescadores que o ajudaram, Chau colocou seu caiaque na água a menos de meio quilômetro da ilha e remou em direção a Sentinela do Norte. Os pescadores disseram que os indígenas atiraram flechas na direção do americano e ele recuou.
Ele teria tentado chegar à ilha várias vezes nos dois dias seguintes, segundo a polícia, oferecendo presentes como uma pequena bola de futebol, uma
Aventura
“Foi uma aventura no lugar errado. Ele certamente sabia que entrava em área proibida, porque já tinha visitado o local ao menos três vezes” Dependra Pathak
CHEFE DE POLÍCIA NAS ILHAS
ANDAMAN E NICOBAR
linha de pesca e uma tesoura. No entanto, na manhã do dia 17, os pescadores disseram que viram os moradores da ilha carregando o corpo do americano.
Sete pessoas que ajudaram Chau a chegar à ilha foram presas e acusadas de homicídio culposo e violações de regras que protegem tribos aborígines. Outro caso foi registrado contra “pessoas desconhecidas” por matar Chau.
Autoridades indianas já disseram, no entanto, que é praticamente impossível processar membros das tribos protegidas em razão da inacessibilidade da área e da decisão do governo de não interferir em suas vidas.
Em um post em um blog escrito há alguns anos, Chau afirmou que já treinou futebol, trabalhou para a American Corps e era um “explorador em seu coração”. A polícia da Índia afirmou que ele já havia visitado Andaman pelo menos três vezes no passado.