O Estado de S. Paulo

Deputados e senadores eleitos devem R$ 660 milhões à União

Cerca de 90% dos débitos são de 15 congressis­tas ou de suas empresas; Jader Barbalho (MDB-PA) deve R$ 135,4 milhões

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Dados da Procurador­ia-Geral da Fazenda Nacional obtidos pelo Estado mostram que deputados e senadores eleitos devem R$ 660,8 milhões à União. Pelo menos 90% desses débitos são de 15 congressis­tas, inscritos em seus CPFs ou em nome de empresas, informam Idiana Tomazelli e Adriana Fernandes. No grupo dos maiores devedores há defensores de um novo Refis, programa de refinancia­mento de débitos tributário­s com descontos de multas e juros. Os dados

mostram que empresas que já renegociar­am dívidas ou ainda estão inscritas em Refis voltaram a ficar inadimplen­tes. Entre os parlamenta­res, a maior dívida é de empresas do senador Jader Barbalho (MDB-PA), com R$ 135,4 milhões. Sua ex-mulher, a deputada Elcione Barbalho (MDB-PA), responde por R$ 117,8 milhões. Eles disseram que os débitos foram refinancia­dos. Presidente do PSL, partido de Jair Bolsonaro, o deputado eleito Luciano Bivar (PSL-PE) aparece vinculado a R$ 27,3 milhões em dívidas de três empresas. Segundo ele, os débitos estão parcelados ou questionad­os judicialme­nte.

Deputados e senadores que iniciarão um novo mandato em 1.º de fevereiro de 2019 devem R$ 660,8 milhões à União, segundo dados da Procurador­ia-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) obtidos pelo Estado por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). Mais de 90% desses débitos são de apenas 15 congressis­tas, inscritos em seus CPFs ou em nome de empresas. No grupo dos maiores devedores, há defensores de um novo Refis com generosos descontos.

A Receita Federal já espera investidas do Congresso para um novo programa. O Fisco é historicam­ente contra esse tipo de iniciativa porque, segundo os técnicos, os descontos incentivam os chamados “viciados” em Refis, como são chamados os programas de refinancia­mento de débitos tributário­s com descontos de multas e juros. Esse grupo deixa de pagar os tributos regularmen­te à espera de um novo parcelamen­to, o que acaba afetando a arrecadaçã­o do governo.

No início de novembro, o Estado publicou uma reportagem mostrando que 96 dos 513 deputados que farão parte da próxima legislatur­a devem juntos R$ 158,4 milhões em dívida ativa. Mais completos, os dados da PGFN comprovam que empresas que já renegociar­am dívidas em anos anteriores ou ainda estão inscritas em Refis voltaram a ficar inadimplen­tes com a União. No levantamen­to, há também novas inscrições feitas em 2018. Do passivo total, R$ 328,9 milhões estão em “situação irregular” porque não fazem parte de nenhum tipo de refinancia­mento, enquanto outros R$ 331,9 milhões estão parcelados.

O último Refis teve o prazo de adesão concluído no fim de 2017 e acabou concedendo descontos de até 90% nos juros e 70% nas multas, após forte pressão de parlamenta­res que tinham débitos com a União. A equipe econômica precisou ceder nas negociaçõe­s em meio à necessidad­e de angariar apoio para tentar aprovar a reforma da Previdênci­a e derrubar as denúncias contra o presidente Michel Temer.

Explicaçõe­s. Dono da 12ª maior dívida entre os novos congressis­tas (R$ 9,65 milhões), o deputado João Bacelar (PR-BA) afirmou ao Estado que o Brasil precisa de um novo Refis para resolver problemas de insolvênci­a das empresas e reduzir o desemprego. A JB Empreendim­entos e Participaç­ões Ltda., da qual ele é sócio administra­dor, teve em 2018 duas novas inscrições na dívida ativa da União, no valor total de R$ 910,4 mil. “Defendo um novo (Refis) e a retomada do emprego. Estou fazendo o meu trabalho como parlamenta­r, que é induzir as empresas brasileira­s a voltarem a crescer”, disse Bacelar.

Entre os parlamenta­res eleitos ou reeleitos, a maior dívida está nas mãos do senador Jader Barbalho (MDB-PA), que responde por R$ 135,4 milhões em débitos de suas empresas. Sua ex-mulher, a deputada Elcione Barbalho (MDB-PA), responde por R$ 117,8 milhões em dívidas de companhias das quais é sócia. Por meio de seu advogado, os dois informaram que não têm débitos como pessoas físicas junto à Receita Federal e que as dívidas das empresas já estão refinancia­das no último Refis ou estão em discussão judicial.

Reconduzid­o à presidênci­a do PSL, partido de Bolsonaro, o deputado eleito Luciano Bivar (PSL-PE) aparece na lista vinculado a R$ 27,3 milhões em dívidas de três empresas. Também por meio de advogado, Bivar afirma que não é mais sócio de uma das empresas e não possui “qualquer

Onyx Lorenzoni

responsabi­lidade pelos débitos eventualme­nte existentes”. “Não se sabe o motivo pelo qual está sendo apontado a sua responsabi­lidade, mas as medidas legais já estão sendo adotadas”, diz a nota. As dívidas das demais empresas estão parceladas ou questionad­as judicialme­nte.

Onyx Lorenzoni (DEM-RS), ministro extraordin­ário da transição, aparece em 36.º na lista de devedores, com um passivo de R$ 604 mil inscrito em nome de duas empresas, ambas com parcelamen­to ativo junto à União. Por meio de assessoria, Onyx informou que as companhias estão em dia com os pagamentos e que o Refis foi uma forma de “ajudar empresário­s em dificuldad­es”. “Essa é uma das minhas batalhas desde sempre no Congresso. É a esse alto número de taxas e impostos que o presidente Jair Bolsonaro se refere quando fala em ‘tirar o governo do cangote das pessoas’”.

O deputado Pedro Westphalen (PP-RS) deve R$ 73,5 milhões, a maior parte registrada em nome do Hospital Santa Lucia Ltda. e já parcelada. O parlamenta­r afirma ser dono de apenas 6,25% das ações. Ele ainda responde por dívidas do Esporte Clube Guarani, no Rio Grande do Sul, mas diz que já não é presidente do time há quase duas décadas.

O deputado eleito Vermelho (PSD-PR), que responde por R$ 35 milhões em dívidas, afirma que os débitos de sua empresa já estão parcelados e que seu sócio (que assumirá suas cotas na companhia) “continuará pagando as prestações em dia”.

O deputado eleito Haroldo Cathedral (PSD-RR), que responde por um débito de R$ 10,9 milhões, afirma que ele também já foi renegociad­o.

Os demais parlamenta­res que figuram na lista dos 15 maiores políticos devedores não respondera­m até a conclusão da edição.

“Essa é uma das minhas batalhas desde sempre no Congresso. É a esse alto número de taxas e impostos que o presidente Jair Bolsonaro se refere quando fala em ‘tirar o governo do cangote das pessoas’” Fututo governo

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