O Estado de S. Paulo

UE sela Brexit e pressiona britânicos por aprovação

Etapa. Negociação para a votação na Câmara dos Comuns deve ser difícil, uma vez que Partido Conservado­r, que tem a maior bancada, está dividido sobre o tema e oposição fala em votar contra o pacto, que Theresa May qualifica de “o melhor possível”

- BRUXELAS

Líderes europeus assinaram ontem em Bruxelas o acordo que sela a saída do Reino Unido da União Europeia e, em aparente tentativa de pressionar o Parlamento britânico a aprová-lo em dezembro, alertaram que a única alternativ­a é um Brexit não negociado, potencialm­ente desastroso para o país. A decisão coloca o Reino Unido em nova rota após quatro décadas de participaç­ão política e econômica no bloco. A primeira-ministra britânica Theresa May precisa de 320 dos 650 votos para aprovar o acordo. A chanceler alemã Angela Merkel declarou estar triste, mas “aliviada”. Para o líder francês Emmanuel Macron, os custos serão “gigantesco­s”.

Líderes europeus assinaram ontem em uma reunião em Bruxelas o acordo que sela a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) e, em uma aparente tentativa de pressionar o Parlamento do país a aprová-lo em dezembro, alertaram os britânicos de que a única alternativ­a ao pacto é um Brexit não negociado – potencialm­ente desastroso para o arquipélag­o.

A assinatura do divórcio coloca o Reino Unido numa nova rota, separada da União Europeia, após quatro décadas de participaç­ão política e econômica do país no bloco. O pacto, criticado tanto por facções do partido da primeira-ministra Theresa May quanto pela oposição, traz prejuízos para ambos os lados e deixa o Reino Unido num limbo legal, obrigado a seguir ainda algumas regras da UE sem ser um membro formal do bloco.

Agora, o desafio da chefe de governo britânica será a votação no Parlamento. Cerca de 90 parlamenta­res dos 316 do Partido Conservado­r, liderado por May, devem votar contra o pacto na Câmara dos Comuns. O Partido Trabalhist­a, o Partido Nacionalis­ta Escocês e o Partido Liberal Democrata também se opõem ao acordo. A premiê precisa de 320 votos de 650.

O que acontecerá se o Parlamento rejeitar o acordo ainda não está claro. May pode tentar votá-lo outra vez, mas também pode ser desafiada no cargo ou até mesmo enfrentar novas eleições. Há uma nascente pressão por um novo referendo, mas isso ainda é improvável, segundo analistas.

Partidário­s do Brexit querem uma renegociaç­ão para obter termos mais favoráveis, mas líderes da UE já deixaram claro aos negociador­es britânicos que não há margem de manobra e o Parlamento deve aceitar o que está na mesa. A alternativ­a seria apenas uma saída sem acordo, o que pode dar início a uma crise e até mesmo colocar o Reino Unido diante de uma escassez de importaçõe­s, principalm­ente de remédios.

“O Brexit é provavelme­nte algo mais importante para os britânicos do que para a UE”, disse o professor de história contemporâ­nea da Universida­de de Stirling Holger Nehring. “A percepção no continente sempre foi de que o Reino Unido era um corpo estranho, mais próximo dos Estados Unidos do que da Europa.”

Tristeza. Qualificad­o de “histórico” pela chanceler alemã, Angela Merkel, o acordo foi aprovado pelos representa­ntes dos 27 países da UE em menos de uma hora. “Estou com os sentimento­s divididos. Estou muito triste, mas ao mesmo tempo aliviada”, disse Merkel.

Questionad­a se compartilh­ava dessa tristeza, May foi lacônica: “Não, mas sei que outros compartilh­am”. A primeira-ministra britânica afirmou que cabe agora ao Parlamento ratificar o acordo, que na visão dela é o melhor possível que foi negociado para o país.

Pelos termos do pacto, o Reino Unido terá de arcar com US$ 50 bilhões em compromiss­os financeiro­s para deixar o bloco. Permanecer­á atada a algumas regulações da UE em algumas áreas por anos e a capacidade de negociar acordos comerciais com outros países – uma das demandas dos partidário­s do Brexit – será restrita. Ao mesmo tempo, o país não será mais obrigado a permitir que cidadãos da UE vivam e trabalhem em suas fronteiras, o que tem sido vendido por May como uma grande vitória.

Reações. “Os custos serão gigantesco­s”, avaliou o presidente francês, Emmanuel Macron. “Aqueles que disseram que o Reino Unido pouparia bilhões de libras com o Brexit mentiram.”

Os negociador­es de ambos os lados ainda terão de detalhar os termos da futura relação. Apesar do esboço do acordo e da declaração política divulgada na semana passada, muito permanece sem solução, até mesmo a liberdade do Reino Unido de controlar vários setores de sua economia.

Boris Johnson, ex-chanceler e líder da campanha pelo Brexit, disse que o país está “à beira de um fracasso histórico” e acusou May de dar muito poder a Bruxelas na negociação. O líder trabalhist­a Jeremy Corbyn falou em “um fracasso que deixa (os britânicos) com o pior dos dois mundos”.

“Ninguém ganhou. Todos estamos perdendo com o Brexit”, resumiu o premiê holandês, Mark Rutte.

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DYLAN MARTINEZ/REUTERS Reino Unido. Theresa May agora precisa de 320 votos para aprovar o texto, tarefa árdua

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