O Estado de S. Paulo

RÉVEILLON NA ESTRADA PARA VER A POSSE

Transmissã­o de cargo ao presidente eleito, Jair Bolsonaro, tem atraído caravanas a Brasília

- Gilberto Amendola

Um réveillon na estrada, com direito a ceia improvisad­a, espumante para ser consumida com moderação e orações para o momento da virada. Essa é a programaçã­o da caravana organizada pela técnica em segurança do trabalho, Márcia Cristina, 52 anos, para acompanhar a posse do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) no dia 1.º de janeiro.

Por R$ 240 por pessoa, o grupo de Márcia vai sair de São Paulo no dia 31 de dezembro e, depois de 14 horas de viagem, chegar a Brasília. O esquema será o de bate-volta, sem hospedagem, porque, segundo a organizado­ra, “muita gente trabalha já no dia 2 de janeiro”. A expectativ­a é de que os 45 assentos estejam ocupados por apoiadores de Bolsonaro – em geral por aqueles que estiveram nas manifestaç­ões pelo impeachmen­t da presidente cassada Dilma Rousseff e que atuaram pesado nas redes sociais, principalm­ente pelo WhatsApp, pela candidatur­a do capitão. “No nosso grupo tem gente jovem, aposentado­s e empreended­ores. Nós batalhamos muito por essa eleição, merecemos fazer essa viagem em ritmo de festa”, disse Márcia.

Assim como o grupo de bolsonaris­tas de São Paulo, outras caravanas sairão por todo o País. De Crateús, no interior do Ceará, terra do sogro de Jair Bolsonaro, Vicente de Paulo – chamado pelo presidente eleito de “Paulo Negão” – devem sair pelo menos dois ônibus e mais de 90 pessoas. Neste caso, cada participan­te vai desembolsa­r R$ 380. A hospedagem não será paga. O grupo irá se dividir entre casas de parentes e amigos. A expectativ­a é que a viagem dure mais de 40 horas.

A caravana está sendo organizada pelo Movimento Avança Crateús, criado em 2016 pelo Cabo da PM Rodrigues Júnior. Ele ficou conhecido na região por manter um programa no Facebook em que defende Bolsonaro e suas principais bandeiras. “A região era muito petista, mas a gente conseguiu virar muitos votos durante as eleições”, disse.

O movimento também atuou no WhatsApp e criou um ponto de apoio físico para abastecer a campanha de camisas, adesivos, broches e outros materiais. A aposentada Isaura Souza, 70 anos, é presença confirmada na caravana. “Meu sonho é dar um abraço no presidente”, afirmou. Os apoiadores da cidade prometem levar uma faixa em homenagem à futura primeirada­ma, Michelle Bolsonaro.

Já da cidade de Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte, partirá uma caravana mais pragmática. Organizada pelo agente de viagens Wanderson Mendonça, ela oferecerá ônibus e duas diárias em um hotel de Brasília. “Vai sair R$ 750 por pessoa. Por enquanto, vendi 8 pacotes. Pra valer a pena, preciso comerciali­zar 40. Se não chegar a esse número, vou cancelar a caravana”, disse Mendonça. “Minha agência é especializ­ada em levar concurseir­os (pessoas que prestam concursos públicos) para Brasília. Sou neutro em política. Da minha parte, é só negócio”, completou.

De Minas Gerais sairá mais uma caravana empolgada com o desfecho das eleições. A associação dos Militares e ex-Integrante­s das Forças Armadas de Minas Gerais, presidida por Walfredo Rodrigues Filho, pretende levar simpatizan­tes e familiares de militares para a posse. A entidade está oferecendo dois pacotes: sem hospedagem (R$ 399) ou com hospedagem (R$590). “Vamos enfrentar 30 horas de viagem porque estamos acreditand­o nesse novo momento do País, nessa virada”, comentou Rodrigues.

Voo. Mas não é só de ônibus que o apoiador de Jair Bolsonaro pretende chegar a Brasília. Uma operadora de viagens do Rio Grande do Sul, a UneWorld, está oferecendo um pacote para o evento – com passagens aéreas de ida e volta, com transfer para o hotel, e hospedagem a partir de R$ 2.290. “As agências nos procuraram para desenvolve­r esse pacote porque várias pessoas estavam ligando e pedindo essa opção. Me pareceu inusitado – principalm­ente em se tratando da data. As pessoas estão abrindo mão de passar o réveillon com a família para acompanhar a posse. Acho que esse é um momento de esperança mesmo”, disse Sabrina Saraiva, diretora comercial da UneWorld.

Até o fechamento dessa edição já haviam sido vendidos 16 pacotes e feitas outras 5 reservas – a expectativ­a da operadora é a de vender 100. A movimentaç­ão em torno da posse de Bolsonaro também movimentou o mercado de hotelaria em Brasília. O setor espera ocupação de aproximada­mente 80% dos quartos. “Fim de ano costuma ser um período de baixa para os hotéis de Brasília. O movimento mais comum é o de saída da cidade. O que está acontecend­o agora não aconteceu em nenhuma outra posse recente”, comentou a presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Distrito Federal (ABIH-DF), Adriana Pinto.

“Nós batalhamos muito por essa eleição, merecemos fazer essa viagem em ritmo de festa.” Márcia Cristina TÉCNICA EM SEGURANÇA DO TRABALHO

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO-23/11/2018 Rua. Márcia Cristina participou de atos pró-impeachmen­t
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DHILDO OLIVEIRA-23/11/2018 Caravana. Grupo de Cratéus se organiza para ir a Brasília

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