Acordo contestado reflete personalidade da premiê britânica
SÃO JORNALISTAS
Pode ser doloroso assistir ao desdém e ao escárnio que recaíram sobre a solitária primeira-ministra britânica – e ainda assim as críticas continuavam. Porque este é o Brexit dela. Aconteça o que acontecer, bem ou mal, este notável momento será uma realização de Theresa May.
Nas últimas semanas, assim que revelou e defendeu seu plano para sair da União Europeia (UE) devagar, May foi acusada de ser contraditória e traidora da causa. May disse que estava “fazendo a coisa certa, não a coisa fácil” e insistiu que é ela quem “verá isso (Brexit) ser levado a cabo”.
Aqueles que a observaram ao longo dos anos dizem que é o estilo de governo de May, seu caráter e sua maneira de ver o mundo que produziu esta versão do Brexit, tanto quanto quaisquer linhas vermelhas traçadas pelos negociadores europeus.
May pode ser inabalável ou persistente, além de ser reservada e durona, segundo aliados e críticos. Ela pode ser uma desajeitada ativista, uma oradora sem inspiração que adere a um roteiro. Não há nada exuberante ou extravagante sobre ela, exceto seus sapatos com estampa de leopardo. Ela não suporta falar sobre seus sentimentos. Ela ouve, estuda, decide e depois não pode mudar de ideia. Ela é toda dedicada aos detalhes, ao processo. May não é uma grande figura.
E, assim, esse Brexit estudado, cauteloso, prático e provinciano é muito parecido com a própria primeira-ministra. Está a quilômetros de distância do tipo de Brexit cinematográfico pelo qual ansiava o ex-ministro de Relações Exteriores Boris Johnson. É por isso que o Brexit de May é um anátema para os “tories” defensores ferrenhos do divórcio com Bruxelas, que na semana passada ameaçaram um golpe parlamentar que tinha como meta privá-la do poder – porque a visão de May vincula o Reino Unido às regras da UE por anos.
O acordo do Brexit de May sobreviveu às duas últimas tumultuadas semanas. Isso nos diz alguma coisa. O acordo de quase 600 páginas, que define os termos para a saída do Reino Unido da UE em 29 de março, foi aprovado pelos líderes dos 27 Estados membros da UE em Bruxelas, ontem. Agora, retorna para uma votação em dezembro no Parlamento britânico, onde novamente seus críticos dizem que está condenado.
Mas está mesmo? Tim Shipman, editor político do Sunday Times e autor do best-seller All Out War, sobre o Brexit, disse que “não se sabe se ela habilmente guiou a nação para uma posição de segurança ou se, por ser reservada e teimosa – e ao mesmo tempo aborrecendo alas inteiras de seu partido –, afundou e levou o resto do Reino Unido junto.”
Aqueles que a conhecem melhor, incluindo antigos assessores, dizem que a primeira-ministra nunca concordou com a ideia de que o Brexit poderia ser um renascimento glorioso. May, que votou para permanecer na UE, disse que seu acordo “traz de volta o controle das fronteiras, do dinheiro e das leis”. Sua linguagem revela um Brexit defensivo, um Brexit menos pessimista, um Brexit ansioso, um Brexit melhor que nada.
Rosa Prince, autora de Theresa May: The Enigmatic Prime Minister, disse que o estilo inflexível de May nem sempre foi bem aceito pelos colegas de Westminster, mas que o público passou a admirar sua coragem. May “parece tranquilizadora e madura”, disse. “Finalmente alguém que está preparado para assumir a responsabilidade pelas coisas e mostrar alguma liderança.