O Estado de S. Paulo

Estados recrutam equipe para renegociar dívidas

Governador­es eleitos de MG e RS escolhem secretário­s de Fazenda de olho na possibilid­ade de adesão a programa federal de repactuaçã­o de débitos

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA COLABORARA­M ALTAMIRO SILVA JÚNIOR e MARCELO OSABAKE

De olho no programa de socorro da União para amenizar a grave situação financeira dos dois Estados, os governador­es eleitos de Minas Gerais e Rio Grande do Sul escalaram como secretário­s de Fazenda técnicos que acompanhar­am de perto negociaçõe­s referentes ao Regime de Recuperaçã­o Fiscal (RRF), ao qual agora terão de aderir para ganhar algum fôlego e conseguir colocar os salários dos servidores em dia.

Em Minas, Romeu Zema (Novo) escolheu Gustavo Barbosa, que ocupou a Secretaria de Fazenda do Estado do Rio entre julho de 2016 e o início deste ano, período em que conduziu o processo de adesão do governo fluminense ao RRF.

No Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) nomeou Marco Aurélio Santos Cardoso, funcionári­o de carreira do BNDES, que foi secretário de Fazenda da prefeitura do Rio durante a gestão de Eduardo Paes e depois aconselhou o deputado Pedro Paulo (DEM-RJ) na relatoria do projeto que originou a Lei Complement­ar 159, que criou o Regime de Recuperaçã­o Fiscal.

Reação. A sinalizaçã­o foi bem recebida na área econômica do governo federal, que já tem negociado com o governo gaúcho a possibilid­ade de ingresso no RRF, mas nunca foi procurada por Minas. Comandado por Fernando Pimentel (PT), o Estado sempre resistiu a negociar o socorro com a União, sobretudo por causa das resistênci­as em vender a Cemig, estatal de energia elétrica que é considerad­a a “joia da coroa” mineira.

A avaliação é que as negociaçõe­s serão duras, principalm­ente diante das contrapart­idas de ajuste fiscal previstas no programa, mas que a experiênci­a dos secretário­s pode auxiliar nesse processo e ajudar a contornar obstáculos já enfrentado­s nas discussões passadas.

Zema confirmou, na última quinta-feira, em evento do BTG Pactual, que pretende aderir ao regime de recuperaçã­o fiscal e tem a intenção de concluir o processo ainda no primeiro semestre de 2019. Já o governador eleito do Rio Grande do Sul tem dito que pretende aderir, mas fará uma análise crítica dos termos que vinham sendo negociados até então.

Experiênci­a. À frente da Secretaria de Fazenda do Rio, Barbosa teve de desfazer a contabilid­ade criativa praticada pelo Estado para maquiar o estouro do limite nas despesas com pessoal. Além disso, precisou vencer a resistênci­a de políticos locais para colocar à venda a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), uma das exigências para a adesão ao regime.

O acordo com o Rio foi assinado em setembro do ano passado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que à época era presidente da República em exercício. Após meses de negociaçõe­s, a homologaçã­o ocorreu apesar de uma série de ressalvas feitas pelo Tesouro Nacional e gerou mal-estar na área econômica do governo federal.

No caso do Rio Grande do Sul, Leite já vinha conversand­o com Paes há algumas semanas sobre a possibilid­ade de indicar Cardoso para ser seu secretário de Fazenda, segundo apurou o Estadão/Broadcast. Pesou a favor o fato de o economista conhecer de perto os detalhes do programa, uma vez que o governador gaúcho eleito já indicou que pretende acelerar o processo de adesão.

Para isso, o governo gaúcho também terá de reconhecer a maquiagem nas suas contas. No último boletim divulgado pelo Tesouro Nacional sobre as finanças dos Estados, os gaúchos apontavam um comprometi­mento de 56,12% da Receita Corrente Líquida (RCL) com folha de pagamento – abaixo do limite de 60%. Mas os técnicos do governo federal apontam que esse porcentual é muito maior, de 69,14%.

O atual governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, chegou a encaminhar uma consulta ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) para decidir se poderia apresentar os números usando outro método de apuração. Os conselheir­os respondera­m que o governo ficaria sujeito a punições, mas abriu um grupo de trabalho para revisar as resoluções do próprio tribunal, que hoje dão suporte à maquiagem nas contas.

Leite já afirmou que pretende privatizar as empresas de energia ainda em poder do Estado (CEEE, Sulgás e Companhia Riogranden­se de Mineração), mas que manterá o controle do Banrisul, ativo mais valioso do governo gaúcho. /

 ?? DHAVID NORMANDO / SEFAZ RJ ?? Desafio. Barbosa: convite para MG após experiênci­a no Rio
DHAVID NORMANDO / SEFAZ RJ Desafio. Barbosa: convite para MG após experiênci­a no Rio

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil