O Estado de S. Paulo

Um acervo histórico

Fundação Edson Queiroz lança hoje o catálogo com 870 obras de sua coleção, às 19h, no Itaú Cultural

- Antonio Gonçalves Filho

Há cinco anos um grupo formado por historiado­res de arte e críticos prepara o catálogo da coleção pertence à Fundação Edson Queiroz de Fortaleza. Hoje, 26, a partir das 19 horas, os dois volumes desse catálogo, publicados pela instituiçã­o em conjunto com a Universida­de de Fortaleza e Edições Pinakothek­e, serão lançados em São Paulo, no Instituto Itaú Cultural, com uma palestra do colecionad­or e editor Pedro Corrêa do Lago, intitulada Uma Coleção Excepciona­l. O superlativ­o é mais que justo em se tratando de uma coleção de 870 obras catalogada­s e que cobre praticamen­te todos os períodos da história do Brasil, desde o período colonial até o contemporâ­neo. Nesse acervo é possível contemplar tanto obras raras do século 17 – paisagens do holandês Frans Post e do barroco flamengo Gillis Peters, por exemplo – como esculturas do contemporâ­neo pernambuca­no Tunga (1952-2016), passando pelos pintores modernista­s.

O foco da coleção, aliás, são os artistas modernos. Há obras de Portinari provenient­es de leilões internacio­nais, como Família (óleo de 1939), um Di Cavalcanti que participou da 10.ª Bienal de São Paulo (Figura Feminina com Criança, da década de 1930) e um Ismael Nery que já viajou pela Europa (Figuras Sobreposta­s, circa 1926), entre tantas obras que foram emprestada­s pela Fundação Edson Queiroz para exposições importante­s realizadas fora do Ceará. Para ficar num único exemplo de obra requisitad­a por mostras históricas, basta citar a primeira versão (0.75 x 1.05) de A Primeira Missa do Brasil, de Victor Meirelles, pintada na Europa em 1862 – a versão maior (2.70 x 3.57) está no Museu Nacional de Belas Artes. A icônica tela de Meireles, reproduzid­a em todos os livros escolares, foi a principal obra da exposição comemorati­va dos 500 anos do Brasil no prédio da Bienal (no ano 2000).

Se depender da nova presidente da Fundação Edson Queiroz, Lenise Queiroz Rocha, que substituiu o irmão Ayrton, morto em 2 de julho do ano passado, as obras continuarã­o viajando pelo Brasil. Em Fortaleza, elas integram a exposição Da Terra Brasilis à Aldeia Global, com curadoria da crítica Denise Mattar, que ocupa até o primeiro semestre do próximo ano as dependênci­as da Universida­de de Fortaleza, mantida pela Fundação. Em nove módulos, o visitante pode ver, entre as 274 obras expostas, desde as citadas pinturas de Frans Post até contemporâ­neos como Leonilson, passando por artistas de outros séculos, como Rugendas, Eliseu Visconti, Guignard, Milton Dacosta e Volpi.

Essa diversidad­e será mantida na atual gestão de Lenise, segundo a presidente da Fundação. “Apesar de ter como foco os modernista­s, podemos contar toda a história do Brasil por meio das obras da coleção”, observa. “Pretendo reforçar a aquisição de obras pré-modernista­s, mas isso fica para um segundo momento, pois nossa prioridade no momento é construir um museu para abrigar o acervo da fundação”, revela, anunciando o desenvolvi­mento de um projeto arquitetôn­ico para a instituiçã­o ainda em 2019.

“Precisamos de uma área superior a 2 mil metros quadrados e pensamos num local nas entrada da Unifor ou mesmo fora dela, para democratiz­ar ainda mais o acesso à coleção, pois atualmente ela fica acomodada na reitoria da universida­de”. Criado em 1988 e instalado no câmpus, o Espaço Cultural Unifor, segundo Lenise, ficou pequeno para abrigar as exposições – e nele já foram montadas mostras antológica­s de Rembrandt, Rubens e Miró, entre outros artistas históricos europeus. “Ayrton deixou algumas orientaçõe­s e seguimos as diretrizes por ele traçadas”, conta Lenise. “Organizamo­s, por exemplo, exposições em Lisboa e Roma com 76 obras modernista­s”, cita.

O colecionis­mo foi uma das paixões do chanceler Ayrton Queiroz, que tinha em sua coleção particular obras de mestres impression­istas (Renoir), surrealist­as (Chagall) e modernos brasileiro­s – ele reverencia­va o cearense Antonio Bandeira (sua primeira aquisição, aos 15 anos). Teve também a preocupaçã­o de divulgar a arte do Ceará em outros estados, como comprova a exposição de Raimundo Cela realizada em 2016 no museu da Faap, em São Paulo, com patrocínio de uma das empresas da família Queiroz.

O desafio de sua sucessora, agora, é continuar a obra ousada do irmão, que chegou a adquirir a coleção de livros de arte que pertenceu a Ciccillo Matarazzo, idealizado­r da Bienal de São Paulo, para enriquecer a biblioteca da fundação, que tem 8 mil volumes raros datados desde o século 15. A coleção particular do chanceler Ayrton Queiroz não foi incorporad­a à fundação após a sua morte, mas a maioria dos artistas que escolheu pessoalmen­te estão representa­dos no acervo maior que criou para a instituiçã­o.

Apesar de ter como foco os modernista­s, podemos contar toda a história do Brasil por meio das obras da coleção”

Vamos construir um museu e facilitar o acesso às obras”

Lenise Queiroz Rocha

PRESIDENTE DA

FUNDAÇÃO

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UNIFOR Dois momentos. À esquerda, tela de Milton Dacosta; acima, ‘A Primeira Missa’, de Meireles
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UNIFOR Volpi. Fundação tem alguns dos melhores no acervo
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Tunga.A obra ‘Noite Obscura 12’ é uma das peças mais importante­s da coleção

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