Conquista merecida
Não há alegria maior para um torcedor do que festejar uma conquista do seu time. Hoje quem faz isso é o torcedor do Palmeiras, que mereceu ganhar o Campeonato Brasileiro, com recorde de jogos seguidos sem perder, com um elenco mais recheado do que os concorrentes, com jogadores envolvidos e com um treinador que se identifica com o clube. De todos os envolvidos na conquista, contudo, não há quem mais mereça o título do que o torcedor palmeirense, aquele que fecha ruas em dias de jogos, que tira sua camisa do armário independentemente do tamanho da confiança na vitória, aquele que às vezes passa da conta na cerveja para comemorar os três pontos ou os pontos perdidos. Também aquele que acompanha a saga de longe, por esse Brasil afora, pela televisão aberta, fechada, internet ou pelo bom e velho (mas sempre vivo) radinho de pilha.
Foi assim que aprendi a gostar de futebol, ajudando meu pai a lavar seu Fuscão branco 71 na frente de casa ouvindo a narração de jogos de futebol aos sábados e domingos. Tudo acontecia no rádio. Com a minha idade, naquela época, só conseguia esguichar água nas calotas, mas sempre com os jogos de futebol ao fundo.
Meu pai conta que eu corria com o dedo atrás da bola nas partidas de futebol pela televisão. Foi assim que acompanhei a Copa do Mundo de 70, ainda sem conhecer e saber quem era Pelé, e todos os outros da seleção. Sem conhecer ainda Ademir e a Academia.
Torcer faz parte da vida do brasileiro, apaixonado que é por futebol, a ponto até de brigar (isso tem de acabar) por ele. O torcedor palmeirense comprou esse time desde o começo do ano. Soube esperar, teve paciência, roeu as unhas, mas não se perdeu quando a equipe ficou para trás na Copa do Brasil nem na Libertadores. Muitas vezes apertou o cinto, fez economia, para poder comprar seu ingresso do jogo.
Lamentou e festejou. Mais festejou do que lamentou nesta temporada. E agora faz festa, merecida, uma grande celebração, mesmo que fora de casa, em São Januário, cantada por muitos antes mesmo da hora, animados e confiantes que estavam com os resultados e, consequentemente, conquista. Ganhar a 10.ª taça de Campeonato Brasileiro representa muito para a torcida do Palmeiras. Quem foi aos jogos na arena, ou mesmo quem viu as partidas pela televisão, testemunhou boas apresentações, dedicação, superação em campo, entrega até a última gota de suor. Por vezes não jogou tão bem. As conquistas sempre escondem os problemas, mas é preciso dizer que nem sempre foi tudo alegria. Demitir Roger Machado em meio à temporada não faz parte da boa gestão, mesmo para trazer Felipão. O Palmeiras campeão brasileiro vacilou em alguns momentos, como no empate diante do Paraná em Londrina. Mesmo assim, o torcedor nunca desanimou, jamais duvidou, não desistiu. Para esse palmeirense, devemos tirar o chapéu. É para esse palmeirense que o time deve jogar bem sempre. Com entrega.
A conquista, aposta o torcedor, não vai acabar nela mesma. O clube tem por tradição abrir ciclos para erguer taças, colocar troféus seguidos na estante. Tem sido assim nas últimas décadas. Lá atrás, engatou duas conquistas, quando ganhou os Brasileiros de 1972 e 1973, a segunda e terceira edições da disputa criada em 1971, que teve o Atlético-MG como primeiro vencedor. Depois, brilhou em 93 e 94, sob o comando de Luxemburgo e craques de dar saudades, muitos deles ainda na memória afetiva do palmeirense. Então, 2018 pode abrir caminho para novas conquistas, sobretudo se pouca coisa mudar em 2019. Felipão fica. A maioria dos jogadores também. Os reforços serão pontuais, escolhidos a dedo. A 10.ª taça tem tudo para se transformar em 11.ª, 12.ª, 13.ª...
Palmeiras vive ciclo de vitórias que não acaba na conquista do Brasileirão