O Estado de S. Paulo

Megaleilão do pré-sal é alvo de disputa entre atual e futuro governo

Equipe de Paulo Guedes é a favor da destinação a Estados e municípios de 20% da arrecadaçã­o

- Renan Truffi Adriana Fernandes / BRASÍLIA

A destinação a Estados e municípios de 20% dos recursos arrecadado­s com o megaleilão do pré-sal – estimados em R$ 100 bilhões – gerou uma crise entre o Congresso, a equipe econômica de Michel Temer e a do governo de transição de Jair Bolsonaro. O grupo liderado pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, apoia a partilha, por considerar que a verba extra diminuiria a pressão dos governador­es eleitos por socorro federal. A atual equipe econômica diz que a divisão de recursos prejudicar­á o Orçamento de 2019. O tema deve ser levado a votação hoje no Senado. Outro projeto, de autoria de Eunício Oliveira (MDB-CE), que concede benefícios fiscais a empresas localizada­s nas áreas de atuação da Sudene e da Sudam, entrou na mesa de negociação para a aprovação do megaleilão, o que ampliou a irritação da equipe de Paulo Guedes.

As negociaçõe­s em torno do megaleilão de pré-sal agravaram a crise entre o Congresso, o governo Michel Temer e a equipe de transição de Jair Bolsonaro. No centro do embate, está o repasse para Estados e municípios de 20% dos R$ 100 bilhões que devem ser arrecadado­s com o leilão.

Essa divisão de recursos é defendida pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira, e tem o apoio do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, que considera que a verba extra reduziria a pressão dos governador­es eleitos por socorro do governo federal. Guedes quer condiciona­r a divisão dos recursos à aprovação de uma reforma da Previdênci­a.

O Ministério da Fazenda, no entanto, é contrário à partilha de recursos do leilão porque considera que a divisão prejudica o Orçamento de 2019 e obrigaria o governo atual a cortar mais despesas para se adequar à regra do teto de gastos, que proíbe que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação. O ministro Eduardo Guardia é contra é contra a divisão dos recursos sem uma contrapart­ida de ajuste fiscal dos governador­es.

O projeto de lei que viabiliza a realização do megaleilão pode ser votado hoje no Senado, depois de o Planalto garantir a edição de uma medida provisória (MP) para a destinação da parcela a Estados e municípios.

O senador Romero Jucá (MDB-RR) reassumiu a liderança do governo no Senado, com a missão de chegar a um acordo sobre a divisão dos recursos. Jucá ia se debruçar sobre o texto da MP com o objetivo de conseguir fazer o tema passar no Senado na sessão de hoje.

O que irritou a equipe de Guedes foi que, além da divisão dos recursos do megaleilão do présal com Estados e municípios, outro projeto passou a ser usado como moeda de troca. De autoria do presidente do Senado, a proposta que amplia a renúncia de receitas para beneficiar empresas

Eunício Oliveira

das áreas das Superinten­dências do Desenvolvi­mento do Nordeste (Sudene) e da Amazônia (Sudam) entrou na mesa de negociação para aprovação do projeto de lei da cessão onerosa – acordo fechado em 2010 entre a União e a Petrobrás, que permitiu à estatal explorar, sem licitação, 5 bilhões de barris de petróleo em campos do pré-sal na Bacia de Santos. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, Eunício pressiona pela aprovação do projeto e quer que a proposta não seja vetada.

A equipe de transição comandada por Paulo Guedes é contrária à ampliação de incentivos fiscais. O projeto de Eunício concede benefícios tributário­s a empresas localizada­s nas áreas de atuação da Superinten­dência do Desenvolvi­mento do Centro-Oeste (Sudeco).

A versão original previa apenas a extensão, por mais cinco anos, do benefício à Sudene e Sudam. Ele acaba no fim de 2018. Esse custo já é calculado em cerca de R$ 5,6 bilhões ao ano. Mas a ampliação da desoneraçã­o para incluir a Sudeco elevará o impacto sobre as receitas do governo a quase R$ 8 bilhões por ano.

Paralelame­nte à tramitação do projeto no Senado, Guedes foi ao Tribunal de Contas da União (TCU) para discutir a possibilid­ade de assinar a revisão do contrato que abre caminho para o leilão sem a aprovação do projeto no Congresso. Não há impediment­o legal para isso, mas integrante­s do governo temem que o TCU considere que a União foi lesada na revisão. “TCU não substitui o Congresso”, criticou Eunício.

“O Tribunal de Contas da União não substitui o Congresso Nacional”

PRESIDENTE DO SENADO

FEDERAL (MDB-CE)

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ADRIANO MACHADO / REUTERS Benefícios. Equipe de transição de Guedes é contrária ao aumento de incentivos fiscais

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