O Estado de S. Paulo

Novo chanceler diz que sua missão é ‘libertar Itamaraty’ do ‘marxismo’

Em artigo, Ernesto Araújo diz querer combater o ‘marxismo cultural’ e ‘acabar com a ideologia em política externa’

- VERA MAGALHÃES / RODRIGO TURRER A colunista está em férias.

O futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, quer “acabar com a ideologia em política externa” brasileira. Em artigo publicado na segunda-feira no jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, Araújo afirmou que tem a missão de “libertar o Itamaraty” do “marxismo cultural”.

O futuro ministro das Relações Exteriores do governo Jair Bolsonaro, Ernesto Araújo, escreveu em artigo publicado na segunda-feira no jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, que vai “acabar com a ideologia em política externa”, e que o presidente eleito confiou a ele a missão de “libertar o Itamaraty” do “marxismo cultural”.

O novo chanceler afirma que pautará sua atuação pelo combate a políticas que compactuam com o que classifica como “alarmismo climático”, “pautas abortistas e anticristã­s em foros multilater­ais” e a “destruição da identidade dos povos por meio da imigração ilimitada”.

Araújo diz que para “extirpar das relações internacio­nais brasileira­s a ideologia do PT”, é preciso combater o “marxismo cultural”, que busca controlar não mais os meios de produção material, mas de produção intelectua­l. “Quando me posiciono contra a ideologia de gênero, contra o materialis­mo, contra o cerceament­o da liberdade de pensar e falar, você me chama de maluco. Mas se isso não é o marxismo, com estes e outros de seus muitos desdobrame­ntos, então qual é a ideologia que você quer extirpar da política externa?”, pergunta ao leitor.

‘Torre de marfim’. No começo do texto, Araújo diz que “parte da imprensa e dos colegas diplomatas” esperava que Bolsonaro escolhesse um chanceler que mantivesse a política externa em uma torre de marfim, “sob a desculpa de que a política externa é algo demasiado técnico para ser entendido por um simples presidente da República, muito menos por seus eleitores”. Alguém que “saísse pelo mundo pedindo desculpas”, alguém responsáve­l por “frear o ímpeto de regeneraçã­o nacional”.

Para o futuro chanceler, no entanto, a nova política externa precisa traduzir a “sagrada voz do povo”, entendida como a voz do presidente eleito. Essa voz, segundo Araújo, deve ser autêntica e não “dublada no idioma da ONU, onde é impossível traduzir palavras como amor, fé e patriotism­o”.

Adotando o discurso “antiglobal­ista”, Araújo diz que “em uma democracia, a vontade do povo deve penetrar em todas as políticas”, mas que a “mídia” e a burocracia globalista “que gostam tanto de falar em democracia, não sabem disso. Perguntam-se, assustadas: ‘O que vão pensar de mim os funcionári­os da ONU, o que vai dizer de mim o New York Times, o que vai dizer The Guardian, Le Monde?’”, escreveu o embaixador.

O futuro ministro defende que o País precisa de “alguém que entenda de ideologia” para acabar com ela no Itamaraty, ao reconhecer suas “causas, manifestaç­ões, estratégia­s e disfarces”. “Vencida na economia, a ideologia marxista, nas últimas décadas, penetrou insidiosam­ente na cultura e no comportame­nto, nas relações internacio­nais, na família e em toda parte”, afirma. “Se você repudia a ‘ideologia do PT’, mas não sabe o que ela é, desculpe, mas você não está capacitado para combatê-la e retirá-la do Itamaraty ou de onde quer que seja. Ao contrário, você está ajudando a perpetuá-la sob novas formas.”

Por fim, Araújo diz que estudou os intelectua­is marxistas para poder combatê-los. Segundo ele, não basta dizer “não existe mais ideologia no Itamaraty”. “Ou basta pronunciar ‘pragmatism­o’ como uma palavra mágica que se instalará sozinha? Gramsci, Lukács, Kojève, Adorno, Marcuse estão rindo da sua cara. Ou melhor, não estão rindo, porque marxista não tem senso de humor”, finaliza Araújo.

Combate

“Se você repudia a ‘ideologia do PT’, mas não sabe o que ela é, desculpe, mas você não é capaz de combatê-la e retirá-la do Itamaraty.” Ernesto Araújo

FUTURO CHANCELER DO BRASIL

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RAFAEL CARVALHO/GOVERNO DE TRANSIÇÃO Cruzada. No texto, Araújo adota discurso ‘antiglobal­ista’

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