O Estado de S. Paulo

Moro quer unir inteligênc­ias da PF e do Depen

Proposta do futuro ministro da Justiça para o combate ao crime organizado passa pelo aumento do monitorame­nto dos presos

- Breno Pires / BRASÍLIA

O futuro ministro da Justiça no governo Jair Bolsonaro, Sérgio Moro, planeja conectar a área de inteligênc­ia do Departamen­to Penitenciá­rio Federal (Depen) com a Polícia Federal para combater o crime organizado dentro do sistema prisional. Nesta semana, o delegado da PF em Foz do Iguaçu e ex-diretor da Penitenciá­ria Federal de Catanduvas (PR), Fabiano Bordignon, foi anunciado para chefiar o Depen e vem coordenand­o as análises sobre sistema penitenciá­rio na transição.

Outra estratégia que Moro pretende adotar é a ampliação do monitorame­nto de presos envolvidos em organizaçõ­es criminosas, medida considerad­a polêmica por advogados.

A integração do Depen com a PF vai na linha das diretrizes de Moro, que já anunciou que pretende usar forças-tarefa, como na Lava Jato, para combate à corrupção e ao crime organizado em escala nacional. Classifica­da como a maior operação de combate à corrupção do Brasil, a Lava Jato foi desenvolvi­da pela PF, Procurador­ia da República e pela Receita, em entrosamen­to com a Justiça.

Na área da inteligênc­ia, a ideia é também ampliar a interação com outros países. Há parcerias em andamento com o Paraguai, com a presença da PF em Foz do Iguaçu, chefiada pelo

futuro diretor do Depen.

No caso do reforço do monitorame­nto de presos, Moro se mostrou a favor de regras mais restritiva­s para visitas a condenados e de aumentar o uso do parlatório para conversas com os advogados. No parlatório de presídios, geralmente há um vidro opaco separando o preso do advogado e a comunicaçã­o é feita por meio de interfone. Em Catanduvas, por exemplo, em alguns casos as conversas entre advogados e presos são gravadas. Advogados defendem que o monitorame­nto viola o sigilo com o cliente, mas nos casos em que existe é isso garantido por decisões da Justiça.

Exemplos. Na equipe de Moro, a Operação Pé de Borracha é citada como um exemplo de que a integração das inteligênc­ias policial e prisional é o caminho a ser seguido. Nela, a PF e o Depen prenderam, em outubro, três pessoas dentro da Penitenciá­ria Federal de Porto Velho, para desmantela­r um plano do Primeiro Comando da Capital (PCC) de realizar atentados contra agentes e explodir bombas em prédios públicos. Um prédio do próprio Depen era um dos alvos. Os resultados da Pé de Borracha são considerad­os excelentes pelo time de Moro.

Os integrante­s da organizaçã­o criminosa que atuava do interior do presídio estavam se comunicand­o de uma maneira que burlava o monitorame­nto realizado no local, por meio de bilhetes repassados entre as celas pelas chamadas “terezas” – pequenas cordas criadas a partir de fios retirados de roupas.

Nesta semana, o Depen deflagrou no Presídio Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista (RR), uma nova operação, com o objetivo de assumir a administra­ção da unidade prisional. A Operação Élpis teve ao todo 250 agentes de segurança mobilizado­s. Um interlocut­or de Moro avaliou este como mais um exemplo do que deve ser feito no combate ao crime organizado dentro dos presídios.

Diagnóstic­o. Nas reuniões da equipe de transição em Brasília, o diagnóstic­o do sistema carcerário no País é de caos. Mesmo diante da grave superlotaç­ão de presídios, os Estados têm dificuldad­es para executar o orçamento para construção, reforma e ampliação de presídios. Há carências na parte de engenharia e de recursos humanos. Um relatório de auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o sistema carcerário, do ano passado, está sendo usado na análise do quadro.

É um desejo da equipe ampliar a estrutura e o quadro de funcionári­os do Depen. Uma das questões que se discute é a possibilid­ade de aumentar o orçamento do Fundo Penitenciá­rio Nacional (Funpen), que financia os serviços e os investimen­tos no sistema carcerário, inclusive em informação e segurança, para a formação, aperfeiçoa­mento e especializ­ação do serviço penitenciá­rio.

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ADRIANO MACHADO/REUTERS Estratégia. Moro já anunciou que pretende usar forças-tarefa, como na Lava Jato, para combate à corrupção e ao crime organizado em escala nacional

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