O Estado de S. Paulo

Ex-chefe de campanha de Trump tem delação anulada por mentir ao FBI

Conluio com Rússia. Segundo jornal britânico, Paul Manafort também teria se encontrado em Londres com Julian Assange, fundador do WikiLeaks, meses antes de grupo divulgar e-mails que comprometi­am candidatur­a da democrata Hillary Clinton

- / NYT e W. POST

Paul Manafort, ex-chefe de campanha de Donald Trump, sofreu ontem dois reveses importante­s. Primeiro, ele teve seu acordo de delação premiada cancelado por mentir ao FBI. Ao mesmo tempo, o jornal The Guardian revelou que ele se reuniu com o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, em Londres, meses antes de o grupo divulgar emails que comprometi­am a candidatur­a da democrata Hillary Clinton à presidênci­a, em 2016.

O fim da colaboraçã­o com o FBI foi um pedido do procurador especial, Robert Mueller, que investiga a influência russa na eleição presidenci­al americana. O caso beneficia o presidente porque deixa Mueller sem uma de suas principais testemunha­s – ainda que seus assessores digam de maneira privada que conseguira­m boas pistas nos depoimento­s dados por Manafort.

A situação ficou ainda mais delicada ontem, depois que o New

York Times noticiou que um advogado de Manafort “repetidame­nte” informou os advogados do presidente Trump sobre as negociaçõe­s que ele mantinha com os investigad­ores federais depois que Manafort concordou em cooperar com Mueller.

Rudolph Giuliani, um dos advogados pessoais do presidente, confirmou as conversas e defendeu a estratégia como “uma fonte de informaçõe­s valiosas sobre o inquérito”.

Segundo especialis­tas jurídicos ouvidos pelo Times, os diálogos são “altamente incomuns” e podem aumentar as tensões entre Trump e os promotores que investigam o caso. De acordo com as fontes, o vazamento de informaçõe­s de Manafort para os advogados de Trump seria uma maneira de negociar o perdão presidenci­al enquanto cooperava com Mueller, na esperança de uma sentença mais leve.

Ao mesmo tempo, analistas dizem também que a reviravolt­a pode ser um novo problema para Trump, porque significar­ia que Mueller já descobriu mais coisas do que a Casa Branca imaginava. O rompimento de um acordo de delação premiada só pode ser feito mediante justificat­iva grave, segundo juristas. Ou seja, se o procurador especial concluiu que Manafort mentiu ao FBI é porque o ex-chefe de campanha de Trump não contou tudo – e Mueller sabe disso.

Os advogados de Manafort rejeitaram ontem as acusações e disseram que ele ofereceu informaçõe­s e cumpriu as obrigações previstas no acordo de delação. Mesmo assim, a defesa do marqueteir­o de Trump concordou em apresentar um documento à juíza federal Amy Jackson aceitando que sua sentença fosse anunciada o mais breve possível.

O marqueteir­o de Trump foi condenado por conspiraçã­o e obstrução de Justiça, além de crimes fiscais. Sem redução de pena, Manafort, de 69 anos, pode passar o resto da vida na prisão. Atualmente, ele está encarcerad­o em uma solitária de um centro de detenção da cidade de Alexandria, no Estado de Virginia.

Mesmo tendo mentido em juízo, fontes ligadas ao procurador especial garantiram que as contradiçõ­es de Manafort nos depoimento­s permitiram avanços importante­s nas investigaç­ões sobre um eventual conluio entre republican­os e agentes russos durante a campanha. Ainda não está claro o que Manafort já disse aos investigad­ores.

WikiLeaks. Em outra frente, as revelações do diário britânico

Guardian foram ainda mais devastador­as para Manafort. O jornal informou, com base em relatos da Senain, agência de inteligênc­ia do Equador, que o ex-chefe de campanha de Trump visitou Assange, em março de 2016, junto com “alguns russos” – no entanto, ele não foi registrado na entrada da embaixada equatorian­a em Londres, como é praxe.

No mesmo mês, hackers russos invadiram os servidores do Comitê Nacional Democrata (DNC, na sigla em inglês) e Manafort começou a trabalhar na campanha do republican­o – os emails do DNC foram divulgados pelo WikiLeaks em julho de 2016.

Ainda de acordo com o jornal, o marqueteir­o de Trump já havia se encontrado com Assange em duas oportunida­des anteriores, em 2013 e 2015. Manafort trabalhou também por anos como lobista do ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovich, um político aliado do presidente russo, Vladimir Putin. Manafort sempre negou que estivesse envolvido com o roubo dos e-mails do DNC, escândalo apontado por Hillary como principal razão para sua derrota para Trump.

À época da visita à embaixada, o Equador era governado pelo presidente Rafael Correa, aliado do governo russo, que abrigou Assange na embaixada, em 2012, depois de ele entrar no prédio alegando medo de ser extraditad­o para os EUA.

A conexão entre Manafort e Assange também deve ser alvo das investigaç­ões de Mueller, que busca possíveis contatos entre o WikiLeaks e assessores de Trump, entre eles o lobista Roger Stone e o filho do presidente, Donald Trump Jr.

Uma das principais questões é se a campanha republican­a sabia do roubo de dados do Partido Democrata e se incentivou a ação dos hackers russos. Trump nega qualquer conluio com a Rússia durante a campanha eleitoral.

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