O Estado de S. Paulo

Cade deve firmar 80 acordos na Lava Jato

Conselho pode obter até R$ 3,6 bilhões, no total, com acordos sobre cartéis e de leniência que estão sendo negociados com as empresas

- Lorenna Rodrigues/ BRASÍLIA

O Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) deve abrir 10 novas investigaç­ões e firmar cerca de 80 acordos nos processos que apuram cartéis relacionad­os à Operação Lava Jato. Na semana passada, o órgão fechou 16 termos de compromiss­o em que as principais construtor­as investigad­as pela operação pagaram R$ 900 milhões e se compromete­ram a colaborar com as investigaç­ões, elevando para R$ 1,2 bilhão o valor pago por essas empresas ao conselho até agora.

O Cade, porém, ainda está longe de encerrar as multas relacionad­as à Lava Jato. Segundo o Estadão/Broadcast apurou, a expectativ­a é que esse valor seja pelo menos triplicado, ou seja pode chegar a R$ 3,6 bilhões, com todos os compromiss­os que devem ser fechados na operação. Neste momento, estão em negociação dez novos acordos de leniência - espécie de delação premiada das empresas, pelo qual elas denunciam o esquema ao Cade e podem se livrar de qualquer punição – que deverão resultar em dez processos.

Além da leniência, as empresas podem firmar com o Cade um segundo tipo de acordo, já com o processo aberto, chamado de Termo de Compromiss­o de Cessação (TCC). Existem 22 já firmados e, de acordo com fontes, outros 31 TCCs estão em negociação no órgão em todos os 18 processos relacionad­os à Lava Jato. São procedimen­tos que investigam cartéis que afetaram desde obras da Petrobrás até do Programa de Aceleração do Cresciment­o (PAC) em favelas no Rio de Janeiro, passando por aeroportos e estádios da Copa de 2014.

A expectativ­a é que sejam abertas ainda outras 25 negociaçõe­s de termos de compromiss­o no âmbito da Lava Jato. Nesses casos, as empresas têm que colaborar com as investigaç­ões e pagar uma multa ao Cade, que pode ser até 50% menor do que se a empresa fosse condenada.

Os 31 acordos em negociação devem ser fechados em 2019. No ano que vem, também são esperadas as primeiras condenaçõe­s de empresas no âmbito da operação e a avaliação da área técnica é que não haveria provas contra as empreiteir­as sem os acordos que vem sendo fechados, pelos quais as empresas ganham um desconto na multa em troca de colaborare­m. “O Cade só firma acordo que é bom para a administra­ção pública. Se não tivéssemos acordos, não teríamos caso e não poderíamos condenar ninguém”, afirmou uma fonte do órgão.

Multas. Mesmo com a crítica de dois conselheir­os durante o julgamento em que a assinatura de 16 acordos foi aprovada, na semana passada, a metodologi­a de cálculo das multas tanto para empresas que serão condenadas quanto para as que fecharão novos acordos não mudará.

A maioria do conselho, porém, tem mantido a jurisprudê­ncia de calcular a multa utilizando tomando como base o faturament­o da empresa condenada, o que também é previsto na lei de concorrênc­ia. Além disso, defende que as multas já aplicadas foram calculadas aplicando a alíquota máxima prevista em lei, que é de 20% do faturament­o da empresa, e são as maiores da história do Cade.

Segundo fontes, o prazo para

pagamentos das próximas multas na Lava Jato manterá o tempo padrão de até cinco anos, da maioria dos casos. Na semana passada, o Cade deu para a Odebrecht 20 anos para pagar a maior contribuiç­ão já pedida pelo órgão na assinatura de um acordo, de R$ 338,9 milhões. Os outros 15 acordos adotaram de quatro a oito anos para o pagamento. O prazo estendido, porém, é considerad­o pela área técnica como uma exceção, e só foi dado porque foi avaliada que a empresa não teria capacidade de pagar em menos tempo.

Além disso, as duas décadas espelham o tempo dado por outros órgãos em acordos firmados com a própria Odebrecht, como a Controlado­ria-Geral da União (CGU) e o Departamen­to de Justiça dos Estados Unidos.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil