Comic Con antecipa o Natal dos geeks
Oportunidade. Marcas de quadrinhos e games lançarão produtos e preveem faturar R$ 40 milhões em evento marcado para 6 a 9 de dezembro, em São Paulo
Entre os dias 6 e 9 de dezembro, a cidade de São Paulo se tornará mais uma vez o palco para a maior Comic Con Experience (CCXP) do mundo. O evento internacional que reúne fãs e profissionais da indústria geek (quadrinhos, animação, cinema, TV, games etc.) está em sua quinta edição no País. Em 2017, recebeu 227 mil pessoas, o maior público entre todos os países em que a CCXP é realizada. Dois dias antes, entre 4 e 5, ocorre o Unlock CCXP, área destinada à discussão de oportunidades e empreendedorismo no setor. Neste ano, a novidade é o “pitch” audiovisual, momento em que PMEs apresentarão seus projetos para especialistas do mercado.
“Criamos uma plataforma online para que os interessados possam se inscrever. Vamos selecionar os três melhores e convidá-los a apresentar esse material para uma banca de curadores de conteúdo e profissionais com experiência no mercado. Queremos promover o networking e as possibilidades de negócios”, conta o cocriador da CCXP, Otávio Juliato. Ele diz que “colocar esse espaço em um evento que tem vocação B2C (Business to Consumer, ou Empresa para Consumidor) é mostrar para os fãs o universo geek do ponto de vista de quem faz, os empreendedores”.
Outra oportunidade é o Artists’ Alley, área dedicada especificamente para os profissionais de quadrinhos. “Nesse espaço, reunimos 550 ilustradores que expõem, movimentam seus micronegócios e vendem suas produções para o público. Existem artistas que faturam cerca de R$ 40 mil apenas nesses quatro dias”, conta. Um dos nomes confirmados é Mauricio de Sousa (ler mais na pág. B11).
Evento certo no calendário dos apaixonados por cultura pop desde 2014, a CCXP é o Natal dos geeks, afirma Juliato.
“Lá, tanto as grandes como as pequenas marcas criam estratégias, antecipam e lançam produtos. É uma vitrine. Dos 110 mil metros quadrados de área do evento, um quarto é dedicado a ativações de marcas e 40% desse espaço é reservado apenas ao varejo. O público se prepara para o evento. Estimamos tíquete médio em compras de R$ 300.” Ainda de acordo com Juliato, a CCXP deve movimentar para essas lojas um total de R$ 40 milhões, de vendas de roupas a objetos colecionáveis.
O publicitário João Paulo Sette é um dos empreendedores que planeja novidades para apresentar na CCXP. Ex-diretor de operações do evento, hoje ele se dedica integralmente ao Social Comics, plataforma online criada por ele em 2015 que reúne 5 mil quadrinhos.
“Há algumas HQs que custam cerca de R$ 80. Temos planos de assinatura gratuita até pacotes família, com o valor de R$ 25,90 por mês. No ano que vem, vamos lançar a venda do quadrinho unitário”, diz Sette.
O Social Comics reúne quadrinhos de 90 editoras nacionais e internacionais e conta com cerca de mil artistas brasileiros independentes. Convidado para um dos painéis da CCXP, o empreendedor não dá pistas das novidades, mas adianta que fará um anúncio importante. “Só vou falar o que é no dia 9 de dezembro, às 15 horas.”
Fora do QG. Extrapolando os metros quadrados do São Paulo Expo, local de realização do evento, a CCXP também movimenta negócios relacionados ao universo da cultura pop na capital. É o caso do Gibi, bar e restaurante temático inaugurado há cinco anos, na Vila Mariana. “Na semana da Comic Con, eu faturo o mesmo do que em um mês inteiro de operação”, afirma o dono, Tiago Almeida.
Atualmente, com a baixa no
faturamento por causa da crise, Almeida diz que recorre à tática da realização de eventos próprios para manter e conseguir novos clientes. “Trazemos bandas que tocam trilhas sonoras de games e vamos começar a realizar noites de quiz. É preciso reunir as pessoas.”
Quadrinhos. A importância dos micro e pequenos também se repete para as HQs. Da primeira geração de ilustradores que entrou para o mercado americano, Klebs Junior fundou em 1999 o Instituto HQ. Em 2001, a escola se tornou estúdio e ainda embarcou no agenciamento de ilustradores para os EUA.
“As editoras americanas passaram a nos procurar por conta da escola. Então começamos a passar esses trabalhos para os alunos. Simulamos trabalhos e prazos para preparar esse profissional, porque talento e profissionalismo são coisas distintas”, acredita Junior.
Em 2015, o ilustrador decidiu embarcar em mais uma jornada e lançou o selo IHQ Editora. “Queríamos publicar o trabalho que produzimos aqui e abrir frente para os mercados americano e europeu. Somos a única editora independente que colocou quadrinho em banca. E, neste mês, publicamos o primeiro quadrinho pela Image Comics, dos EUA, que publica a série The Walking Dead.” A editora já publicou 12 títulos desde a criação do selo.
Desafios. Apesar de o público brasileiro ter potencial para ser um dos maiores consumidores de entretenimento do mundo, as barreiras ainda são muitas.
“A distribuição é complicada. As redes de livraria estão passando por problemas graves e a maior distribuidora de títulos para bancas faliu (a Dinap, da Abril, está em recuperação judicial). Não temos como escoar o material. Por isso, muitos quadrinistas fazem tiragens pequenas para vender em eventos como a CCXP”, diz Junior.
Para Otávio Juliato, da CCXP, existem situações maiores que dificultam o desenvolvimento da indústria. “A pirataria, o dólar, a questão tarifária. São dificuldades macro que precisam de mobilização da indústria e do ambiente público.”