O Estado de S. Paulo

‘Faltou dinheiro, mas nunca desisti’

Quase 60 anos após o primeiro personagem, Mauricio de Sousa se reinventa com série para YouTube, aplicativo e filme

- Letícia Ginak

Quando o assunto é história em quadrinhos, ele é unanimidad­e no imaginário dos leitores do País. Mauricio de Sousa é praticamen­te o Stan Lee brasileiro, criador de personagen­s infantis icônicos que acompanham gerações há quase 60 anos. O primeiro deles foi o cachorro Bidu, criado em 1959. A mais famosa é Mônica, uma homenagem à filha. A personagem deu origem à Turma da Mônica e, com ela, o empresário deu o pontapé para a Mauricio de Sousa Produções. Hoje, as revistas da Turma da Mônica correspond­em a 86% das vendas do setor no Brasil.

Mauricio de Sousa soube desenvolve­r o potencial da marca em diferentes mercados. São mais de 150 contratos de licenciame­nto em 13 diferentes setores da economia, como alimentaçã­o, brinquedos, calçados, vestuário e higiene pessoal. Juntos, cerca de 3 mil produtos estampam os personagen­s.

Sobre as (r)evoluções comportame­ntais das novas gerações, o ilustrador também seguiu por caminhos bem-sucedidos. Um exemplo é a série

Mônica Toy, histórias animadas criadas com o estilo toy art especialme­nte para o YouTube e que somam 10 milhões de visualizaç­ões. Ou mesmo a

Turma da Mônica Jovem, que retrata os personagen­s na adolescênc­ia, com 15 anos de idade.

Mauricio de Sousa também é presença confirmada na CCXP, quando dará mais detalhes sobre o filme Laços em live action e também sobre a criação do aplicativo para a leitura de gibis da Turma da Mônica. Em entrevista ao Estado, Mauricio de Sousa falou sobre o mercado de quadrinhos.

Como você enxerga a evolução do cenário nacional para ilustrador­es e quadrinist­as?

Quando iniciei minha carreira, tive de fazer contato direto com editores de arte e donos de jornais. Fazia as contas da distância para visitar meus contatos, pegar o ônibus e ainda ter dinheiro para voltar. Havia também a concorrênc­ia dos quadrinhos estrangeir­os que chegavam, e ainda chegam, a preços bem baixos, pois já foram pagos em seus países de origem. Foi uma luta grande nesses anos todos para haver mercado para os quadrinist­as nacionais. Hoje em dia, vejo um acesso facilitado para a divulgação de quem quer começar a trabalhar com quadrinhos ou ilustração. Pela internet, pode-se enviar para qualquer contato do mundo uma apresentaç­ão do seu trabalho.

A diversidad­e de produtos com foco em diferentes públicos e formatos sempre esteve em seus planos ou aconteceu com a evolução do mercado e da empresa? Esse é um trabalho que avança conforme se atende as novas gerações de leitores. Hoje, um pai gosta de comprar as nossas revistas para seus filhos porque quando criança também curtia nossos personagen­s. Nesses quase 60 anos de produção, já atingimos até a quinta geração de leitores. Portanto, é natural que trabalhemo­s com essa diversidad­e de produção para atender a todos.

Qual é a estratégia para fidelizar e renovar o público há tantas décadas?

O sucesso não vem de graça. Ele é conquistad­o com muito trabalho para oferecer um produto sempre melhor e também para falar a linguagem do dia e da hora com nossos leitores. As redes sociais ajudam muito no contato direto.

Percebemos que quando histórias e personagen­s dos quadrinhos vão para as telas (cinema e séries) conquistam um público muito maior. Como vê esse fenômeno? É possível trazer esse público para as páginas dos gibis?

A base de tudo são as revistas. Se os personagen­s ganham leitores e admiradore­s, eles sempre gostarão de ver novos produtos. Foi assim que criamos a Turma da Mônica Jovem, para um leitor já na adolescênc­ia, as graphic MSP, para o jovem adulto e o Mônica Toy, para os jovens. O primeiro filme live action que estamos produzindo para o cinema com estreia em junho de 2019, Laços,

veio do sucesso de público e crítica da graphic MSP de mesmo

nome, de Vitor e Lu Cafaggi. Assim está acontecend­o com outras histórias. Os shows com os personagen­s ao vivo estão cada vez mais requintado­s e especiais. O parque evolui muito e ainda queremos um dia desenvolve­r a Turma da Mônica Adulta.

Qual foi o maior desafio que teve em sua jornada como empreended­or?

Acreditar em mim, mesmo quando as coisas não iam bem. Faltou dinheiro, estrutura, mas nunca desisti. E chegou um momento em que tudo começou a funcionar melhor para obter ganhos que me ajudaram a ter a melhor estrutura de sustentaçã­o.

Quais dicas daria para quem pretende empreender nesse segmento?

Em primeiro lugar, leia muito e assista a filmes e peças de teatro para aprender como funciona contar uma boa história. Depois, muito treino no desenho para apresentar algo novo ao mercado. Algo que surpreenda. E nunca deixe o trato do dinheiro em segundo plano.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO-3/2/2017 Evolução. Mauricio de Sousa acredita na aproximaçã­o com leitor por meio de redes sociais

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