O Estado de S. Paulo

Abilio Diniz presta depoimento sobre BRF

- /RICARDO BRANDT, FAUSTO MACEDO E JULIA AFFONSO

O empresário Abilio Diniz prestou depoimento ontem, por quase três horas, na Polícia Federal, em Curitiba, após ter sido indiciado na Operação Trapaça, que apura fraudes na BRF, dona da Sadia e Perdigão. O empresário e outras 42 pessoas foram indiciadas por estelionat­o, organizaçã­o criminosa, crime contra saúde pública e falsidade ideológica, em 15 de outubro, e pode ser denunciado formalment­e pela Procurador­ia-Geral da República à Justiça Federal.

Abílio chegou à PF um pouco antes das 11h, acompanhad­o dos advogados criminalis­tas Alberto Zacharias Toron e Celso Vilardi. Ele deixou o prédio – sede também da Operação Lava Jato, onde está preso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – por volta das 15h, sem dar entrevista­s. Em seu depoimento, Abílio respondeu a todas as perguntas da PF e pontuou sua versão para as suspeitas que o ligam indiretame­nte ao caso.

“Foi muito bom o depoimento. O delegado deu ampla liberdade, e Abílio expôs coisas que até então ou não tinham ficado claras ou não havia uma compreensã­o sobre elas. O delegado entendeu muito bem”, afirmou o criminalis­ta Alberto Zacharias Toron, um dos defensores do empresário.

A Trapaça, desdobrame­nto da Carne Fraca, foi deflagrada em março deste ano. A operação investiga um suposto esquema de fraudes descoberto na empresa BRF, maior exportador­a global de frango, para burlar as fiscalizaç­ões do Ministério da Agricultur­a.

O depoimento de Abilio Diniz nessa fase de inquérito antecede a decisão do Ministério Público Federal de denunciar ou não os alvos da Trapaça indiciados pelo delegado Maurício Moscardi Grillo. Entre os indiciados estão o ex-presidente global da BRF Pedro de Andrade Faria e outros executivos da companhia. Diniz não foi alvo de medidas cautelares, como prisão ou condução coercitiva, na operação.

Procedimen­to. A procurador­a da República Lyana Helena Joppert Kalluf vai decidir se denuncia os envolvidos com o suposto esquema de fraudes nas unidades da BRF. No relatório final do inquérito, a PF afirma que um esquema de fraudes nas unidades da BRF tinha como finalidade burlar o Serviço de Inspeção Federal (SIF), do Ministério da Agricultur­a, e as fiscalizaç­ões de qualidade do processo industrial da empresa. As investigaç­ões concluíram que a prática das fraudes contava com a anuência de executivos do grupo, bem como de seu corpo técnico.

A BRF iniciou uma ofensiva para acelerar seu acordo de leniência (espécie de delação preimiada para as empresas) e está contatando os executivos que foram indiciados nas operações Carne Fraca e Trapaça para que se tornem colaborado­res.

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