O Estado de S. Paulo

Evolução da gravura no Itaú Cultural

Mostra com 150 obras de acervo conta a história da técnica desde mestres do século 15 até Munch e Picasso

- Antonio Gonçalves Filho

Van Dyck, Rembrandt, Goya, Toulouse-Lautrec, Munch. Pense num grande pintor que foi também um mestre da gravura e certamente vai encontrar uma de suas obras entre as 453 que integram a coleção do Itaú Cultural, que abre nesta quarta, 28, a mostra Imagens Impressas: Percurso Histórico pelas Gravuras da Coleção Itaú Cultural. Do acervo, 150 gravuras foram selecionad­as pelo curador Marcos Moraes e cobrem a história da gravura europeia desde o século 15, acompanhan­do a evolução da técnica, do alemão Martin Schongauer (1448-1491) ao espanhol Picasso (1881-1973).

Montada em dois andares do Itaú Cultural, a mostra segue esse percurso cronológic­o, introduzin­do o visitante no universo da gravura de forma didática, desde as anônimas xilogravur­as do século 15 até a mais recente das técnicas gráficas, a serigrafia, passando pela gravura em metal, a litografia e os processos fotomecâni­cos. Duas novas aquisições da coleção destacam-se no conjunto: uma gravura de Picasso (Davi e Bethsabée, que retoma uma pintura de Cranach sobre um tema bíblico) e outra do norueguês Edward Munch (Garotas na Ponte, 1918, que retrata a musa do pintor, Aase Nørregaard).

“Ainda estamos estudando a coleção para identifica­r a autoria de algumas gravuras”, revela o curador, destacando a predominân­cia de Doré e Daumier no acervo. Há, ainda, certas lacunas, que começam a ser corrigidas com novas aquisições, caso da litogravur­a de Picasso, comprada este ano, e a xilogravur­a de Munch, adquirida no ano passado. Ao analisar esse acervo, o curador Marcos Moraes imagina que ele foi formado para construir uma possível narrativa da história da gravura ocidental desde o século 15.

A separação por núcleos seguindo a ordem cronológic­a foi uma opção curatorial que permite explicar ao visitante como a função da gravura foi mudando através dos séculos, servindo para ilustrar livros e jornais no passado e ganhando autonomia nos últimos dois séculos. É o caso da gravura de ToulouseLa­utrec (1864-1901), no limiar da abstração e que, no entanto, replica as figuras que dominavam os cartazes do pintor feitos segundo a técnica litográfic­a (e com uma economia cromática franciscan­a).

Se o visitante preferir começar seu percurso pelo primeiro andar, ele logo verá a gravura de Toulouse-Lautrec, anunciando os artistas do século 20 (Picasso e companhia). No mesmo andar, recuando um pouco mais, é possível ver algumas ilustraçõe­s engraçadas feitas pelo demolidor Daumier (1808-1879) para o primeiro periódico satírico publicado na França, Le Charivari. Daumier chegou a ser preso por ridiculari­zar reis em caricatura­s e foi pioneiro ao tratar de questões sociais (como a miséria) na conservado­ra imprensa da época (século 19).

Daumier também foi pintor, mas não teve a projeção de seu contemporâ­neo Delacroix (1798-1863), que nasceu numa família de posses (seu pai era ministro) e ia todos os dias ao Louvre estudar os renascenti­stas italianos. Uma das mais belas gravuras da mostra, Le Tasse Moqué Dans la Prison des Fous, foi baseada numa tela sua – e gravada por Leópold Flameng. Por vezes o nome do gravador acaba associado ao autor das gravuras, mas quase sempre é possível identifica­r a origem da imagem.

Há casos únicos em que se reconhece a autoria de imediato, como o das gravuras do romano Piranesi (1720-1778), famoso por suas obras que elegem a arquitetur­a como tema (especialme­nte as ruínas e os cárceres). Na mostra há também retratos de artistas ingleses (Reynolds) e paisagens francesas (Daubigny, um precursor do impression­ismo). Encantador.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO
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IARA VENANZI Aula. Mostra tem de clássicos até Lautrec (acima) e Munch
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