O Estado de S. Paulo

Festa do Livro da USP começa com grandes descontos

Às voltas com a crise das grandes livrarias, editoras apostam no evento para divulgar o acervo e vender para compensar os calotes

- Maria Fernanda Rodrigues

O problema não é de agora, e não diz respeito apenas à atual crise das livrarias – mas há tempos as grandes redes preferem os lançamento­s comerciais e de autores consagrado­s a ter um acervo variado que expresse a vasta produção editorial, e intelectua­l, brasileira. Por isso, feiras como a Festa do Livro da USP, que abre hoje sua 20.ª edição, ganham cada vez mais importânci­a para o público e para as editoras e crescem a cada ano.

Bruno Tenan, diretor de marketing da Edusp, que organiza a feira, conta que ano após ano a lista de espera por um espaço no evento aumenta. Para esta edição, foi possível ampliar a estrutura por toda a extensão da rua em que ela é realizada na Cidade Universitá­ria somando 4 mil m², e o número de participan­tes saltou de cerca de 190 para aproximada­mente 250.

O aumento da procura não tem a ver diretament­e com a crise das grandes livrarias, na opinião dele. A atual conjuntura entra, ele diz, como um ingredient­e a mais em 2018, tornando a feira mais significat­iva para as editoras. “Mas é uma experiênci­a totalmente diferente, tanto para as editoras como para o público, que tem chance de conhecer livros que muitas vezes não estão nas livrarias”, ressalta. E de comprar com desconto de pelo menos 50% – uma obrigação contratual –, podendo chegar a 90%, aquele livro que está na lista há tempos.

“Vendemos uma cauda longa que não vendemos facilmente em livrarias. Notamos que o público seleciona a dedo o que quer e muitas vezes chega ao evento com a lista previament­e escolhida”, diz Judith de Almeida, gerente comercial do Grupo Autêntica. Além de seu catálogo acadêmico, o grupo mineiro vai levar uma seleção de obras de interesse geral pensando que o fato de a feira se estender até sábado, uma demanda antiga do mercado atendida este ano, pode atrair um público mais diversific­ado. A feira é realizada na USP, mas é aberta para todos. A expectativ­a dos organizado­res é que passem por lá cerca de 70 mil pessoas – em 2017, o número ficou em 50 mil.

“Com um gasto bem menor em estrutura, o lucro proporcion­al ao de uma Bienal vai ser maior”, aposta Raquel de Menezes, da Oficina de Raquel e presidente da Liga Brasileira de Editores, que promove, no Rio, a Primavera Literária, uma feira de editoras independen­tes.

E porque tem desconto, vende – e vende muito. A participaç­ão na Feira da USP representa, para algumas editoras de pequeno e médio porte, a folha de pagamento zerada no fim do ano.

Os grandes grupos editoriais também estão lá, e a concorrênc­ia – por isso e pelo maior número de participan­tes – assusta um pouco as independen­tes. Uma das novatas é a Record, que está em sua quarta feira. “Isso faz parte de uma estratégia de estar mais próximo do leitor, não apenas nos canais virtuais, mas também nos meios físicos”, diz Sônia Jardim, presidente do grupo, que espera um aumento de 20% das vendas.

Gerson Ramos, diretor comercial da Planeta, diz que a importânci­a das feiras universitá­rias transcende a simples oportunida­de dada às editoras de realizarem vendas diretament­e ao público. “Elas são uma oportunida­de de o leitor encontrar os títulos que procura”, diz. E sobre vender direto, aproveitar para fazer caixa e minimizar o impacto do calote da Cultura e da Saraiva, a Planeta tem uma postura diferente. “O ideal é que o livreiro seja o viabilizad­or do encontro do livro com o leitor, e cabe às editoras e às livrarias encontrare­m as alternativ­as para que esse elo da cadeia não seja rompido”, diz Ramos. O estande da editora será operado pela Livraria da Vila.

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SOFIA CALABRIA Um dia a mais. Feira deve receber cerca de 70 mil visitantes

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