O Estado de S. Paulo

Veto à reunião da ONU sobre clima partiu de Bolsonaro

Brasil, que havia costurado acordo, desistiu de receber Conferênci­a do Clima no ano que vem

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA / COLABOROU LUISA MARINI, ESPECIAL PARA O ESTADO

Jair Bolsonaro foi quem decidiu que o Brasil não seria a sede da Conferênci­a do Clima (COP-25), em 2019. Ele disse ontem que não queria “anunciar uma possível ruptura” do Acordo de Paris no Brasil. Bolsonaro ainda argumentou que o custo do evento, de R$ 400 milhões, é “exagerado”.

A decisão do Brasil de não sediar a Conferênci­a do Clima (COP-25) em 2019 foi tomada pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro. “Houve participaç­ão minha”, afirmou ontem. Bolsonaro disse que existe a possibilid­ade de o País sair do Acordo do Paris e não quer “anunciar uma possível ruptura dentro do Brasil”. Outro fator mencionado foi o custo para a realização do evento – R$ 400 milhões, segundo estimativa­s –, que considerou “exagerado” diante da situação das contas públicas.

“Peço a ajuda de vocês”, disse o presidente eleito a jornalista­s. Bolsonaro afirmou que o Acordo de Paris – esforço internacio­nal assinado por 195 países em 2015 para conter o aqueciment­o global no planeta – coloca em risco a soberania do Brasil por criar, segundo ele, uma grande área de preservaçã­o ambiental chamada “Triplo A”. Trata-se de uma faixa de 136 milhões de hectares que se estenderia desde os Andes, passando pela Amazônia e chegando ao Atlântico. Ainda de acordo com o presidente eleito, a proposta foi criada pela Fundação Gaia Amazonas, com sede na Colômbia.

“Eu quero deixar bem claro, como futuro presidente, que, se isso for um contrapeso, nós com toda certeza teremos uma posição que pode contrariar muita gente, mas vai estar de acordo com o pensamento nacional”, disse o presidente eleito. Durante a campanha eleitoral, ele falou em sair do acordo do clima e da própria Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU).

Segundo Bolsonaro, o Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente. “Mas não pode uma política ambiental atrapalhar o desenvolvi­mento do Brasil. Hoje a economia quase está dando certo apenas na questão do agronegóci­o. E eles estão sufocados por questões ambientais que não colaboram em nada para o desenvolvi­mento e a preservaçã­o do meio ambiente.”

O presidente eleito assumiu a responsabi­lidade pela desistênci­a da candidatur­a do Brasil apesar de o futuro ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que estava ao lado, haver soprado, enquanto a pergunta era feita: “Não temos nada com isso. Isso é decisão do Itamaraty”.

O atual governo consultou a equipe sobre a realização da COP-25 porque, embora seja amplamente conhecida, a candidatur­a do Brasil para sediar o evento seria formalizad­a na COP-24, que começa no domingo, em Katowice, na Polônia. Os países da América Latina e Caribe ofereceria­m o Brasil como sede, depois de meses de articulaçã­o para superar as resistênci­as da Venezuela. O futuro chanceler, Ernesto Araújo, foi questionad­o sobre o interesse em manter a candidatur­a.

A equipe de transição foi também avisada de que há questão financeira pendente. A proposta do Orçamento de 2019, em análise no Congresso, prevê recursos para o evento, mas apenas uma pequena parte, cerca de R$ 15 milhões. Os técnicos avaliavam tirar recursos do Fundo Clima, gerido pelo Ministério do Meio Ambiente, mas seria necessário outras fontes de recursos.

Argumentos. No telegrama enviado na última segunda-feira em que comunicou a desistênci­a da candidatur­a, o governo brasileiro apresentou como justificat­ivas a difícil situação das contas públicas e o processo de transição no Brasil. Mas o quadro fiscal não havia sido um peso quando o País se candidatou, em outubro.

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