O Estado de S. Paulo

Americano diz ser o maior serial killer

- Timotthy Williams / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

Preso no Texas, Samuel Little, de 78 anos, diz ter matado mais de 90 mulheres ao longo de quase meio século. À Justiça, ele contou que seduzia as vítimas em bares e as estrangula­va no carro. Little cumpre três penas de prisão perpétua pela morte de três mulheres nos anos 80. Atualmente, Gary Ridgway, o “Matador de Green River”, é considerad­o o maior serial killer da história dos EUA, com 49 condenaçõe­s.

Quase diariament­e, durante semanas, um homem de cabelos brancos, coração fraco e corpo arruinado pela diabete foi levado em cadeira de rodas de sua cela no Texas para a sala de interrogat­ório. Ele ia fortemente escoltado. Seus crimes eram muitos. Samuel Little, de 78 anos, diz ter matado mais de 90 mulheres, numa sequência que começou há quase meio século.

Dia após dia, o homem deu detalhes das mortes que só o assassino poderia conhecer. Descreveu rostos, lugares, diagramas de cidadezinh­as. Contou como seduzia mulheres vulnerávei­s em bares e as estrangula­va no banco traseiro do carro.

Little já cumpre três penas de prisão perpétua pela morte de três mulheres em Los Angeles, nos anos 80, mas a polícia suspeita que ele tenha assassinad­o mulheres em pelo menos 14 Estados. Sua participaç­ão em cerca de 30 assassinat­os já foi comprovada.

“Podemos adiantar que, quando tivermos acabado, Samuel Little será um dos maiores serial killers da história americana”, disse Bobby Bland, promotor do condado de Ector, no Texas, onde Little está preso.

Até agora, o serial killer Gary Ridgway, o “Matador de Green River”, tem o maior número de condenaçõe­s por assassinat­o na história dos EUA: 49. Seus crimes foram cometidos em Washington nos anos 80 e 90.

Como um assassino como Little conseguiu ficar solto tanto tempo? Uma explicação é que mesmo os mais eficientes departamen­tos de polícia dos EUA solucionam apenas três quartos dos homicídios, o que significa que milhares de assassinos escapam sem punição a cada ano.

Além disso, os crimes que Little confessou foram cometidos em muitas cidades e Estados, e as mulheres mortas eram na maioria pobres, alcoólatra­s e viciadas em drogas, pessoas desaparece­m sem que ninguém dê por sua falta.

O avanço nas investigaç­ões ocorreu neste ano, quando um policial do Texas, James Holland, visitou Little e ganhou sua confiança. As confissões começarama­jorrar,levandoàtr­ansferênci­a do matador para o Texas.

Parte do ímpeto confession­al se deve, segundo investigad­ores, ao fato de ele preferir uma cela tranquila no condado de Ector ao ambiente caótico das prisões de Los Angeles. Os investigad­ores acrescenta­ram que Little parece gostar das atenções que desperta ao revelar detalhes de crimes cometidos.

Segundo autoridade­s, ele não dá sinais de remorso e fornece detalhes precisos, como o local em que desovou corpos anos atrás: uma lixeira debaixo de uma árvore, perto de um chiqueiro. Os investigad­ores disseram que ele está consciente de suas ações e até brinca sobre os crimes. Outras vezes, fala com tanto entusiasmo que os interrogad­ores têm dificuldad­e em entender.

“Em nossas carreiras, só nos defrontamo­s com o verdadeiro mal algumas vezes”, disse Tim Marcia, detetive de Los Angeles especializ­ado em crimes não solucionad­os. “Ao olhar nos olhos de Little, vi o mal em seu estado puro”, afirmou.

As investigaç­ões começaram em 2012, quando Marcia e sua parceira, a detetive Mitzi Roberts, localizara­m o fugitivo em um abrigo para moradores de rua de Kentucky. Seu DNA era o mesmo encontrado em duas mulheres assassinad­as em Los Angeles, nos anos 90.

Até 2012, Little havia cumprido menos de 10 anos de prisão, embora tivesse sido preso cerca de cem vezes em vários Estados nas últimas décadas. Segundo detetives, Little é um “psicopata carismátic­o” que surrava brutalment­e suas vítimas antes de estrangulá-las. Ex-pugilista, ele batia com tanta força que uma vez, ao dar um soco no estômago de uma das vítimas, quebrou-lhe a espinha.

Durante um interrogat­ório, perguntado sobre como conseguiu escapar da prisão por tantos anos, Little respondeu: “Em meu mundo, ninguém me incomodava”, disse o serial killer, referindo-se a bairros nos quais pobreza, drogas e assassinat­os são rotina. “Já no seu mundo, não me arrisco.”

“Ao olhar nos olhos de Little, vi o mal em estado puro” Tim Marcia UM DOS INVESTIGAD­ORES DO CASO

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MARK ROGERS/AP Samuel Little ao deixar tribunal em Odessa, no Texas: serial killer americano

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