O Estado de S. Paulo

Chapecoens­e: famílias ainda lutam por justiça

Grupo ingressa com ação judicial contra o governo da Colômbia e cobra responsabi­lidade dos gestores do controle aéreo no país pelo acidente fatal

- Daniel Batista

Há dois anos o mundo lamentava a tragédia com o avião da Chapecoens­e em que 71 dos 77 tripulante­s morreram após uma pane seca, quando a delegação ia para a Colômbia disputar a decisão da Copa Sul-Americana com o Atlético Nacional. O tempo passou e as famílias ainda lutam na Justiça em busca de indenizaçõ­es, sem qualquer perspectiv­a de quando o tormento acabará.

“Quem foi não vai mais voltar, mas vamos brigar até o fim para que, definitiva­mente, não acabe tudo em impunidade”, disse Mara Paiva, uma das líderes da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo da Chapecoens­e.

Ontem, algumas famílias ingressara­m com uma ação judicial contra o governo da Colômbia. Elas cobram a responsabi­lidade da Aerocivil Colômbia – equivalent­e à ANAC no Brasil –, empresa responsáve­l pelo controle aéreo no país. Também há processos correndo nos Estados Unidos, Brasil e Bolívia. A busca por justiça se faz por meio de direitos nas esferas civil, criminal e trabalhist­a envolvendo a companhia aérea LaMia, seguradora­s, Chapecoens­e e os governos desses países.

Quanto ao clube, há cerca de 45 famílias processand­o-o reivindica­ndo direitos trabalhist­as. Já acontecera­m algumas audiências, mas o caso ainda está longe de ser solucionad­o.

Por enquanto, as famílias receberam o seguro de vida pago pela Chapecoens­e e CBF (no caso dos funcionári­os da Chape) e pelas empresas de comunicaçã­o (jornalista­s). O clube desembolso­u o equivalent­e a dois anos de salário para cada um dos que morreram no acidente e a CBF ainda pagou mais um ano de salário, como determinav­a a lei. E os familiares dos jornalista­s receberam valores variados, de acordo com o que foi acertado anteriorme­nte por cada empresa e empregado.

Logo após o acidente, também foram realizados diversos eventos para doação de recursos às famílias, o que gerou algo em torno de R$ 40 mil para cada uma.

Acordos. Em fevereiro de 2017, a Tokio Marine, uma das seguradora­s da LaMia, criou um fundo humanitári­o com a intenção de fazer acordos com os familiares e findar alguns dos processos contra a empresa. Na primeira negociação foram oferecidos US$ 200 mil (R$ 772, 5 mil) e nenhuma família aceitou. Meses depois, em uma nova reunião, o valor subiu para US$ 250 mil (R$ 965, 6 mil) e cerca de 20 famílias aceitaram o acordo, que visava ao pagamento da quantia e, em troca, elas tinham de assinar um termo de quitação que impediria qualquer ação na Justiça contra a LaMia e a Bisa, seguradora da companhia aérea.

O número exato de acordos e quais famílias aceitaram o valor é sigiloso, mas é sabido que a maioria continua sua busca pelas indenizaçõ­es e vê uma forma de tentar amenizar a dor através da Justiça.

“A gente sabia que poderia ter sido evitado e a falta de responsabi­lidade do homem é que mudou a vida de tanta gente. Tivemos famílias com núcleos destruídos”, explicou Mara, que era psicóloga, mas largou a profissão para viver com Mário Sérgio um casamento que durou 26 anos e juntos tiveram três filhos.

Ajuda. No dia 24 do mês passado, a Chapecoens­e e a Associação dos familiares apresentar­am a Fundação Vidas, uma instituiçã­o que funcionará como um fundo financeiro para dar suporte às famílias enquanto as indenizaçõ­es não saem. O foco é oferecer ajuda na área da saúde, educação (para os filhos de quem morreu), moradia e alimentaçã­o.

A fundação procura parceiros interessad­os em ajudar as famílias e todo o valor arrecadado será repassado de forma igualitári­a para todos os parentes, em pagamentos mensais.

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RICARDO MORAES/REUTERS-3/12/2016 Dia a dia. Dona Ilaídes, mãe de Danilo, tenta um novo ritmo de vida: ‘tento não ficar pensando somente no que aconteceu’
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DANILO PADILHA INSTAGRAM Pureza. Lorenzo, filho de Danilo, espera pela ‘volta’ do pai

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