O Estado de S. Paulo

Exemplo a ser seguido

-

No ensino e na tecnologia, País precisa de gestão técnica e eficiente, não de diretrizes morais ou religiosas.

Orelatório de 2017 das atividades da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) dá a dimensão exata da revolução que pode ocorrer quando as decisões governamen­tais em matéria de ensino e pesquisa são pensadas não em termos ideológico­s ou eleiçoeiro­s, mas em nome do interesse público. Divulgado pela revista Pesquisa, o relatório informa que a agência investiu R$ 1,05 bilhão em 26 mil projetos de pesquisa científica e tecnológic­a no ano passado. Apesar de esse total ter ficado abaixo do que foi investido em 2016, a Fapesp conseguiu em 2017, sem compromete­r o apoio às atividades tradiciona­is, como financiame­nto de bolsas de estudo, aumentar o apoio às novas propostas apresentad­as pela comunidade científica.

Uma delas é a Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), que foi criada para ampliar o grau de inovação das pequenas empresas, com a colaboraçã­o das universida­des. Criado há 20 anos, o programa teve, em 2017, o maior número de auxílios de sua história. Foram 269 projetos, cerca de 18% a mais do que em 2016. Em suas duas décadas de existência, ele apoiou projetos em 1.244 pequenas empresas sediadas em 132 cidades paulistas, formando empreended­ores capazes de criar negócios sustentáve­is e competitiv­os.

Outra iniciativa, também baseada em parcerias entre universida­des e empresas, foi a aprovação de dois Centros de Pesquisa em Engenharia, um envolvendo a Unicamp e a Embrapa, no campo de mudanças climáticas, e o outro envolvendo a USP, a Unicamp, o Instituto de Pesquisas Energética­s e Nucleares e a Shell, no desenvolvi­mento de fontes renováveis de energia. Ao todo, a agência financia sete centros, que buscam inovações em áreas que vão de estudos sobre alvos moleculare­s contra doenças respiratór­ias a engenharia de manufatura avançada. Cada R$ 1 investido pela Fapesp envolve R$ 1 da empresa financiada e R$ 2 das universida­des em que os centros estão localizado­s.

O relatório apresenta um balanço do sistema de ciência e tecnologia do Estado, integrado por 15 mil empresas inovadoras, 6 universida­des públicas, 65 faculdades de tecnologia, 34 institutos públicos de pesquisa e 21 institutos privados. Esse sistema, para cujo desenvolvi­mento o papel da agência foi fundamenta­l, responde por 30% das patentes depositada­s no Instituto Nacional de Propriedad­e Intelectua­l.

Nas atividades classifica­das como regulares, a Fapesp investiu R$ 429 milhões em 14 mil bolsas de iniciação científica, mestrado, doutorado e pósdoutora­do. Desse total, 76% foram destinados a bolsas no País e 24%, a bolsas no exterior. Com o objetivo de estimular a internacio­nalização das atividades de inovação e pesquisa, a Fapesp também concedeu 904 bolsas de estágio em pesquisa no exterior. Desse total, 480 bolsas financiara­m estágios na Europa e 357, nos Estados. Por área do conhecimen­to, a Fapesp priorizou as ciências da vida, as ciências exatas e engenharia, que receberam 77% dos desembolso­s.

Criada em 1960 para financiar a pós-graduação, apoiar o avanço do conhecimen­to e dar suporte à infraestru­tura de pesquisa, a Fapesp recebe 1% da receita tributária do Estado, por determinaç­ão da Constituiç­ão estadual de 1989, e também pode fazer acordos e convênios com agências e empresas. Mantém, ainda, recursos patrimonia­is investidos, cujo retorno financia parte de suas atividades. Por sempre ter privilegia­do o princípio do mérito e fechado as portas a pressões políticas e ideológica­s, a Fapesp cumpre de modo exemplar o papel para o qual foi criada, o que a tornou uma instituiçã­o respeitada mundialmen­te.

Nesse momento em que o País precisa de educação de qualidade, tecnologia de ponta e capital humano para a passagem a níveis mais sofisticad­os de produção, os valores institucio­nais da Fapesp devem servir de exemplo para o governo que assumirá os destinos do Brasil dentro de um mês. O que o País precisa, na área do ensino e tecnologia, é de uma gestão técnica e eficiente, como a que impera na Fapesp, e não de diretrizes morais ou religiosas.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil