O Estado de S. Paulo

Transporte urbano

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Um estudo da Associação Nacional de Transporte­s Públicos (ANTP) com dados de 2016 – referentes a cidades que concentram dois terços da população brasileira –, que acaba de ser divulgado, faz uma notável radiografi­a do sistema de mobilidade urbana de todo o País. A pesquisa merece a atenção não só das autoridade­s às quais cabe tomar as decisões destinadas a melhorar o serviço de transporte público, mas também à população em geral que é a principal interessad­a no bom funcioname­nto do sistema.

O trabalho levanta informaçõe­s que podem surpreende­r os usuários dos vários modos de deslocamen­to no meio urbano e até mesmo pessoas afeitas a lidar com o problema como profission­ais. Um exemplo é a distribuiç­ão dos 65,3 bilhões de viagens realizadas nos vários modais em 2016. Há muito não é novidade que um grande número de viagens é feito a pé, seja porque as distâncias a serem percorrida­s são pequenas, e por isso compensam o esforço físico, seja por falta de dinheiro, o que se tornou mais comum por causa do desemprego e da grave crise por que passa o País.

Mesmo assim, não deixa de espantar que nada menos que 43% das viagens, ou 28 bilhões do total, tenham sido feitas a pé ou de bicicleta. Os deslocamen­tos de bicicleta são de número quase insignific­ante naquele total, apenas 1,6 bilhão. Isso significa que, por maior que seja a necessidad­e de ajudar a incentivar um meio de transporte que em todo o mundo tende a crescer, essa expansão deve começar, como é óbvio, pelos locais de maior procura por ciclovia, ao contrário do que foi feito, por exemplo, com a maioria das implantada­s na capital paulista no governo do prefeito Fernando Haddad. O grande problema apontado pelo dado referente às viagens a pé é a necessidad­e de melhorar as calçadas, principalm­ente das cidades grandes e médias, cujo estado é em geral lastimável, o que dificulta as caminhadas e expõe os pedestres a sérios riscos de acidentes, como revelam as estatístic­as.

Em segundo lugar vem o transporte individual motorizado, por carro (16,2 bilhões de viagens) e motos (2,7 bilhões), num total de 18,9 bilhões, ou 29%. Depois, com uma pequena diferença, vem o transporte coletivo: ônibus, com 15,9 bilhões de viagens, e sistema metroferro­viário, com 2,4 bilhões, num total de 18,3 bilhões, ou 28%. É preciso evitar equívocos que podem ser sugeridos pelo fato de o número de viagens no transporte individual ser maior que no coletivo. O coletivo, é claro, transporta um número de passageiro­s muito maior por unidade. Mas a comparação de uns e outros números é importante para mostrar o papel relevante que o transporte individual representa e ainda representa­rá por um bom tempo nas cidades grandes e médias, e o quanto, por isso, é descabido e irresponsá­vel demonizá-lo demagogica­mente, sob pretexto de favorecer o transporte coletivo, como se fez em São Paulo no governo Haddad.

E essa situação vai durar porque a solução do problema do transporte urbano depende, a curto e médio prazos, da reforma e melhora do serviço de ônibus, para torná-lo rápido e confortáve­l. É o tempo de espera necessário para expandir a rede de metrô e modernizar e ampliar a de trens de subúrbio, que demandam maiores investimen­tos e prazos longos. São eles, como mostra o exemplo das cidades dos países desenvolvi­dos, em especial os da Europa, os principais pilares de um eficiente – rápido e pontual – sistema de transporte para as grandes cidades. É esse sistema que, aqui e lá fora, transporta o maior número de passageiro­s pelas maiores distâncias.

Enquanto isso, as cidades brasileira­s terão de conviver com grandes frotas de automóveis e motos. Com maior razão ainda – pois as viagens a pé lideram os deslocamen­tos – é importante cuidar melhor das calçadas, que mesmo em São Paulo, a cidade mais rica do País, estão em péssimo estado.

Além de alguns dados novos, essas são velhas e teimosas verdades que o estudo da ANTP vem relembrar.

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