O Estado de S. Paulo

Cultivo de coca no Peru avança na direção do Brasil

Agência antidrogas peruana aponta alta na produção em regiões de fronteira; não se sabe volume consumido nos vizinhos ou reexportad­o

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A agência antidrogas do Peru (Devida) detectou uma mudança no perfil da produção de coca, com aumento da produção nas áreas fronteiriç­as com Brasil, Colômbia e Bolívia. “O Brasil está movendo o mapa da coca e do narcotráfi­co”, disse o diretor da Devida, Rubén Vargas, ao apresentar os dados em Lima para jornalista­s na terça-feira.

“Fica claro para nós que há um aumento de cultivo em áreas de fronteira: no Baixo Amazonas, em Caballococ­ha – tríplice fronteira com Colômbia e Brasil –, na Província de Sandía – região de Puno, fronteira com Bolívia, embora bem conectada com o Brasil pela Rodovia Interoceân­ica Sul – e na região de Madre de Dios – fronteiriç­a com Brasil e Bolívia”, acrescento­u Vargas.

Apesar disso, não há dados concretos que indiquem quanto da cocaína produzida no Peru anualmente é consumida em Brasil, Argentina e Chile e o quanto é exportada nesses três pontos de passagem para Leste da Ásia, Europa, Oceania e sul do continente africano.

A maior parte da produção de coca no Peru ainda está concentrad­a na região conhecida como Vraem – os vales dos rios Apurímac, Ene e Mantaro –, que reúne as províncias de Apurímac, Ayacucho, Cusco, Huancaveli­ca e Junín.

Investimen­to. O governo do presidente peruano, Martín Vizcarra, pretende investir US$ 5,5 bilhões nos próximos três anos em obras de infraestru­tura na região para combater o cultivo de coca. “O Vraem não deve ser conhecido como uma zona de guerra”, disse. “Temos 60 distritos nos quais precisamos trabalhar por desenvolvi­mento e cidadania.”

Ainda de acordo com o Devida, os projetos devem replicar experiênci­as de sucesso contra o plantio de coca em outras zonas do país, como Alto Huallag e San Martín. Elas consistem no desenvolvi­mento sustentáve­l, criação de empregos e assessoria agrônoma.

“Temos de construir estradas e viadutos. Senão, não adianta fomentar cultivos alternativ­os”, ressaltou. O plano contempla 2.974 projetos, entre construção de escolas, postos de saúde e rodovias.

Segundo relatório do Escritório da ONU para Drogas (UNODC) de 2017, a produção de cocaína nos três países – Colômbia, Peru e Bolívia – vem crescendo desde 2015 e já atingiu o mesmo nível de 2008. Com o aumento da produção e mais cocaína disponível no mercado, o UNODC vem registrand­o um aumento no consumo em várias partes do mundo.

No Peru, o mercado ainda está bastante associado ao grupo maoista Sendero Luminoso, que controla áreas remotas de regiões produtoras de coca. Ontem, Vargas disse estar confiante de que o Exército conseguirá desmantela­r os remanescen­tes da guerrilha.

Produção. No balanço divulgado pelo Devida, a entidade ainda desmentiu um relatório recente do governo americano, que estimou em 491 toneladas a produção anual de cocaína do Peru. Segundo Vargas, no entanto, não é possível divulgar um número exato porque o relatório de 2018 sobre drogas no país ainda não foi concluído.

De acordo com o relatório anual sobre controle de drogas do Departamen­to de Estado americano, publicado em março, o Peru é o segundo maior produtor de cocaína e o segundo maior cultivador da folha de coca no mundo, depois da Colômbia. A Bolívia é o terceiro. Os EUA são o maior mercado da droga.

“O Brasil está movendo o mapa da coca e do narcotráfi­co” Rubén Vargas

DIRETOR DA DEVIDA, AGÊNCIA ANTIDROGAS DO PERU

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MARIANA BAZO/REUTERS–9/11/2009 Alternativ­a. Trabalhado­ra recolhe folhas de coca no Peru: governo promete investir US$ 5,5 bilhões no combate ao cultivo
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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO

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