Rússia ampliará divisão de mísseis antiaéreos na Crimeia
Medida eleva tensão na península anexada pelos russos em 2014; Putin acusa presidente da Ucrânia de ‘provocação’
A Rússia vai instalar mísseis antiaéreos S-400 na Península da Crimeia, território anexado por Moscou em 2014, informou ontem um porta-voz militar russo. A decisão deve aumentar a tensão com a Ucrânia em razão da crise criada pela captura de três navios da Marinha ucraniana pela Guarda Costeira russa, na região do Estreito de Kerch, e pela detenção de 24 marinheiros da frota.
A Crimeia já abriga três baterias antiaéreas de mísseis com alcance de até 400 quilômetros que podem subir a uma altitude de 30 quilômetros, segundo o Exército da Rússia. O objetivo é conter ameaças aéreas, mísseis balísticos e de cruzeiro, o que permite à Rússia controlar grande parte do espaço aéreo do Mar Negro. “Em breve, o novo sistema de mísseis entrará em funcionamento”, declarou o coronel Vadim Astafiev, portavoz russo.
A Rússia tem enviado constantemente novos equipamentos militares à Crimeia desde que a anexou da Ucrânia. O anúncio russo sobre os novos mísseis veio no momento em que Moscou e Kiev culpam um ao outra pelo confronto de domingo.
O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, promulgou ontem o decreto que instaura a lei marcial em 10 regiões do país, perto da fronteira com a Rússia, permitindo ao presidente mobiliar o Exército e suspender direitos dos cidadãos, como liberdade de associação e manifestação. Kiev disse que o estado de exceção não é uma declaração de guerra contra a Rússia, mas que serve exclusivamente para a defesa da Ucrânia em caso de invasão.
A oposição na Ucrânia teme que as eleições presidenciais, previstas para março de 2019, possam ser adiadas se Poroshenko decidir estender a lei marcial por mais tempo.
Ontem, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusou Poroshenko de orquestrar uma “provocação” para melhorar sua baixa popularidade, de olho na eleição do ano que vem. “O estado de exceção foi determinado pelo presidente antes das eleições. O presidente está em quinto lugar nas pesquisas e tinha de fazer algo”, disse Putin em Moscou.
“A Ucrânia está conseguindo usar o episódio para atiçar o sentimento antirrusso. E o Ocidente engoliu a narrativa que Kiev está divulgando”, disse Putin. A repercussão do episódio ameaça cancelar a reunião entre Donald Trump e Putin, na cúpula do G-20 na Argentina, no fim de semana.