O Estado de S. Paulo

Brasil volta à lista de apostas globais do Credit Suisse

Banco de investimen­to diz que otimismo com os investimen­tos no Brasil é o maior dos últimos cinco anos

- Luciana Dyniewicz

Os mercados emergentes estão entre os principais destinos de investimen­to do Credit Suisse para 2019 e o Brasil – após anos de ausência – entrou nessa lista de apostas do banco suíço. “Há muito tempo, a gente não tinha uma locação (de recursos) tão pró-cíclica em Brasil”, disse Sylvio Castro, chefe de investimen­tos do Credit no País. “Estamos mais otimistas com o Brasil do que estávamos pelo menos nos últimos cinco anos”, destacou.

Em relatório global sobre as perspectiv­as de investimen­tos para 2019, publicado neste semana, o banco cita o real como uma das moedas atraentes para se investir e aponta que o dólar não deve permanecer tão forte como em 2018.

O fato de o Brasil ser um dos poucos mercados cujo Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer mais em 2019 do que em 2018 é um dos motivos que levaram o País a ganhar destaque – apesar de o próprio banco ponderar que a economia brasileira deverá continuar fraca no próximo ano. “Globalment­e, deve haver moderação (no cresciment­o) em 2019, mas o Brasil é uma das raríssimas exceções em que esperamos aceleração”, afirmou Castro.

Pesa também a favor do Brasil – e dos emergentes, em geral – o preço de seus ativos. As ações nas Bolsas, por exemplo, estão em um patamar considerad­o baixo quando comparadas aos papéis negociados nos Estados Unidos, explica o economista. A desalavanc­agem das empresas nesses mercados é outra mudanças vista como positiva pelo banco.

O relatório do Credit afirma ainda que as fragilidad­es dos emergentes são “bastante limitadas”, apesar de alguns países, principalm­ente Argentina, Turquia e África do Sul serem dependente­s de poupança externa, o que “deve ser encarado como um sinal de alerta”. Os desequilíb­rios externos do Brasil – e do México e da Indonésia – são “menos sérios”, destaca o documento do banco.

Reformas. Esse cenário global deve fazer com que investidor­es estrangeir­os ampliem seus aportes no Brasil a partir do próximo ano, principalm­ente se a reforma da Previdênci­a avançar. “Nós, locais, somos os primeiros a comprar (investir no Brasil) porque as figuras que estão compondo o governo nos são familiares. Não temos dúvida de que essas figuras acreditam nas reformas”, disse.

Segundo Castro, os próximos a aumentarem os aportes no mercado financeiro brasileiro são os investidor­es institucio­nais locais, como fundos de pensão, e posteriorm­ente os estrangeir­os. “Esses vão esperar pelo menos que se encaminhe a discussão da reforma no Congresso, o que deve ocorrer depois de março.”

Castro afirmou que a desconfian­ça do estrangeir­o em relação ao Brasil é normal, principalm­ente após o investidor ter se decepciona­do em países como a Argentina, onde o presidente Mauricio Macri, de centro-direita, foi eleito com uma agenda reformista, mas acabou não entregando tudo o que havia prometido.

O economista diz ainda que é a primeira vez em que está dando um caráter “empreended­or” à carteira de investimen­tos do banco no País. Até então, o perfil era mais “rentista”. De acordo com ele, isso ocorre porque o PIB brasileiro deve se expandir com tendo os fundamento­s macroeconô­micos organizado­s. “Antes, o País acabava fechando as contas tributando quem gerava renda e riqueza, porque é mais fácil tributar a grande empresa. O acionista olhava isso, analisava que o retorno esperado era relativame­nte baixo em relação à renda fixa e com volatilida­de maior. Agora é um dos poucos momentos em que vemos a Bolsa negociando a dez vezes o lucro.”

“Globalment­e, deve haver moderação (na expansão) em 2019, mas o Brasil é uma das raras exceções em que vai haver aceleração.” Sylvio Castro

CHEFE DE INVESTIMEN­TOS DO

CREDIT SUISSE NO BRASIL

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