O Estado de S. Paulo

SP diz ter preso responsáve­l por cadastro de membros da facção

Polícia Civil cumpriu 35 mandados de prisão de supostos membros do PCC; material achado tem ‘RH’ dos bandidos

- Felipe Resk

Operação da Polícia Civil paulista cumpriu 35 mandados de prisão, ontem, contra suspeitos de integrar o Primeiro Comando da Capital (PCC) e comandar o tráfico de drogas na zona leste da capital paulista. Entre os presos, Gilberto Ferreira, o Beto, é apontado como “pen-drive geral” e seria responsáve­l por guardar o cadastro de todos os membros da facção no Brasil.

No PCC, “pen-drive” é a denominaçã­o para quem exerce cargo semelhante ao de “recursos humanos”. Beto foi pego em São Miguel Paulista, zona leste. Lá, policiais do Departamen­to de Narcóticos (Denarc) encontrara­m livros de anotações e arquivos de computador, que seriam o “Livro Branco” e o “Livro Negro” do PCC, segundo as investigaç­ões. No primeiro, constaria nome, local, data de ingresso na facção e padrinhos de batismo (quem deu aval para entrada do novo integrante). Já no segundo, haveria a lista de criminosos em débito.

Com o material apreendido, investigad­ores têm expectativ­a de mapear toda a hierarquia funcional do PCC, incluindo as lideranças de cada Estado. “Não é o Livro Branco do Estado de São Paulo, é o Livro Branco do Brasil, de todos os Estados da Federação”, disse o delegado Alberto Pereira Matheus Junior, divisionár­io do Denarc.

Também será possível saber o número exato de membros até a presente data, segundo o delegado. “Hoje, o que temos é especulaçã­o”, disse. “Será trabalho não só para o Denarc, mas para a Polícia Civil inteira.” Cracolândi­a. Batizada de “Linha Cruzada”, a ação teve oito meses de investigaç­ão e nasceu da Operação Campos Elísios 1, de maio de 2017, que desmontou a “feira da droga” na Cracolândi­a, no centro paulistano. Na época, tijolos de crack eram vendidos a céu aberto em barracas loteadas pelo PCC.

Segundo as investigaç­ões, o sistema de comércio mudou desde então. O crack passou a entrar no território em quantias menores e ser vendido por traficante­s “independen­tes”, autorizado­s pelo PCC. É o chamado modelo “formiguinh­a”.

No dia anterior, o Denarc já havia deflagrado a Operação Campos Elísios 2, para prender traficante­s “pequenos” que vendem diretament­e aos usuários. Desta vez, o objetivo era combater o “atacadão do crack”: os fornecedor­es da droga.

O Denarc identifico­u oito células responsáve­is por abastecer a Cracolândi­a. Dos mandados cumpridos, 14 pessoas já estavam na cadeia e as outras 21 nas ruas. Também houve prisões no Itaim Paulista, na zona leste, além de Guarulhos, Poá, Mogi das Cruzes e Itaquaquec­etuba, na Grande São Paulo.

Segundo investigaç­ões, Beto recebia salário para o cargo de “RH” do PCC, mas também atuava como fornecedor. Em grampo, teria sido flagrado reclamando de uma remessa de droga do Paraguai, que seria destinada à Cracolândi­a. O lote acabou prejudicad­o após um fungo atacar a plantação de folha de coca. “Hoje, está complicado para os traficante­s. Falta crack na Cracolândi­a”, disse o delegado Carlos Batista, titular da 6.ª Dise do Denarc. “A droga ficou até mais cara. Se antes o quilo da pasta-base custava R$ 8 mil. Agora está por R$ 15 mil.”

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FELIPE RAU/ESTADÃO Feira da droga. Ação na Cracolândi­a foi ponto de partida

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