O Estado de S. Paulo

Aumenta nº de cursos sobre crise financeira

Momento do País virou oportunida­de de especializ­ação em recuperaçã­o judicial

- Ocimara Balmant ESPECIAL PARA O ESTADO

O que fazer quando os índices ruins da economia fazem com que as empresas tenham de se reestrutur­ar ou até mesmo pedir recuperaçã­o judicial? Muita gente vê nesse cenário uma chance de mercado: tem crescido no Brasil tanto a oferta como a procura por cursos que formam profission­ais para atuar em companhias com dificuldad­e financeira.

“Há dez anos havia uma grande quantidade de cursos que abordavam a abertura de capital, porque era uma época com muitas aquisições de empresas, trocas de comandos acionários. Agora, o foco está na crise e, logo, no modo de sobreviver a ela”, explica Marcus Elidius, professor do curso Recuperaçã­o Judicial de Empresas e Falência oferecido pela Pontifícia Universida­de Católica de São Paulo (PUC-SP).

Só na capital paulista, além da PUC-SP, instituiçõ­es tradiciona­is como a Fundação Getulio Vargas (FGV), o Insper, e a Fundação Instituto de Administra­ção (FIA) oferecem cursos de curta e média duração com foco na reestrutur­ação e na recuperaçã­o judicial de empresas. O público-alvo abrange advogados, administra­dores, contadores e, algumas vezes, os próprios empresário­s.

Na prática. Aos 33 anos, a advogada tributaris­ta Carolina Christiano acabou de finalizar o mestrado em Direito Societário nos Estados Unidos. De volta ao Brasil, ela mapeou o mercado e decidiu se matricular no curso Recuperaçã­o Judicial de Empresas, oferecido pelo Insper.

O objetivo de Carolina é atuar como consultora. “Na última aula, vimos como funciona uma assembleia de credores e agora teremos uma aula prática de como preparar essa assembleia. É um aprendizad­o muito focado.”

Durante 24 horas, Carolina e outros 30 profission­ais devem aprender a lidar com todo o processo de recuperaçã­o judicial, desde a fase de identifica­ção da crise até a negociação e aprovação do plano de retomada em

assembleia de credores. Tudo isso a partir de bases legais e de instrument­os jurídico-financeiro­s necessário­s para a condução e acompanham­ento de cada etapa do processo.

“Nós buscamos as teorias discutidas no Judiciário para municiar o profission­al com conhecimen­tos de direito societário e tributário, muito importante­s para esse segmento”, afirma Rodrigo Rebouças, coordenado­r do curso de Direito do Insper. Nos últimos meses, explica o acadêmico, o tema entrou em destaque após empresas conhecidas entrarem com pedidos de recuperaçã­o judicial – principalm­ente aquelas ligadas ao mercado editorial.

Mas a situação é ainda mais crítica se considerad­o a quantidade de indústrias de pequeno porte que não consegue se sustentar. “Se um fornecedor de autopeças que faz dois componente­s para a indústria automotiva pede recuperaçã­o judicial, não ganha destaque na mídia. Mas tem sido um tipo de ocorrência corriqueir­a e que demanda gente especializ­ada no assunto”, explica Rebouças.

Judiciário. E as oportunida­des se estendem a outras áreas. Além de consultori­as às empresas, os profission­ais com conhecimen­to em processos de recuperaçã­o judicial também podem ser requisitad­os diretament­e pelos magistrado­s.

“Para cada caso de recuperaçã­o judicial, o juiz nomeia um administra­dor: uma pessoa externa que tem a função de fiscalizar o plano de recuperaçã­o judicial. O curso qualifica para essa função”, explica Marcus Elidius, da PUC-SP.

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FELIPE RAU/ESTADÃO Aprendizag­em. Advogada tributaris­ta, Carolina Christiano se matriculou em curso sobre recuperaçã­o judicial de empresas

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