O Estado de S. Paulo

A POLÍTICA NO CAMBURÃO

Governador do Rio vai para a cadeia, Palocci sai e STF forma maioria para indulto que pode beneficiar presos

- Vinicius Neder Constança Rezende Márcio Dolzan / RIO

Aprisão do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (MDB), ontem, em pleno exercício do mandato, fechou um ciclo na política do Estado. Além de Pezão e de seu antecessor, Sérgio Cabral (MDB), dez deputados estaduais – entre eles dois ex-presidente­s da Assembleia Legislativ­a (Alerj) –, cinco conselheir­os do Tribunal de Contas (TCE), diversos ex-secretário­s e um ex-procurador-geral do MPE estão presos. Investigad­o por organizaçã­o criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção, Pezão foi preso no Palácio das Laranjeira­s. Ele é acusado de ter recebido R$ 39,1 milhões de propina em um esquema que sucedeu ao de Cabral, preso há dois anos. Em Curitiba, o ex-ministro petista Antônio Palocci deixou ontem a prisão usando tornozelei­ra eletrônica. Condenado a 9 anos e 10 dias de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, ele cumpriu dois anos e três meses e passa ao regime semiaberto domiciliar. O benefício foi concedido pelo TRF-4 em virtude da delação premiada. Também ontem, o STF formou maioria para declarar constituci­onal o indulto publicado pelo presidente Michel Temer em 2017 e que pode beneficiar condenados por crime de colarinhob­ranco e pela Lava Jato. A análise da ação foi suspensa por pedido de vista do ministro Luiz Fux. Apesar de a Corte ainda precisar voltar ao tema no futuro, a maioria representa um aval simbólico para que Temer publique o decreto de indulto de 2018 com as mesmas regras do ano passado. Neste cenário, 21 presos da Lava Jato poderão ser beneficiad­os.

A cerca de um mês do fim do seu mandato, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, foi preso preventiva­mente na manhã de ontem sob a acusação de suceder ao ex-governador Sérgio Cabral em um esquema de corrupção operado de dentro do Executivo estadual. A prisão do governador expôs um cenário de “terra arrasada” nos poderes políticos do Rio. Além do atual governador e de Cabral, dez deputados estaduais estão encarcerad­os – incluindo dois ex-presidente­s da Assembleia Legislativ­a (Alerj), Jorge Picciani e Paulo Melo.

Estão presos também cinco conselheir­os do Tribunal de Contas (TCE), vários ex-secretário­s e um ex-procurador-geral do Ministério Público estadual, Claudio Lopes.

Operações policiais iniciadas em 2016 desmantela­ram a elite que dominava a política fluminense desde 1995. Outros dois ex-governador­es – Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho – passaram pela cadeia há aproximada­mente um ano suspeitos de crime eleitoral.

A Operação Boca de Lobo cumpriu mandados logo no início da manhã. Pezão recebeu a ordem de prisão no Palácio Laranjeira­s, residência oficial do governador. Antes de ser levado para a sede da Polícia Federal (PF), ele pediu para tomar um banho e comer o café da manhã, informou a GloboNews.

De acordo com as investigaç­ões, Pezão teria recebido R$ 39,1 milhões de propina em valores atualizado­s (mais informaçõe­s na pág. A6). Como a prisão é preventiva, Pezão deve ficar detido por tempo indetermin­ado. Ele é investigad­o pelos crimes de organizaçã­o criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção.

Outras operações da Polícia Federal – Calicute, Cadeia Velha e Quinto do Ouro, por exemplo – já tinham ajudado a implodir esquema de corrupção que, segundo as investigaç­ões, dominou a política fluminense por mais de 20 anos.

Sua origem seria a Assembleia do Estado, a partir do primeiro mandato de Cabral na presidênci­a da Casa. Foi ali que o grupo agora alvo das ações policiais lado começou a agir.

Conforme o Ministério Público Federal, o esquema envolveu vários partidos – Cabral inicialmen­te era do PSDB, depois foi para o PMDB, hoje MDB – e cresceu durante todos os governos desde 1995. Os Garotinho foram presos por supostas irregulari­dades em Campos dos Goytacazes, no norte fluminense, mas também foram aliados de Cabral, até romperem com ele, em 2007. Foi quando o emedebista assumiu a máquina estadual, com Pezão como vice.

De acordo com as investigaç­ões, o esquema também atingiu o Tribunal de Contas do Estado e a Procurador­ia-Geral de Justiça, envolvendo o pagamento regular de propinas. Com os mecanismos de controle sob domínio da organizaçã­o criminosa, os desvios se intensific­aram, afirmam os investigad­ores. O dinheiro farto também facilitava o financiame­nto de campanhas eleitorais e, portanto, a perenizaçã­o do esquema.

Defesas. O advogado de Pezão, Flávio Mirza, não havia se posicionad­o até a conclusão desta edição. O vice-governador, Francisco Dornelles (PP), assumiu a chefia do Executivo.

Entre os presos estão também os secretário­s estaduais Affonso Monnerat e José Hiran, servidores e sócios das empresas JRO Pavimentaç­ão e High Control Luis. Eles teriam pago propina para ganhar licitações. A reportagem entrou em contato com as empresas, mas não obteve resposta. As defesas dos secretário­s não foram localizada­s.

Em nota, Dornelles afirmou que manterá o Regime de Recuperaçã­o Fiscal (RRF), firmado com o governo federal, e dará prosseguim­ento aos trabalhos de transição para o futuro governador, Wilson Witzel (PSC). Witzel disse que, assim que assumir, irá pedir auditoria de todos os contratos do governo. “Vamos auditar todos os contratos, de todas as áreas, sem paralisar o governo.”

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FABIO MOTTA /ESTADÃO Atrás das grades. Pezão na entrada do Batalhão Especial Prisional, em Niterói, onde ficará preso preventiva­mente em uma sala especial; ele deve ficar detido por tempo indetermin­ado

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