Avião cai sobre casas na zona norte e mata dois
Acidente aéreo. Aeronave havia acabado de decolar do Campo de Marte quando caiu, atingindo uma casa e danificando outras duas; piloto e copiloto morreram. Especialistas afirmam que aeroporto é seguro, mas que esse tipo de operação envolve riscos
Um avião de pequeno porte Cessna C210 caiu na tarde de ontem logo após decolar do Aeroporto Campo de Marte, em SP. A aeronave ia para Jundiaí. Piloto e copiloto morreram. Em terra, onze pessoas ficaram feridas. Três casas e sete veículos ficaram danificados.
Um avião de pequeno porte caiu na tarde de ontem na Avenida Antônio Nascimento Moura, perto do Aeroporto Campo de Marte, na zona norte de São Paulo, deixando 2 mortos e 11 feridos. A aeronave atingiu uma casa, mas outras duas também ficaram danificadas, além de sete carros.
O avião, de modelo Cessna C210, havia acabado de decolar do Campo de Marte, às 15h55, com destino a Jundiaí, no interior paulista, quando caiu. Segundo o Corpo de Bombeiros, os corpos do piloto e do copiloto foram retirados dos destroços. As vítimas são Guilherme Murback, de 26 anos, e Leonardo Imamura, de 43.
Murback era apaixonado pela aviação, relatam os amigos. “A vida dele era isso. Pesquisava na internet e mostrava pra gente modelos de avião. Amava pilotar”, contou Pedro Henrique Castaldelli, de 19 anos.
Entre os feridos estão pedestres que passavam pelo local e quem estava dentro das casas atingidas. Dois idosos, moradores do imóvel mais danificado, não se feriram (mais informações nesta pág.). Nenhum dos feridos corre risco de morte.
O motorista de aplicativo Selmo Eugênio da Silva, de 44 anos, levava um passageiro da Barra Funda, na zona oeste, até Santana, zona norte. “O passageiro saiu, passando por cima de mim, mas eu não conseguia. Apertei o botão do cinto, daí saí (do carro). Não sei como escapei do incêndio, veio muito rápido em cima de nós”, disse Silva, que queimou parte do braço. Agora, está preocupado com o passageiro, que, segundo ele, “se queimou bastante”.
A aeronave caiu perto de um posto de gasolina, assustando funcionários. “Ele passou bem baixinho e, depois, teve a explosão. Deu um barulho alto, saiu fumaça preta na hora, ficou um cheiro de fumaça”, disse o frentista Francimar Tomé da Silva, de 47 anos. “Teve correria para ver, tirar fotos.” Segundo o Corpo de Bombeiros, dez viaturas foram deslocadas para o local.
O Campo de Marte fechou para pousos e decolagens até as 16h55, segundo a Infraero. Ele chegou a ser fechado novamente, mas por causa da chuva.
Em nota, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) informou que deu início à investigação sobre o caso. Deverão ser reunidos para análise dados como fotografias, partes da aeronave e documentos, além de relatos de testemunhas. O objetivo, diz o órgão, é evitar novos acidentes com as mesmas características. Ainda não há prazo para conclusão.
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a aeronave era do modelo Cessna C210, prefixo PR-JEE, e comportava até cinco pessoas. Pertencia a um representante da Mitsubishi,
que não estava a bordo. O certificado de registro era válido até 2022, e a inspeção anual de manutenção tinha validade até 13 de dezembro.
Risco. O Campo de Marte, que opera voos executivos e escola de pilotagem, já registrou vários acidentes com aeronaves e helicópteros. Especialista em prevenção de acidentes,
Luiz Alberto Bohrer diz que o aeroporto tem condições regulares e está dentro das normas e regras de segurança. “O aeroporto não é perigoso, mas há risco maior para as casas no entorno. Um risco que há no entorno de qualquer aeroporto”, diz. Para ele, o número alto de acidentes no local pode ser explicado pelo tipo de operação.
Segundo Bohrer, a aviação comercial têm, em geral, maior fiscalização do que a aviação geral. “As exigências e a fiscalização são menores e isso dá margem para que o nível de risco se eleve. O proprietário de um avião pequeno é o responsável pela manutenção da aeronave e pela contratação de pilotos experientes e que respeitem as regras de treinamento.”
Décio Correa, presidente do Fórum Brasileiro de Aviação Civil, diz que uma das causas mais prováveis para um acidente desse tipo é de pane na decolagem. “É a hora em que se exige o máximo possível de potência do motor para a aeronave ganhar altura.” / ANA PAULA NIEDERAUER, BRUNO RIBEIRO, ISABELA PALHARES, JÚLIA MARQUES, MARCO ANTÔNIO CARVALHO, PRISCILA MENGUE e RENAN CACIOLI