O Estado de S. Paulo

Delegado-geral de Doria quer isolar PCC nas prisões

Governador eleito anunciou ontem composição da futura cúpula da Segurança

- Felipe Resk

Atual chefe do Departamen­to de Narcóticos (Denarc), Ruy Ferraz Fontes terá a missão de combater o crime organizado. Ele foi um dos primeiros delegados a investigar o PCC e é considerad­o especialis­ta na facção. Para Fontes, o atual regime prisional em São Paulo é “inadequado”.

Os líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) têm de ficar isolados dos outros presos no sistema penitenciá­rio de São Paulo. Esta é uma das medidas defendidas pelo futuro delegado-geral Ruy Ferraz Fontes, anunciado ontem pelo governador eleito João Doria (PSDB), para combater o crime organizado.

Chefe do Departamen­to de Narcóticos (Denarc), Fontes foi um dos primeiros delegados a investigar o PCC e é considerad­o um especialis­ta na facção. Para ele, o atual regime prisional de lideranças criminosas em São Paulo seria “inadequado”. “Não podem ficar misturados com presos comuns no cárcere”, afirmou ao Estado. “Aqueles que lideram e que exercem influência nos demais membros que estão presos têm de ficar em um regime especial, como em outros países.”

Atualmente, a gestão do governador Márcio França (PSB) tem resistido à pressão do Ministério Público que quer a transferên­cia de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, maior chefe do PCC, para um presídio federal. O entendimen­to é de que seria mais fácil controlar os presos e evitar uma possível reação enquanto estiverem no sistema estadual.

Ontem, o governador eleito, João Doria (PSDB), afirmou que seria “implacável” no combate à facção, mas evitou informar se vai transferir os líderes. “Cabe ao governo atual qualquer decisão até 31 de dezembro”, disse. “Não temos nenhum temor das ações duras que passaremos a exercer em relação às facções, especialme­nte o PCC.”

Para Ferraz, porém, “não necessaria­mente” a solução estaria no cumpriment­o de pena em presídio federal. “A gente precisa de uma reorganiza­ção da legislação que permita exercer controle maior sobre a população carcerária, o que hoje não acontece. Não é porque os governante­s não queiram, é porque efetivamen­te a lei proíbe.”

Questionad­o se medidas mais duras poderiam provocar reação do PCC, Fontes não demonstrou preocupaçã­o. “Eventual retaliação tem de ser debelada pelo Estado. Isso vai acontecer. Se a polícia precisar lidar com o assunto, vai lidar bem.”

Cúpula. Após escolher um general

de Exército para chefiar a Secretaria da Segurança Pública (SSP), Doria também anunciou ontem a criação de dois novos cargos para a pasta: o secretário executivo da Polícia Militar e o da Polícia Civil.

Ex-comandante-geral da PM, ex-vereador e deputado estadual,

o coronel Alvaro Batista Camilo (PSD) vai assumir a recém-criada Secretaria Executiva da Polícia Militar. Ele ajudou a elaborar o programa de segurança de Doria e chegou a ser cotado para assumir a SSP.

Já na Polícia Civil, o cargo será ocupado por Youssef Abou

Chahin, que foi delegado-geral de 2015 até abril, mas deixou o cargo após o atual governador, Márcio França, assumir o Palácio dos Bandeirant­es.

Para o general João Camilo Pires de Campos, a criação dos novos cargos foi uma “solução espetacula­r”. “Eles serão meus grandes orientador­es e consultore­s. Para os seus órgãos, que já conhecem bastante, serão os grandes facilitado­res”, diz. Segundo afirma, os executivos serão seus “substituto­s eventuais” e terão a função de estabelece­r programas e projetos de segurança. “Posso discutir muita coisa com eles para que, depois, a gente chegue nas ações.”

Doria também irá manter no comando-geral da PM o coronel Marcelo Vieira Salles, nomeado por França em abril. Desde então, há bons resultados em índices de crimes patrimonia­is, como roubos.

A nova cúpula das polícias, porém, ainda não tem membro da Polícia Técnico-Científica. “A falha é minha. Não tive tempo ainda de conversar com peritos”, disse o general Campos. “Será uma área extremamen­te prestigiad­a, são fundamenta­is para o processo de investigaç­ão.”

 ?? FOTOS TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO ?? Ruy Ferraz Fontes. Chefe do Denarc (segundo da esquerda para a direita), ele é considerad­o um especialis­ta em PCC
FOTOS TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Ruy Ferraz Fontes. Chefe do Denarc (segundo da esquerda para a direita), ele é considerad­o um especialis­ta em PCC

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