O Estado de S. Paulo

Presidente eleito defende fusão Boeing-Embraer

‘Se Embraer continuar solteira, a tendência é que desapareça’, afirmou presidente eleito

- /DANIEL WETERMAN, ENVIADO ESPECIAL A GUARATINGU­ETÁ (SP), E LUCIANA DYNIEWICZ

Em meio às negociaçõe­s finais para a venda da Embraer para a Boeing, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, afirmou que seu governo dará aval para o acordo. “Sou favorável a ela (venda). Entendo que a Embraer, se continuar solteira como está, a tendência é que desapareça”, disse ontem, após participar de uma formatura de sargentos na Escola de Especialis­tas de Aeronáutic­a, em Guaratingu­etá (SP).

O governo brasileiro tem uma ação especial na Embraer, a chamada “golden share”, um resquício da época em que a empresa era estatal. Essa ação dá ao governo poder de veto na venda da companhia. A intenção das fabricante­s de aviões, porém, é apresentar os termos finais da operação ainda na presidênci­a de Michel Temer, que tem acompanhad­o as negociaçõe­s desde o início e é favorável ao acordo.

O cronograma da transação está atrasado. Quando a venda foi anunciada, no início de julho, o presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, destacou que as empresas pretendiam entregar os documentos para a avaliação final do governo entre o fim de outubro e o começo de novembro.

Após o governo aprovar a venda, o negócio precisará do aval dos acionistas da Embraer. A convocação da assembleia precisa ser feita com 30 dias de antecedênc­ia, o que torna praticamen­te inviável a conclusão do trâmite neste ano. O aceno de Bolsonaro ontem, no entanto, é um indicativo de que as companhias não deverão ter dificuldad­es na operação, que ainda estará sujeita aos órgãos concorrenc­iais. A expectativ­a é que Embraer e Boeing passem a operar de forma conjunta no fim do próximo ano.

O acordo prevê a venda de 80% da área de aviação comercial da Embraer para a Boeing e a criação de uma joint venture – com a brasileira como sócia majoritári­a – no segmento de defesa. O porcentual de participaç­ão da Embraer nessa joint venture ainda não foi divulgado.

O Estado apurou que, na empresa de aviação comercial que surgirá com o acordo, a Embraer terá um assento no conselho de administra­ção, mas sem poder de decisão, apenas de acompanham­ento. Essa foi uma exigência da Boeing, que quer ter agilidade nas decisões.

O negócio, entretanto, ficou aquém do que pretendia a fabricante de aviões americana. A Boeing começou as conversas com a pretensão de levar toda a empresa brasileira, o que incluiria as divisões comercial, executiva e de defesa. As Forças Armadas se posicionar­am contra a venda do braço de defesa.

Para analistas de mercado, a venda da Embraer se tornou praticamen­te inevitável quando a concorrent­e Bombardier se aliou à Airbus, tornando o setor mais competitiv­o.

 ?? SERGIO CASTRO/ESTADÃO - 24/10/2014 ?? Nova empresa. Embraer terá um assento no conselho, mas sem poder de decisão
SERGIO CASTRO/ESTADÃO - 24/10/2014 Nova empresa. Embraer terá um assento no conselho, mas sem poder de decisão

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil