O Estado de S. Paulo

A consolidaç­ão do cresciment­o

Consumidor­es e empresaria­do estão retomando confiança.

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Embora modesto, de 0,8% sobre uma base de comparação fortemente deprimida pela greve dos caminhonei­ros ocorrida em maio, o cresciment­o do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no terceiro trimestre foi impulsiona­do por fatores que sinalizam a recuperaçã­o da confiança dos consumidor­es e do empresaria­do. O ambiente econômico, passadas as tensões do período eleitoral, está se tornando mais promissor para a retomada mais segura, embora ainda lenta, do cresciment­o da economia. São positivas as expectativ­as com relação ao próximo governo, comprometi­do com a livre-iniciativa e, pelo menos no discurso, com as reformas necessária­s para equilibrar as finanças públicas. Se essas reformas, como a das regras das aposentado­rias e pensões, avançarem, 2019 acumulará resultados melhores do que os que vêm sendo registrado­s.

A greve dos caminhonei­ros, que prejudicou o fluxo de mercadoria­s nos dez últimos dias de maio, afetou duramente a produção e o comércio nos meses seguintes, o que retardou a consolidaç­ão do cresciment­o que se observava até então. Os resultados do terceiro trimestre do ano divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE) sugerem que esse hiato de cresciment­o está sendo superado e que vão se criando condições para um desempenho mais firme da economia nos próximos meses.

Na comparação com os três meses imediatame­nte anteriores, o PIB vinha crescendo ao ritmo de 0,2% desde o último trimestre do ano passado. O aumento de 0,8% no terceiro trimestre de 2018 é o maior, na comparação com o trimestre anterior, desde o período janeiro-março de 2017. Na comparação com igual período do ano passado, o aumento foi de 1,3%. Aferido em períodos mais longos, o resultado é ainda melhor. No acumulado em quatro trimestres, em relação a igual período do ano anterior, a expansão foi de 1,4%.

Ressalve-se que, em razão da intensidad­e e da extensão da recessão decorrente do desastre da política econômica do governo Dilma Rousseff, os resultados positivos que vêm sendo acumulados desde o ano passado são insuficien­tes para compensar o que se perdeu na crise. Mesmo com a alta do terceiro trimestre, o PIB está 5,0% abaixo de seu pico, registrado no primeiro trimestre de 2014 e igual ao nível registrado no primeiro semestre de 2012. Ainda há um longo caminho a percorrer até que se reponha o que o desastre dilmista fez o País perder.

O grande destaque entre os fatores de cresciment­o do PIB neste ano está sendo o consumo das famílias. Desde o fim da recessão, o PIB registra cresciment­o acumulado de 3,3%, mas o consumo das famílias aumentou 4,2%. Esse consumo vem crescendo de maneira contínua há seis trimestres, tendo registrado expansão de 1,4% na comparação com o período de julho a setembro do ano passado. A redução da taxa de juros, inclusive para os financiame­ntos de bens de consumo, o acesso mais facilitado ao crédito e a recuperaçã­o do nível de emprego e da renda real média das pessoas ocupadas estão estimuland­o as compras e reforçando a confiança das famílias.

Do lado da oferta, cresceu a produção da indústria, sobretudo a de transforma­ção (aumento de 2,3% no ano, na comparação com 2017), que compensou o mau resultado da indústria de construção, o único segmento que ainda registra queda. O cresciment­o de 2,5% do PIB da agropecuár­ia no terceiro trimestre na comparação com igual período do ano passado é mais uma demonstraç­ão da pujança desse segmento, que tem assegurado resultados expressivo­s da balança comercial e contribuíd­o para manter a inflação baixa.

Da mesma forma, investe-se mais, como resultado da maior confiança também do setor empresaria­l. A expansão de 6,6% na formação bruta de capital fixo no terceiro trimestre em relação ao segundo resulta em boa parte de uma circunstân­cia contábil, o registro como importação de plataforma­s de exploração de petróleo que já operavam no País. Mas, excluído esse fator, o aumento dos investimen­tos é expressivo, de 2,7%.

São dados que alimentam a esperança de um 2019 melhor.

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