O Estado de S. Paulo

Aos 80 anos, conquistas e desafios do GSI

- SERGIO WESTPHALEN ETCHEGOYEN GENERAL DE EXÉRCITO, É DESDE MAIO DE 2016 O MINISTRO-CHEFE DO GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIO­NAL DA PRESIDÊNCI­A DA REPÚBLICA

Neste 1.º de dezembro, o Gabinete de Segurança Institucio­nal (GSI) completa 80 anos de bons serviços prestados ao Brasil. A história do órgão é o resultado da longa maturação, através das décadas, de uma ideia tão simples quanto intuitiva: a de que o chefe de Estado, num país da complexida­de e das dimensões do Brasil, não pode prescindir de assessoria pessoal e direta em questões atinentes à segurança nacional.

Esse foi o raciocínio que inspirou o Decreto-Lei n.º 920, de 1.º de dezembro de 1938, que bipartiu a estrutura da Presidênci­a da República num Gabinete Civil e um Gabinete Militar. Dentre as funções herdadas pelo segundo estava a de coordenar os trabalhos do Conselho de Segurança Nacional, órgão que havia sido criado em 1927 para o “estudo e coordenaçã­o de informaçõe­s sobre todas as questões de ordem financeira, econômica, bélica e moral relativas à defesa da Pátria”.

Outra atribuição por excelência do Gabinete Militar, ainda hoje desempenha­da pelo GSI, era a de garantir a segurança do primeiro mandatário. A rigor, esse trabalho já vinha sendo desempenha­do por um EstadoMaio­r do presidente da República desde 1891. E nesse labor o coronel Luís Mendes de Morais se tornou herói ao salvar a vida do presidente Prudente de Morais, num atentado perpetrado no cais do Porto do Rio, em 1897.

Ao longo das décadas, esse Gabinete Militar foi chefiado por brasileiro­s notáveis, que ajudaram a construir a sua história e a sua cultura institucio­nal. Entremente­s, suas funções foram se expandindo ao sabor das necessidad­es. Em 1946, por exemplo, foi na órbita do Conselho de Segurança Nacional que se estabelece­u um Serviço Federal de Informaçõe­s e Contrainfo­rmações (Sfici), o ancestral mais remoto de nossa Agência Brasileira de Inteligênc­ia (Abin). Mais adiante, à medida que se reforçavam a estrutura do conselho e do próprio Gabinete Militar, este assumiu atividades tão variadas quanto dar o “assentimen­to prévio” a atividades econômicas em “áreas indispensá­veis à segurança nacional” ou coordenar a governança de programas estratégic­os para o desenvolvi­mento nacional, como o programa nuclear ou o aeroespaci­al.

Após assumir a chefia de Estado, o presidente Michel Temer rapidament­e demonstrou subscrever o raciocínio que inspirou a criação do que hoje chamamos GSI. Como deputado constituin­te, ele próprio, em 1988, ajudou a assentar o entendimen­to de que aquele antigo Conselho de Segurança Nacional, agora rebatizado Conselho de Defesa Nacional, tem por objetivo orientar o presidente da República “nos assuntos relacionad­os com a soberania nacional e a defesa do Estado democrátic­o”. Natural, portanto, que o Gabinete de Segurança Institucio­nal, que continua a coordenar os trabalhos daquele organismo, tivesse de se preparar adequadame­nte para cumprir as suas funções.

De lá para cá, os progressos mais notáveis se deram no domínio da inteligênc­ia. Em pouco mais de dois anos pudemos iniciar a recomposiç­ão do quadro de pessoal da Abin e expandir a sua presença internacio­nal, hoje escorada em 20 adidâncias pelo mundo (vocação natural de uma agência de inteligênc­ia de Estado).

Para além disso, nesse mesmo período a atividade de inteligênc­ia experiment­ou um enorme aperfeiçoa­mento legal. Com a adoção de uma Política Nacional de Inteligênc­ia, em junho de 2016, e dos documentos subsidiári­os que a complement­am, a comunidade de inteligênc­ia passou a contar com um referencia­l normativo muito mais claro sobre que riscos e ameaças deve monitorar na defesa dos valores do próprio Estado democrátic­o.

Essa foi apenas uma das manifestaç­ões da atenção que o atual presidente dispensou às atividades coordenada­s pelo GSI. Muito desse zelo se deve ao reconhecim­ento do patriotism­o com que os profission­ais do Gabinete de Segurança Institucio­nal o assessorar­am na tomada de decisões de Estado. Mas outro tanto se deve à correta percepção de que um país como o Brasil, com a inserção internacio­nal que as suas próprias dimensões lhe impõem, e com os enormes desafios postos à sua segurança e ao seu desenvolvi­mento, precisa aprimorar continuame­nte seu processo de reflexão e decisão acerca dos temas mais estratégic­os.

Considerem­os temas como o tráfico internacio­nal de drogas e armas, que estão na gênese da inseguranç­a que campeia em todas as regiões do nosso país; pensemos na grave crise política e social vivida por um país vizinho e amigo, caso da Venezuela, e nas repercussõ­es dramáticas que essa situação impôs a uma das regiões mais remotas do nosso país, com o afluxo inaudito de migrantes; levemos em conta a necessária coordenaçã­o de ministério­s e agências imprescind­íveis para que avancemos em nossos programas nuclear ou aeroespaci­al, em pleno respeito aos nossos compromiss­os internacio­nais; tenhamos em mente, por fim, a conveniênc­ia de atualizaçã­o de nosso marco normativo sobre a exploração de recursos estratégic­os, tais como o urânio e o nióbio – e concluirem­os que o Conselho de Defesa Nacional será cada vez mais um elemento imprescind­ível no processo decisório de mais alto nível em nosso país.

Investir-se plenamente dessa função, chamando a si a obrigação de trazer à mesa, regularmen­te, todos os ministério­s e agências competente­s, para daí extrair os elementos que ajudarão o chefe de Estado na tomada de decisão, esse é o maior desafio posto à atuação futura do GSI. À luz da experiênci­a acumulada em 80 anos de atuação, e graças aos avanços obtidos nos últimos dois anos, parece claro que o Gabinete de Segurança Institucio­nal está inteiramen­te capacitado para exercêla a contento, mantendo em evidência o compromiss­o expresso no seu lema: “Trabalhar para a garantia da segurança do Estado Brasileiro”.

Brasil precisa aprimorar continuame­nte reflexão e decisão acerca dos temas mais estratégic­os

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