O Estado de S. Paulo

Almirante Bento vai comandar ministério de Minas e Energia

Transição. Bento Costa Lima, anunciado ontem por Bolsonaro, é o sexto militar escolhido para atuar no primeiro escalão do governo; a expectativ­a, por conta de seu perfil, é que ele dê mais atenção a projetos nucleares, como a usina de Angra 3, que está pa

- André Borges / BRASÍLIA COLABOROU LUCIANA COLLET

A nomeação do almirante Bento Costa Lima Leite para o comando do Ministério de Minas e Energia, sexto militar escolhido pelo futuro presidente Jair Bolsonaro para atuar no primeiro escalão do governo, deve fortalecer o desenvolvi­mento de tecnologia­s nucleares no País, um setor que, nos últimos anos, passou por uma série de dúvidas quanto ao seu futuro.

Bento é um entusiasta da tecnologia nuclear e hoje ocupa o cargo de diretor-geral de Desenvolvi­mento Nuclear e Tecnológic­o da Marinha. Nos últimos anos, ele se concentrou no projeto do submarino de propulsão nuclear, que tem sido desenvolvi­do pelo Brasil em parceria com a França. O submarino, que já teve seu projeto básico aprovado, é avaliado em R$ 35 bilhões. A expectativ­a é que sua construção se inicie em 2022. Bento também coordena as atividades de construção de quatro submarinos convencion­ais.

Ao longo deste ano, o futuro ministro de Minas e Energia fez diversas palestras sobre o programa nuclear brasileiro. Bento também tem conduzido as operações do Centro Experiment­al de Aramar (CEA), da Marinha, em Iperó (SP). A ambição dos militares é transforma­r a região no maior polo de desenvolvi­mento nuclear do País.

Uma vez no governo, Bento deverá dar um destino às obras paralisada­s da usina nuclear de Angra 3. Projeto do período militar, Angra 3 começou a ser erguida em 1984. Suas obras prosseguir­am até 1986, mas depois ficariam paralisada­s por 25 anos, até serem retomadas em 2009 pelo ex-presidente Lula. O empreendim­ento travaria novamente em 2015, por causa de denúncias da Lava Jato. Hoje o Brasil possui apenas duas usinas nucleares, Angra 1 e 2, que respondem por apenas 1,3% da energia total que é produzida no País.

A cúpula de transição de Bolsonaro já deu sinais de que pretende concluir a usina (leia mais acima). Bento também defende a exploração da tecnologia nuclear como incentivo ao desenvolvi­mento da tecnologia de enriquecim­ento e produção nacional do combustíve­l nuclear.

Esse combustíve­l é retirado do urânio, um mineral encontrado em grande quantidade na Bahia, onde há uma planta em operação da estatal Indústria Nucleares do Brasil (INB), ligada ao MME. O minério é um monopólio da União, por isso só pode ser explorado pela INB. Apesar de o Brasil dominar o conhecimen­to sobre o enriquecim­ento do urânio para produção das pastilhas de combustíve­l usadas nas usinas, a etapa final dessa produção continua a ser feita na Europa.

A atenção para projetos nucleares pode até ressuscita­r planos antigos, como a proposta de erguer quatro usinas desse tipo no País, iniciativa defendida pela ex-presidente Dilma Rousseff. Os projetos estavam em etapas avançadas até meados de 2011, quando o incidente nuclear de Fukushima, no Japão, colocou as propostas na gaveta.

A escolha do almirante foi recebida com grande surpresa por profission­ais do setor elétrico, que pouco conhecem o futuro ministro e seu trabalho. Quem esperava a indicação de um técnico, como o economista

Luciano de Castro, atualmente na Universida­de de Iowa, se frustrou. Mas houve alívio por não terem seguido com as indicações deputados sugeridos pela bancada evangélica. “Dentre as possibilid­ades, consideran­do toda uma composição política que o próximo governo precisa fazer, foi uma escolha”, disse o presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica, Alexei Vivan.

Para um profission­al do setor, com a indicação, Bolsonaro deu uma forte sinalizaçã­o de que está preocupado com a segurança nacional do País do ponto de vista energético e que o novo ministro vai avançar na agenda de leilões para promover mais investimen­tos.

“Dentre as possibilid­ades, consideran­do toda uma composição política que o próximo governo precisa fazer, foi uma escolha”, Alexei Vivan

PRESIDENTE DA ASS. BRASILEIRA DE

COMPANHIAS DE ENERGIA ELÉTRICA

 ?? MARINHA DO BRASIL-8/12/2015 ?? Biografia. Futuro ministro iniciou sua carreira na Marinha do Brasil em 1973
MARINHA DO BRASIL-8/12/2015 Biografia. Futuro ministro iniciou sua carreira na Marinha do Brasil em 1973
 ?? FABIO MOTTA/ESTADÃO - 10/12/2015 ?? Angra 3. Novo ministro deve dar sequência às obras paralisada­s da usina iniciada em 1984
FABIO MOTTA/ESTADÃO - 10/12/2015 Angra 3. Novo ministro deve dar sequência às obras paralisada­s da usina iniciada em 1984

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