Almirante Bento vai comandar ministério de Minas e Energia
Transição. Bento Costa Lima, anunciado ontem por Bolsonaro, é o sexto militar escolhido para atuar no primeiro escalão do governo; a expectativa, por conta de seu perfil, é que ele dê mais atenção a projetos nucleares, como a usina de Angra 3, que está pa
A nomeação do almirante Bento Costa Lima Leite para o comando do Ministério de Minas e Energia, sexto militar escolhido pelo futuro presidente Jair Bolsonaro para atuar no primeiro escalão do governo, deve fortalecer o desenvolvimento de tecnologias nucleares no País, um setor que, nos últimos anos, passou por uma série de dúvidas quanto ao seu futuro.
Bento é um entusiasta da tecnologia nuclear e hoje ocupa o cargo de diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha. Nos últimos anos, ele se concentrou no projeto do submarino de propulsão nuclear, que tem sido desenvolvido pelo Brasil em parceria com a França. O submarino, que já teve seu projeto básico aprovado, é avaliado em R$ 35 bilhões. A expectativa é que sua construção se inicie em 2022. Bento também coordena as atividades de construção de quatro submarinos convencionais.
Ao longo deste ano, o futuro ministro de Minas e Energia fez diversas palestras sobre o programa nuclear brasileiro. Bento também tem conduzido as operações do Centro Experimental de Aramar (CEA), da Marinha, em Iperó (SP). A ambição dos militares é transformar a região no maior polo de desenvolvimento nuclear do País.
Uma vez no governo, Bento deverá dar um destino às obras paralisadas da usina nuclear de Angra 3. Projeto do período militar, Angra 3 começou a ser erguida em 1984. Suas obras prosseguiram até 1986, mas depois ficariam paralisadas por 25 anos, até serem retomadas em 2009 pelo ex-presidente Lula. O empreendimento travaria novamente em 2015, por causa de denúncias da Lava Jato. Hoje o Brasil possui apenas duas usinas nucleares, Angra 1 e 2, que respondem por apenas 1,3% da energia total que é produzida no País.
A cúpula de transição de Bolsonaro já deu sinais de que pretende concluir a usina (leia mais acima). Bento também defende a exploração da tecnologia nuclear como incentivo ao desenvolvimento da tecnologia de enriquecimento e produção nacional do combustível nuclear.
Esse combustível é retirado do urânio, um mineral encontrado em grande quantidade na Bahia, onde há uma planta em operação da estatal Indústria Nucleares do Brasil (INB), ligada ao MME. O minério é um monopólio da União, por isso só pode ser explorado pela INB. Apesar de o Brasil dominar o conhecimento sobre o enriquecimento do urânio para produção das pastilhas de combustível usadas nas usinas, a etapa final dessa produção continua a ser feita na Europa.
A atenção para projetos nucleares pode até ressuscitar planos antigos, como a proposta de erguer quatro usinas desse tipo no País, iniciativa defendida pela ex-presidente Dilma Rousseff. Os projetos estavam em etapas avançadas até meados de 2011, quando o incidente nuclear de Fukushima, no Japão, colocou as propostas na gaveta.
A escolha do almirante foi recebida com grande surpresa por profissionais do setor elétrico, que pouco conhecem o futuro ministro e seu trabalho. Quem esperava a indicação de um técnico, como o economista
Luciano de Castro, atualmente na Universidade de Iowa, se frustrou. Mas houve alívio por não terem seguido com as indicações deputados sugeridos pela bancada evangélica. “Dentre as possibilidades, considerando toda uma composição política que o próximo governo precisa fazer, foi uma escolha”, disse o presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica, Alexei Vivan.
Para um profissional do setor, com a indicação, Bolsonaro deu uma forte sinalização de que está preocupado com a segurança nacional do País do ponto de vista energético e que o novo ministro vai avançar na agenda de leilões para promover mais investimentos.
“Dentre as possibilidades, considerando toda uma composição política que o próximo governo precisa fazer, foi uma escolha”, Alexei Vivan
PRESIDENTE DA ASS. BRASILEIRA DE
COMPANHIAS DE ENERGIA ELÉTRICA