O Estado de S. Paulo

45% dos hospitais da Venezuela sofrem roubos

Má qualidade de serviços de saúde provoca a ira da população e agressões a médicos e enfermeira­s são comuns no país

- CARACAS

Os 40 hospitais mais importante­s da Venezuela são cenários frequentes de roubos e de agressões de pacientes contra a equipe médica, revela estudo da ONG Rede de Médicos pela Saúde na Venezuela. A pesquisa, feita semanalmen­te, indica que 45% desses hospitais foram roubados.

Quatro de cada dez unidades pesquisada­s são palco de disparos de armas de fogo. Mesmo com a escassez de insumos, os assaltos são frequentes e maquinário hospitalar é furtado para ser revendido.

A situação ruim dos serviços de saúde, sem remédios, material para exames e até mesmo água e sabão em alguns casos, provoca a ira da população. Segundo o levantamen­to, foram registrada­s agressões contra médicos e enfermeira­s em 62% dos centros de saúde que participar­am da pesquisas.

“Quando chega um pai com um filho asmático e o médico lhe diz que não há remédio para a asma, a primeira reação de um parente pode ser violenta contra o plantonist­a”, disse o diretor da ONG, Julio Castro.

Protestos dos profission­ais de saúde contra as más condições de trabalho são frequentes. Só na última semana foram 34 em 40 hospitais. “Onde há maior escassez de insumos médicos, os protestos são mais comuns, mas há reclamaçõe­s contra atrasos de salários e benefícios.”

Em 62% dos hospitais foram registrado­s apagões – em 70%, já houve corte de água. É comum faltar alimentos para os pacientes e 43% dos laboratóri­os de exames de sangue estão fechados, assim como 51% dos exames de imagens mais básicos, como o Raio-X. A escassez média de remédios é estimada em 80%. Seis em cada 10 prontos-socorros não têm remédio para hipertensã­o, enfarte ou anestésico­s.

Segundo Castro, a severa crise econômica do país faz com que, mesmo com todos esses problemas, os hospitais públicos continuem superlotad­os, porque a população não tem acesso a planos de saúde nem a hospitais privados. A ONG disse que muitos dos médicos da rede pública têm medo de participar da pesquisa por represália dos diretores.

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HENRY ROMERO/REUTERS-8/9/2018

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