O Estado de S. Paulo

‘Desce a tropa, sobe o marginal’

- Roberto Godoy

Odia 1.º de janeiro de 2019 nas áreas conflagrad­as do Rio tem grandes chances de ser marcado pelo disparo de fogos de artifício – muito barulho e nada a ver com a comemoraçã­o do ano-novo. O fim da intervençã­o militar depois de apenas dez meses de operações será marcada pelo movimento “desce a tropa, sobe o marginal”, na definição de um oficial da área de planejamen­to do processo. “Dia de festa no morro e de frustração para nós”, diz, amargurado.

O legado será a produção do mais completo diagnóstic­o da crise na segurança pública fluminense e as linhas principais de um projeto para recuperar o controle na área. Não existe solução rápida e fácil. As propostas tratam da avaliação e reciclagem do pessoal das polícias, um efetivo de cerca de 40 mil agentes. E também de um elenco de providênci­as de revitaliza­ção que podem durar até seis anos, passando pela reorganiza­ção, definição de novos padrões de seleção e formação, reequipame­nto e treinament­o.

O anúncio do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), de que não pretende renovar o mandato da intervençã­o era esperado. Em fevereiro, a tropa foi para a missão sem planejamen­to, de surpresa, de forma inadequada e por consequênc­ia de uma decisão voluntario­sa.

Como em outras ações em que o Exército, a Marinha e a Aeronáutic­a foram designados para atuar associados com grupos de segurança pública, ficou clara a diferença de foco – soldado é soldado, polícia é polícia. As missões são diferentes, os meios também. Os conceitos, mais ainda.

Há três meses os 5,8 mil tiroteios contabiliz­ados no Rio ao longo de 28 dias eram um indicador poderoso de que o teatro de operações era isso mesmo – um cenário de guerra, urbana e sangrenta, com mortes de civis e zonas de exclusão decretadas por facções e milícias. Não era um confronto para ser tratado à meia-força.

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