‘Desce a tropa, sobe o marginal’
Odia 1.º de janeiro de 2019 nas áreas conflagradas do Rio tem grandes chances de ser marcado pelo disparo de fogos de artifício – muito barulho e nada a ver com a comemoração do ano-novo. O fim da intervenção militar depois de apenas dez meses de operações será marcada pelo movimento “desce a tropa, sobe o marginal”, na definição de um oficial da área de planejamento do processo. “Dia de festa no morro e de frustração para nós”, diz, amargurado.
O legado será a produção do mais completo diagnóstico da crise na segurança pública fluminense e as linhas principais de um projeto para recuperar o controle na área. Não existe solução rápida e fácil. As propostas tratam da avaliação e reciclagem do pessoal das polícias, um efetivo de cerca de 40 mil agentes. E também de um elenco de providências de revitalização que podem durar até seis anos, passando pela reorganização, definição de novos padrões de seleção e formação, reequipamento e treinamento.
O anúncio do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), de que não pretende renovar o mandato da intervenção era esperado. Em fevereiro, a tropa foi para a missão sem planejamento, de surpresa, de forma inadequada e por consequência de uma decisão voluntariosa.
Como em outras ações em que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica foram designados para atuar associados com grupos de segurança pública, ficou clara a diferença de foco – soldado é soldado, polícia é polícia. As missões são diferentes, os meios também. Os conceitos, mais ainda.
Há três meses os 5,8 mil tiroteios contabilizados no Rio ao longo de 28 dias eram um indicador poderoso de que o teatro de operações era isso mesmo – um cenário de guerra, urbana e sangrenta, com mortes de civis e zonas de exclusão decretadas por facções e milícias. Não era um confronto para ser tratado à meia-força.