China suspende pesquisa sobre edição genética em bebês
Cientista foi alvo de críticas após anunciar suposto experimento esta semana. Unesco condenou estudo
O governo chinês suspendeu anteontem os estudos de edição genética do cientista He Jiankui. A decisão foi tomada após o pesquisador anunciar que teria gerado os primeiros bebês geneticamente modificados da história, cujos embriões supostamente tiveram o DNA modificado para inibir o vírus HIV. Ontem, a Organização das Nações Unidas (ONU) também criticou a pesquisa.
O experimento foi criticado durante toda a semana entre pesquisadores, universidades e autoridades locais. Em entrevista a uma TV local, o vice-ministro da Ciência e Tecnologia, Xu Nanping, chamou o experimento de “ilegal” e “inaceitável”. Além disso, ressaltou que He será investigado. “Esse incidente viola de maneira flagrante as leis e normas chinesas, e transpassa abertamente os limites da moral e da ética da comunidade universidade.”
He é professor associado da Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul, de Shenzhen, que declarou desconhecer o experimento. O trabalho também é investigado pela Comissão Nacional de Saúde da China. A pesquisa não foi detalhada em nenhum artigo científico e, até o momento, não foi realizado estudo independente para aferir que a edição genética foi realmente realizada.
O chinês também foi criticado por pesquisadores e universidades. O presidente da conferência, David Baltimore, vencedor do Prêmio Nobel, disse que o caso expõe a “carência de autorregulação da comunidade científica por causa da falta de transparência”.
Cientistas apontam, ainda, que alterações no DNA de embriões que serão implantados podem trazer riscos ao desenvolvimento dos bebês. Em vários países, como os Estados Unidos, a prática é proibida. “É um avanço verdadeiramente inaceitável”, declarou Jennifer Doudna, da Universidade da Califórnia (EUA) e uma das inventoras da tecnologia utilizada pelo cientista chinês.
Em conferência na terça-feira, He disse que os bebês foram beneficiados com a mudança genética. “Precisam dessa proteção, pois não há vacina anti-HIV.” O experimento teria sido feito com oito casais voluntários, nos quais os homens eram soropositivos.
Unesco. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), da ONU, alertou sobre o “uso imprudente” da edição genética. A entidade pediu cautela no uso desse tipo de técnica até que se prove sua segurança./AGÊNCIAS