O Estado de S. Paulo

Investimen­tos têm cresciment­o ‘artificial’

Fim de benefício fiscal para petroleira­s faz empresas ‘importarem’ equipament­os que já estavam aqui, elevando a taxa de investimen­tos

- Daniela Amorim Vinicius Neder / RIO / COLABORARA­M MARIA REGINA SILVA E CAIO RINALDI

Os investimen­tos na economia cresceram 6,6% na passagem do segundo trimestre para o terceiro trimestre do ano, embora tenham sido artificial­mente turbinados pelas mudanças nas regras do Repetro, o regime especial de tributação da indústria de petróleo e gás.

Criado em 1999, o Repetro desonerava a importação de equipament­os, desde que não fossem incorporad­os ao estoque de capital do País. A restrição deu origem a uma manobra das petroleira­s, para aproveitar o benefício fiscal. As plataforma­s fabricadas no Brasil eram “vendidas” a subsidiári­as no exterior, que alugavam as instalaçõe­s de volta para a companhia brasileira. No entanto, as plataforma­s permanecia­m produzindo em território brasileiro, só se alterava a titularida­de.

Essa manobra garantia às petroleira­s um benefício fiscal, mas, nas estatístic­as do Produto Interno Bruto (PIB), subdimensi­onava os investimen­tos. Afinal, uma atividade que era registrada como exportação, na verdade, tinha efeitos na economia real brasileira.

Em março passado, a Receita Federal mudou as regras do Repetro. Desonerou também os equipament­os com permanênci­a definitiva no País e determinan­do que as manobras fossem desfeitas até o fim de 2019. As empresas que tinham feito a exportação fictícia de plataforma­s no passado passaram a desfazer o esquema, transferin­do os equipament­os de suas subsidiári­as no exterior para as sedes no Brasil. Essas transferên­cias estão sendo registrada­s agora como importaçõe­s, com impacto também sobre os investimen­tos. O Estadão/Broadcast havia antecipado há duas semanas que as mudanças teriam efeito positivo no PIB.

Nas contas do IBGE, se não fossem as mudanças no Repetro, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida dos investimen­tos no PIB) teria avançado 2,7% no terceiro trimestre ante igual período de 2017, em vez dos 7,8% de alta efetivamen­te registrado­s. Mesmo a alta de 2,7% já seria a quarta seguida, mantendo o mesmo ritmo dos trimestres anteriores.

“Independen­te de qualquer coisa, a gente teria taxa positiva dos investimen­tos. Não mudaria o sinal, mas mudaria a magnitude”, afirmou Rebeca Palis, coordenado­ra de Contas Nacionais do IBGE. Ele disse que houve cresciment­o na produção interna e na importação de bens de capital no terceiro trimestre.

Efeito. Apesar do efeito estatístic­o, o impacto prático do fenômeno das plataforma­s na economia real foi nulo, explicou Rebeca. Isso porque as importaçõe­s contribuem negativame­nte para o cálculo da atividade econômica, compensand­o assim o cresciment­o exacerbado dos investimen­tos.

“O investimen­to caiu mais de 30% de 2014 até a metade de 2017, o que é absurdamen­te alto. Houve um desinvesti­mento enorme na economia durante a crise. Mesmo depois, ainda mantiveram-se fracos. Acho que recomeçou o ciclo de investimen­to, mas não é hora de euforia ainda”, disse Fabio Bentes, chefe da Divisão Econômica da Confederaç­ão Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

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