O Estado de S. Paulo

O que o PIB não revela

- Maurício Molon

OPIB recém divulgado mostra que o Brasil tem crescido a um ritmo médio de 1,3% ao ano desde o final de 2017, com expansão, ainda que lenta, tanto de consumo quanto de investimen­tos (evidencian­do que a capacidade ociosa constrange mas não impede a expansão da formação de capital).

O dado do IBGE sinaliza que ainda estamos 5% abaixo do pico observado no início de 2014. E que, à velocidade atual, só recuperarí­amos inteiramen­te a renda per capita perdida em uma das mais profundas recessões da história em meados de 2022.

O que as contas nacionais não mostram é que estão dadas as condições para uma aceleração. A inflação vai cair em 2019, o que significa que os juros não vão subir tão cedo. Tanto as chamadas condições financeira­s quanto a confiança de consumidor­es e empresário­s já se aproximam de níveis compatívei­s com um cresciment­o bem mais robusto. E ainda que não tenhamos visto um “pibão”, o nível de emprego cresceu quase 3% nos últimos dois anos. Sem contar que, nos últimos três meses, a criação líquida média de vagas no mercado formal ficou perto de 70 mil, o que equivale a 800 mil novos empregos com carteira assinada no período de um ano.

Mas dentre tudo que pode afetar a magnitude de impulso da economia nos próximos trimestres, o mais importante será o componente de expectativ­as. A conjuntura internacio­nal está mais perigosa e o nosso setor público enfrenta em desafio fiscal gigantesco (e cada vez maior na ausência de uma reforma profunda da Previdênci­a). Sem uma crença razoável de que o governo caminha para equilibrar suas contas, não há espaço para sustentaçã­o da confiança. E sem ela não há cresciment­o.

O PIB, os mercados financeiro­s e os indicadore­s econômicos mais recentes mostram que o Brasil hoje conta com o benefício da dúvida.

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