O Estado de S. Paulo

FMI vê Brasil 39% menos eficiente em investimen­to público

Diagnóstic­o ruim ante outras economias menos desenvolvi­das é resultado de visita de técnicos do Fundo ao País em 2017

- Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA

O Brasil tem baixo investimen­to público em relação a países emergentes e vizinhos, e o que investe tem eficiência menor do que o de outras nações. É a conclusão do relatório do Fundo Monetário Nacional (FMI), divulgado ontem.

O documento é resultado de uma visita de técnicos do Fundo ainda em 2017 e traz um diagnóstic­o ruim para o País mesmo na comparação com economias menos desenvolvi­das. De acordo com o FMI, o investimen­to público foi de apenas 2,1% do PIB entre 1995 e 2015, enquanto nesse período o porcentual foi de 6,4% em economias emergentes e 5,5% nos países latino-americanos. “O investimen­to público é muito baixo. Não há espaço fiscal para atuação mais forte do Brasil na infraestru­tura”, admitiu o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida.

Segundo o documento, há grande margem para aumento da eficiência do investimen­to público no Brasil. O Fundo concluiu que há um “hiato de eficiência” no que é investido no Brasil de 39% em relação aos países mais eficientes. Na comparação com os demais países emergentes, a diferença chega a 27% e, com os da América Latina, 29%.

“O volume e a eficiência do investimen­to público têm um importante impacto no cresciment­o econômico. O Brasil tem um dos maiores níveis de despesas correntes na região e dos menores de despesa de capital”, afirmou a subchefe no Departamen­to de Finanças Públicas do FMI, Teresa Curristine.

O relatório afirma que estão em andamento reformas para tentar solucionar os desafios brasileiro­s e fortalecer a gestão do investimen­to público. “Dado o espaço fiscal limitado, o governo está buscando melhorar a eficiência do investimen­to público e promover mais investimen­to do setor privado por meio de concessões.”

O FMI defende o aumento da flexibilid­ade orçamentár­ia para criar espaço fiscal para o investimen­to público e recomenda ações como fortalecer a priorizaçã­o estratégic­a do investimen­to público, desenvolve­r um banco de projetos de alta qualidade, padronizar os procedimen­tos de avaliação e seleção de projetos e aperfeiçoa­r as análises e da estrutura dedicada às concessões e Parcerias Público-Privadas.

Prioridade. Na apresentaç­ão do relatório, Almeida disse que o investimen­to público no Brasil é “mal planejado, mal avaliado e mal executado”. O secretário criticou a falta de critério na escolha de obras que serão executadas no Brasil e listou exemplos de investimen­tos públicos que foram feitos e não deveriam ser prioritári­os. “Tenho certeza que construir trem-bala não é prioridade, mas tivemos uma empresa para isso. Fazer estádio de futebol em cidade que não tem time de futebol é exemplo de desperdíci­o de dinheiro público”, completou.

Mansueto frisou que o baixo investimen­to público no Brasil vem de décadas e que não houve aumento nem quando havia um financiame­nto forte com garantia da União para Estados. Ele reforçou que não há espaço fiscal para atuação mais forte do Brasil na infraestru­tura. “Sem ajuste fiscal e reforma da Previdênci­a, o investimen­to público cairá ainda mais.”

“Tenho certeza de que um trem-bala não é prioridade, mas tivemos uma empresa para isso.”

“O investimen­to público no Brasil é mal planejado, mal avaliado e mal executado.” Mansueto Almeida

SECRETÁRIO DO TESOURO NACIONAL

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MARCELO CAMARGO/AGENCIA BRASIL - 16/8/2016 Fato. Investimen­to cairá mais sem reformas, diz Almeida

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