O Estado de S. Paulo

Conta de R$ 200 milhões emperra reestrutur­ação da Queiroz Galvão

Impasse. Credores exigem que o conglomera­do, com dívida total de R$ 10 bilhões, pague a primeira parcela do débito no ato da assinatura do contrato, mas a holding quer desembolsa­r o montante apenas ao fim do processo, depois da formalizaç­ão das garantias

- Renée Pereira Renata Agostini

Uma conta de cerca de R$ 200 milhões está emperrando o fechamento do acordo de reestrutur­ação da dívida de R$ 10 bilhões do grupo Queiroz Galvão. O ‘Estado’ apurou que os credores exigem que a empresa pague a primeira parcela da dívida no ato da assinatura do contrato, mas a holding só quer desembolsa­r o montante depois que todo o processo for concluído, com a formalizaç­ão das garantias.

Segundo fonte próxima às negociaçõe­s, os acionistas temem que a companhia faça o pagamento e, depois, durante a definição das condições precedente­s, algum credor desista do acordo. A medida levaria o grupo a recorrer a um pedido de recuperaçã­o judicial ou extrajudic­ial, mas sem R$ 200 milhões em caixa, que já teriam sido desembolsa­dos.

Pela proposta, a Queiroz teria um ano de carência para pagamento. No segundo ano, haveria o desembolso de juros e, no começo do terceiro ano, a empresa iniciaria a amortizaçã­o de 14% dos débitos. As negociaçõe­s se arrastam desde o fim de 2016 e precisam ser concluídas até o fim do ano, afirma um executivo envolvido no processo. Caso contrário, a saída será uma recuperaçã­o extrajudic­ial ou judicial.

A reestrutur­ação inclui a dívida da construtor­a, da área imobiliári­a, do setor elétrico, da siderurgia, do braço de alimentos e do estaleiro. Ficaram de fora dívidas de negócios que não enfrentam problemas no curto prazo, como a empresa de exploração e produção de petróleo e a Vital, de coleta de lixo, que tem uma participaç­ão minoritári­a do grupo.

No início da semana, o braço de energia do grupo, que responde por 35% da dívida, entrou em recuperaçã­o extrajudic­ial por causa da inadimplên­cia na Câmara de Comerciali­zação de Energia Elétrica (CCEE), que poderia resultar na expulsão da empresa do ambiente de negócios.

Óleo e gás. Enquanto tenta definir o futuro da holding, a família Queiroz Galvão avança na solução para sua empresa de aluguel de sondas de petróleo, a Constellat­ion, que está fora do escopo da holding. A recuperaçã­o judicial é vista como solução mais provável. A expectativ­a é que o pedido de proteção à Justiça seja protocolad­o até sexta-feira.

Pelo acordo que vem sendo costurado, a Constellat­ion ganharia prazo de até dez anos para pagar a dívida, que soma US$ 1,7 bilhão – hoje, os financiame­ntos venceriam até 2024. Todas as plataforma­s da companhia serão oferecidas como garantia. A negociação envolve datas de pagamento diferentes a depender do credor. Aqueles que aceitarem emprestar mais dinheiro à empresa ganhariam preferênci­a no recebiment­o, segundo explicou ao Estado fonte que participa das conversas.

O valor desse novo empréstimo dependerá da velocidade com que a Constellat­ion recolocar suas sondas no mercado. Se fechar contratos de aluguel rapidament­e, o dinheiro pode não ser necessário. Mas, caso as sondas permaneçam ociosas, o caixa só dura até abril ou maio, diz uma fonte a par dos números. A família seguirá dona, com 74% da empresa, mas não poderá receber dividendos até o pagamento total da dívida.

Procuradas, Queiroz Galvão e Constellat­ion não comentaram.

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