Nicolas, falso loiro
Ator fala do papel na novela ‘O Tempo Não Para’ e do serial killer de ‘O Segredo de Davi’
Nicolas Prattes conversa com a reportagem do Estado durante um intervalo da gravação da novela das 7. Está em deslocamento, no carro. “O dia está sendo muito intenso, por aqui. Gravei na cidade cenográfica do Projac e agora estou indo para o estúdio, que fica no mesmo local, mas é longe”, comenta o ator. Samuca vai encontrar o pai nos próximos capítulos de O Tempo Não Para. A novela está numa fase boa. “Meu personagem vai sofrer uma reviravolta e muita coisa vai se esclarecer com o surgimento do pai dele. Samuca vai pensar que está reencontrando o pai, mas ele volta por interesse, para reaver a empresa Samvita.”
Quem segue a trama de Mário Teixeira – escrita em colaboração com Bibi Da Pieve, Tarcísio Lara Puiati e Marcos Lazarini –, sabe que Samuca criou a Vitae a partir de uma fórmula de adubo incipiente criada por seu pai. Alavancou a empresa e se tornou um dos empresários mais ricos do País. “Muita coisa sobre o comportamento dele vai se esclarecer nos próximos capítulos. E, para o Samuca, vai ser um choque descobrir o golpe do pai.” A novela pegou? “Acho que sim, por toda parte onde vou tem sempre alguém para tirar onda dos ‘congelados’. E a equipe é muito legal, Estou contracenando com atores que sempre admirei.”
Edson Celulari? Rosy Campos? Christiane Torloni? Cleo? “E você acha pouco? Só estar com eles, vê-los atuando, já é um aprendizado”, ele avalia. Nicolas Prattes Bittencourt Pires, de 21 anos, começou no teatro, passou por Malhação e agora, além da novela das 7 da Globo, está nos cinemas como protagonista de O Segredo de Davi. No currículo, ostenta, a título de aprimoramento, uma passagem pela New York Film Academy em Los Angeles, nos EUA. O longa é dirigido por Diego Freitas. Passou no Mix Brasil e na sessão oficial, com direito a debate depois, o diretor segredou no ouvido do repórter – “É meu curta Sal ampliado.” Sal, de 2016, possuía um clima ambivalente. Um jovem atendia a um encontro marcado na casa de um homem mais velho. Rola uma ambiência estranha, mas não é sexo. O lance é mais pesado – antropofagia, canibalismo. O clima é de novo ambivalente em O Segredo de Davi. Prattes faz o personagem-título. Vive munido de uma câmera no ambiente escolar, na casa, na vida. Davi é um serial killer. Só isso já seria suficiente para criar o mal-estar, ou para refletir um mal-estar contemporâneo. Mas o diretor parece disposto a complicar as coisas. Um personagem morto aqui ressurge vivo numa cena adiante. Ops! Os crimes ocorrem de verdade ou são produto da imaginação de Davi? Um colega de aula vive dizendo que ele é gay – é? “Quando filmávamos, o Diego (diretor) me alertava que iam fazer essa pergunta. E dizia – ‘Responde que você não sabe, que não é o mais importante.’ Mas, sinceramente, como muita coisa no filme acho que depende da interpretação de quem vê.”
Prattes, um galã de novela da Globo, num papel de gay? Não seria o primeiro, e no mesmo horário. Em 2009, também no Mix Brasil, Festival de Cultura da Diversidade, a sensação foi o filme brasileiro de Aluizio Abranches, Do Começo ao Fim. Dois irmãos incestuosos, e filmados em cenas de homoerotismo muito fortes. Isso não impediu que um deles, Rafael Cardoso, fizesse carreira como galã e também aparecesse em papéis viris em outros filmes – Os Senhores da Guerra, de Tabajara Ruas, por exemplo. “Está vendo?” Nicolas Prattes pega carona na informação do repórter. “Como ator eu quero mais é fazer todo tipo de papel, sem me prender a uma imagem. Empresto meu corpo, mas não sou os personagens que interpreto.”
Carioca, ele filmou O Segredo de Davi em São Paulo, longe de casa, da família, dos amigos. “Para aumentar o estranhamento, fui eu que sugeri ao Diego (Freitas) que Davi fosse loiro. Me olhava no espelho e tinha dificuldade de me identificar. ‘Quem é esse cara?’ Ajudou muito na composição do personagem. Davi não é fácil de enquadrar nem definir. É preciso pensar, cara”, ele diz.
“Como ator quero mais é fazer todo tipo de papel, sem me prender a uma imagem. Empresto meu corpo, mas não sou os personagens que interpreto”