O Estado de S. Paulo

Moro faz pressão para ‘endurecer’ lei antiterror

Futuro ministro diz a deputados que País pode cair em ‘lista negra’ e sofrer sanções

- Ricardo Brandt Fausto Macedo

Futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro tem trabalhado para aprovar no Congresso, ainda em 2018, projeto de lei sobre medidas contra criminosos e empresas envolvidos com a lavagem de dinheiro e o financiame­nto do terrorismo. O objetivo é evitar que o Brasil entre para a “lista negra” de governos não engajados com a prevenção e o combate a esses crimes e sofra, assim, sanções econômicas e comerciais de países como EUA e membros da União Europeia.

Nos últimos dez dias, o exjuiz da Lava Jato divide seu tempo entre o estudos de dados do governo e a composição da equipe com a tarefa estritamen­te política de negociar com deputados e senadores a votação e aprovação do projeto de lei.

Na Câmara desde junho, a proposta altera legislação brasileira de sanções a pessoas físicas e jurídicas envolvidas com crimes de lavagem e terrorismo. Coloca ainda o regramento jurídico nacional em acordo com as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o que afastaria o risco de o Brasil ser suspenso do Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiame­nto do Terrorismo (GAFI).

Espécie de fórum intergover­namental mundial com sede da Suíça, o GAFI comunicou o Brasil em 2010 de suas deficiênci­as na adoção das resoluções a serem adotadas pelos seus integrante­s. Em junho, o País foi advertido de que o não cumpriment­o das recomendaç­ões poderia resultar em sanções, como a expulsão.

Em 2015, o governo Dilma Rousseff aprovou a lei 13.170, que adequou boa parte das leis às exigências internacio­nais para desarticul­ar o trânsito de dinheiro ilegal pelo mundo. Mas sanções decorrente­s de resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas ficaram em aberto. O projeto 10.431/2018 foi apresentad­o ao Congresso para sanar essa lacuna.

Urgência. Nomeado coordenado­r do grupo técnico de Justiça, Segurança e Combate à Corrupção do Gabinete de Transição no dia 20, Moro iniciou sem alarde os trabalhado­s nos bastidores para convencer o Congresso da importânci­a da aprovação da lei ainda este ano. No mesmo dia, a Câmara aprovou requerimen­to de urgência de plenário para o projeto.

O Estado apurou que um dos interlocut­ores de Moro foi o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Além dessa proposta, os dois conversara­m sobre outros temas polêmicos, como alterações nas leis de execução da pena.

A costura política com o Congresso envolve ainda a aprovação do projeto no Senado, sem emenda, para que não tenha de passar mais uma vez pela Câmara e a sanção pelo presidente da República. Moro tem reforçado os riscos para a economia e para os negócios no Brasil, caso o GAFI promova sanções ao País.

Se for suspenso do grupo e receber uma classifica­ção de país de alto risco ou não cooperativ­o, operações de bancos estrangeir­os poderiam ser suspensas, com o registro de fuga de recursos internacio­nais, sanções em negócios internacio­nais e aumento do prêmio do chamado risco-país, entre outras.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Congresso. Sérgio Moro trabalha para aprovar projeto de lei sobre medidas contra lavagem e financiame­nto do terrorismo

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