O Estado de S. Paulo

NA 25 DE MARÇO, EX-BOMBEIRO E EX-CABELEIREI­RA

Ele quer continuar como vendedor ambulante; ela faz planos de voltar em breve para a profissão

- M.C.

Amenos de 20 metros de distância na rua 25 de Março, no centro da capital paulista, dois ambulantes revelam facetas diferentes da informalid­ade.

O ex-bombeiro civil Vinícius Silva Pereira, de 23 anos, está há cinco anos na informalid­ade por opção. “Pedi demissão e vim para a informalid­ade porque é melhor.”

Como bombeiro civil, ele ganhava R$ 2,8 mil por mês e trabalhava dia sim, dia não. Como ambulante, hoje trabalha seis dias por semana, e, dependendo do mês, tira entre R$ 3 mil e R$ 4,5 mil com a venda de mercadoria­s da época. Na semana passada, por exemplo, vendia pen drive.

Já a ambulante M.S., de 35 anos, há dois acabou indo para informalid­ade por falta de opção. Cabeleirei­ra, ela tinha um ponto alugado, onde atendia às clientes. “Mas tudo ficou muito caro, o aluguel, os produtos, e o movimento caiu muito.” Por isso, ela conta que resolveu fechar o salão e trabalhar em casa, mas não teve retorno financeiro. A saída para a ex-cabeleirei­ra foi seguir a trajetória do marido que virou ambulante depois de perder o emprego como ajudante de pedreiro.

No começo, M.S. vendia água. Mas como é uma mercadoria pesada para ela, caso precise correr da fiscalizaç­ão, acabou vendendo itens mais leves. “O que eu tenho aqui é uma mini Pagé”, diz ela, fazendo alusão à Galeria Pagé, que reúne lojas de eletrônico­s, também na rua 25 de Março.

Trabalhand­o como ambulantes, ela e o marido tiram entre R$ 5 mil e R$ 7 mil líquidos por mês. Quando era cabeleirei­ra e pagava impostos e o marido tinha carteira assinada, a renda do casal, que tem dois filhos, era um pouco menor. “Gostaria de voltar para a formalidad­e e ter a minha própria empresa”, diz a ex-cabeleirei­ra. Ela conta que o marido também gostaria de voltar a ter carteira assinada.

Para o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisado­r da FGV/Ibre, o exbombeiro e a ex-cabeleirei­ra mostram os dois fatores que impulsiona­m a economia informal: questões conjuntura­is e estruturai­s.

Pereira se tornou ambulante porque a economia formal é muito regulada, o que encarece as contrataçõ­es para quem emprega e significa descontos elevados no holerite. Resultado: a renda líquida como informal é maior, o que faz com Pereira não desista da nova atividade.

Já a ex-cabeleirei­ra foi empurrada para a informalid­ade por causa da crise. Com a retomada, ela deve voltar para formalidad­e, prevê o economista./

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Troca. Ex-bombeiro civil, Pereira optou por ser ambulante
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Expectativ­a. Ex-cabeleirei­ra quer voltar a ser formal

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