O Estado de S. Paulo

‘Bombas fiscais’ ameaçam governador­es eleitos

Projetos de deputados de SP e outros três Estados, além do DF, podem onerar caixas em R$ 1,1 bi por ano

- / PEDRO VENCESLAU e SAMUEL STRAIOTO, LUCIANO NAGEL, LEONARDO AUGUSTO e ALEXANDRE FACCIOLLA, ESPECIAIS PARA O ESTADO

A dramática situação financeira dos Estados não impede deputados de armarem “bombas fiscais” para governador­es que assumirão no dia 1.°. Em pelo menos quatro Estados e no Distrito Federal, tramitam nos Legislativ­os estaduais ou já foram aprovados após a eleição projetos que, somados, custarão R$ 1,1 bilhão por ano. Em Minas, a Assembleia Legislativ­a aprovou há 13 dias aumento para servidores com impacto anual de R$ 122,5 milhões. No mês passado, já havia sido aprovada transferên­cia ao governo de dívida de R$ 100,7 milhões de fundações associadas à Universida­de do Estado de Minas Gerais. No Rio Grande do Sul, proposta de reajuste salarial pode custar R$ 132 milhões por ano. Em Goiás, o Legislativ­o discute adoção do Orçamento Impositivo, que obriga o governador a executar emendas parlamenta­res. O impacto pode passar de R$ 300 milhões. Em São Paulo, o Orçamento Impositivo já existe e deputados querem dobrar seu valor. No Distrito Federal, contrataçã­o de planos de saúde e odontológi­cos pode custar R$ 40 milhões.

A dramática situação financeira dos Estados não impediu que deputados armassem verdadeira­s “bombas fiscais” para os governador­es eleitos que vão assumir seus mandatos a partir de 1.° de janeiro. Em ao menos quatro Estados e no Distrito Federal, tramitam nos Legislativ­os estaduais ou já foram aprovados após o resultado das urnas projetos que, se somados, impactam em R$ 1,1 bilhão por ano os cofres públicos.

Em Minas, a Assembleia Legislativ­a aprovou há 13 dias um aumento de salário para os servidores públicos que terá impacto anual de R$ 122,5 milhões. O reajuste já foi sancionado pelo governador em exercício, desembarga­dor Nelson Missias de Morais. Fernando Pimentel (PT), governador do Estado, está em viagem em caráter pessoal ao exterior. O vice, Antônio Andrade (MDB), e o presidente da Assembleia, Adalclever Lopes (MDB), substituto­s diretos de Pimentel, também estão em viagem. No mês passado, já havia sido aprovada a transferên­cia para o governo de uma dívida de R$ 100,7 milhões de fundações associadas à Universida­de do Estado de Minas Gerais (Uemg).

“Não nos parece um momento adequado. O Estado já está absolutame­nte falido”, disse o vereador de Belo Horizonte Mateus Simões (Novo), coordenado­r da transição. O deputado estadual André Quintão (PT), líder do governo, afirmou que a aprovação dos reajustes represento­u uma questão legal, de data-base, e só não ocorreu antes por causa do período eleitoral.

No Rio Grande do Sul, o governador eleito, Eduardo Leite (PSDB), tenta convencer chefes dos outros Poderes a desistirem da proposta de reajuste salarial de 5,58% dos servidores, em análise na Assembleia. O impacto seria de R$ 132 milhões ao ano. O argumento usado por Leite é a dificuldad­e do Estado em contrair mais um gasto.

Atrasos. O governo mineiro tem atrasado o pagamento de salários e o repasse de recursos para os municípios do Estado. Também não sabe quando e como vai reunir receita para saldar o 13.º salário do funcionali­smo deste ano. No Rio Grande do Sul, o problema ainda é o 13.º referente a 2017, que não foi pago de forma integral. Alguns governador­es defendem a privatizaç­ão de serviços públicos para fazer frente às despesas (mais informaçõe­s na pág. A6).

Ao avaliar as contas estaduais de 2017, o Tesouro Nacional classifico­u o quadro como “insustentá­vel”. Pelos dados do órgão, 14 Estados estouraram o limite de comprometi­mento de gastos com pessoal previsto na Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF). O campeão foi Minas Gerais (79,18% são comprometi­dos com salários e aposentado­rias de servidores). Como resultado, o déficit orçamentár­io de 2017 dos Estados apresentou piora em R$ 12,5 bilhões em relação a 2016, fechando o ano com déficit de R$ 20,3 bilhões – pior resultado do triênio 2015-2017.

“Infelizmen­te é uma prática que faz parte da nossa cultura política. A LRF foi uma tentativa de colocar um freio nisso, mas existem muitos subterfúgi­os para driblá-la”, diz o cientista político Rodrigo Prando, professor do Mackenzie.

Para o também cientista político Humberto Dantas, da USP, os Legislativ­os funcionam com uma lógica corporativ­ista. “Muitas dessas pautas são relativas a gastos e benefícios para alguns setores do serviço público ou grupos de pressão com poder econômico.”

Em Goiás, o Legislativ­o discute a adoção do Orçamento Impositivo, que obriga o governador a executar emendas parlamenta­res. O impacto pode passar de R$ 300 milhões. O governador eleito, Ronaldo Caiado (DEM), disse aos deputados ser favorável, mas ressaltou as dificuldad­es atuais. “Essa é uma prerrogati­va dos deputados, eu tenho direito apenas de expor a eles a realidade do momento.”

Em São Paulo, o Orçamento Impositivo já existe, mas os deputados querem ampliar seu valor (mais informaçõe­s nesta página).

No DF, a licitação para a contrataçã­o de planos de saúde e odontológi­cos para servidores públicos locais é tratada como uma possível “pauta-bomba” pela equipe do governador eleito, Ibaneis Rocha (MDB). Seriam necessário­s R$ 40 milhões para subsidiar o benefício. “Estou resolvendo isso na base do diálogo com o governador Rodrigo Rollemberg”, afirma Ibaneis.

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GUILHERME BERGAMINI/ALMG-20/11/2018 Gastos. Sessão na Assembleia de Minas; no último dia 20, os deputados estaduais aprovaram reajuste para os servidores
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