O Estado de S. Paulo

França estuda decretar estado de emergência

Paris em chamas. Presidente francês tenta conter violência de manifestan­tes irritados com aumento do preço dos combustíve­is, mas tem dificuldad­es para encontrar interlocut­ores no movimento dos ‘coletes amarelos’, um grupo difuso e sem liderança clara

- CLIMA DE GUERRA PARIS

Após protestos contra o aumento de combustíve­is se espalharem pela França e deixarem pelo menos 263 feridos e 378 presos, o presidente Emmanuel Macron acusou manifestan­tes violentos de quererem apenas o “caos” e não descartou a possibilid­ade de decretar estado de emergência para evitar nova onda de quebraqueb­ra.

O presidente da França, Emmanuel Macron, comandou ontem uma reunião de seu gabinete para tentar conter a onda de protestos que há três semanas se espalhou pela França. Após o encontro, Macron não descartou decretar estado de emergência, regime de exceção que reforça os poderes da polícia, da Justiça e do Ministério Público – o mesmo decretado após os atentados de novembro de 2015.

A “rebelião dos coletes amarelos”, como ficou conhecido o movimento, protesta contra o aumento do preço dos combustíve­is. No sábado, os manifestan­tes transforma­ram as ruas de Paris em praça de guerra. O quebra-quebra ocorreu em meio aos mais conhecidos cartões postais da capital.

Os manifestan­tes viraram carros, montaram barricadas, queimaram latas de lixo e quebraram vitrines de lojas e agências bancárias. Para dispersar os protestos, a polícia lançou bombas de gás lacrimogên­eo e jatos d’água. O Arco do Triunfo foi tomado por uma nuvem de fumaça.

Imagens de TV mostraram o interior do Arco do Triunfo sendo saqueado, a estátua de Marianne, símbolo da república

francesa, destruída, e pichações no lado de fora do monumento com slogans anticapita­listas e pedidos de renúncia de Macron.

Os protestos já são considerad­os os mais violentos das últimas décadas. Um total de 136 mil pessoas participar­am de manifestaç­ões em toda a França. A violência deixou 263 feridos, sendo 133 na capital, e 378 pessoas foram detidas, segundo balanço oficial divulgado ontem.

Para piorar o quadro, Macron estava em Buenos Aires, participan­do da cúpula do G-20, de onde tentou demonstrar que tem o controle da situação. “Os responsáve­is por essa violência querem o caos. Eles traem as causas que afirmam servir. Eles serão identifica­dos e responsabi­lizados pelas suas ações na Justiça. Respeitare­i sempre as contestaçõ­es e a oposição, mas nunca aceitarei a violência”, disse o presidente.

Os manifestan­tes protestam contra o aumento no preço dos combustíve­is e a perda de poder aquisitivo da população. O movimento, que começou no dia 17 de novembro, adotou como símbolo o “colete amarelo”, que é uma peça usada para que os motoristas fiquem mais visíveis em caso de emergência­s em estradas.

Diálogo. Ontem, Macron ordenou ao primeiro-ministro, Édouard Philippe, que mantenha diálogo com líderes políticos e manifestan­tes para tentar estancar a onda de protestos. O problema é que o movimento não tem uma liderança clara e se organiza por meio das redes sociais, estando desvincula­do de qualquer comando político ou sindical.

Philippe até que tentou. Depois de disparar vários telefonema­s – não se sabe exatamente para quem –, o primeiro-ministro marcou uma reunião com líderes dos “coletes amarelos” para sexta-feira na residência oficial de Matignon. Foi um fiasco. Apenas dois representa­ntes apareceram.

Após os episódios de sábado, algumas vozes do governo sugeriram mudanças. “Pecamos por estarmos muito distantes da realidade dos franceses”, declarou Stephane Guerini, novo líder do partido de Macron, LREM (“A República em Marcha”).

O ministro do Interior, Christophe Castaner, reconheceu que o governo errou ao não discutir mais a necessidad­e de abandonar o petróleo, já que a revolta ocorreu em razão de um imposto sobre combustíve­l destinado a financiar a transição ecológica. Na reunião de ontem com Macron, Castaner foi incumbido de fazer “adaptações” nos procedimen­tos de segurança e preparar a polícia para futuros protestos.

Segundo o presidente, os distúrbios “nada têm a ver com a expressão do descontent­amento legítimo dos coletes amarelos”, mas estaria infiltrado por militares de extrema direita e extrema esquerda, bem como jovens dos subúrbios e anarquista­s.

 ?? DKAMIL ZIHNIOGLU/AP ?? Dia seguinte. Mulher caminha em meio ao que sobrou das barricadas montadas pela polícia perto do Arco do Triunfo
DKAMIL ZIHNIOGLU/AP Dia seguinte. Mulher caminha em meio ao que sobrou das barricadas montadas pela polícia perto do Arco do Triunfo
 ?? THIBAULT CAMUS/AP-1/12/2018 ?? 1. Macron observa os danos causados após manifestaç­ões dos ‘coletes amarelos’ 2. Mensagem escrita no Arco do Triunfo pede a renúncia de Emmanuel Macron 3. Manifestan­tes colocam fogo em cercas de madeira na capital francesa
THIBAULT CAMUS/AP-1/12/2018 1. Macron observa os danos causados após manifestaç­ões dos ‘coletes amarelos’ 2. Mensagem escrita no Arco do Triunfo pede a renúncia de Emmanuel Macron 3. Manifestan­tes colocam fogo em cercas de madeira na capital francesa
 ?? ETIENNE LAURENT/EFE ?? 1. 3.
ETIENNE LAURENT/EFE 1. 3.
 ?? STEPHANE MAHE/ REUTERS ?? 2.
STEPHANE MAHE/ REUTERS 2.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil